Duas agências do banco Itaú em Barão Geraldo, uma na avenida Santa Isabel, e outra na rua Benedito Alves Aranha, foram alvo de escracho por jovens esta semana. As agências foram pichadas e receberam cartazes em que mostravam uma agenda de 2014 que a empresa publicou para presentear clientes com apoio ao Golpe de 64.
Na agenda, o Golpe de 64, que legitimou o assassinato e a tortura é chamado de “revolução”, o que gerou muita repercussão recentemente.
O escracho ao banco foi promovido pelos Jovens do movimento Levante Popular da Juventude da cidade de Campinas/SP, como forma de denunciar a relação conivente e de apoio do Banco Itau com a ditadura civil-militar.
Diz a página do grupo: “Para nos, militantes do levante popular da juventude, a atitude tomada em 31 de marco de 1964 não e digna de chamar-se revolução, e sim denunciada por um processo antidemocrático no qual um presidente eleito foi deposto em um golpe militar. Esperamos que o Banco Itau retrate-se perante a sociedade brasileira aproveitando o momento histórico de 50 anos do golpe militar, e posicione-se contra a impunidade, revendo a Lei de Anistia da período da ditadura militar.”
O jornalista Mario Magalhães, do Uol, fez duras críticas à agenda do Itau: “Não constitui novidade histórica a intensa participação dos banqueiros e seus bancos privados no golpe de Estado que depôs em 1964 o presidente constitucional João Goulart. Nem o financiamento do aparato repressivo de tortura, morte e desaparecimentos forçados, por parcela expressiva de donos de instituições financeiras, nas décadas de 1960 e 70. O que é incrível, a julgar pela agenda 2014 distribuída pelo Itaú a clientes, é que o tempo pareça ter congelado. No dia 31 de março, a agenda registra o “aniversário da revolução de 1964″…
…Como reconhecem as consciências dignas, não houve uma “revolução” meio século atrás, e sim um golpe desferido com as armas da sociedade golpista entre segmentos militares e civis, como os banqueiros (alguns viraram ministros). “Revolução”, em referência à instauração da ditadura, é palavra consagrada na boca de marechais e generais como Castello Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo, os presidentes-ditadores do ciclo encerrado em 1985. Quem falava “revolução” eram torturadores como o delegado Fleury, o policial Borer e o então major Ustra _este, vivo, fala até hoje. A agenda do Itaú também reproduz a data da versão golpista, 31 de março, mas Goulart ainda estava no Palácio Laranjeiras no começo da tarde de 1º de abril. O golpe foi mesmo em 1º de abril, o dia da mentira _os golpistas diziam salvar a democracia”.
O Banco Itaú se pronunciou, mas não foi muito convincente. Disse apenas que é apartidário, o que significa que para o banco a discussão é partido político e não de valores democráticos. Apartidário pode significar que tanto faz ditadura ou democracia. Veja a resposta enviada ao blog do Mario Magalhães: “O Itaú Unibanco informa que a agenda distribuída aos clientes conta com informações sobre datas relevantes ao longo do ano. O banco é apartidário e, em hipótese alguma, pretende defender uma posição política no conteúdo entregue aos correntistas”. (Carta Campinas)
Os militares golpistas de 1961 e 1964, em obediência cega à doutrina da “guerra fria” de Washington e açulados por alguns segmentos radicais de direita da sociedade civil não passaram de macacos de realejo do governo americano e infligiram grande sofrimento ao povo brasileiro, a pretexto de salvá-lo do “perigo vermelho”. Desonraram a farda e as instituições (Exército, Marinha e Aeronáutica) às quais juraram servir. Temos uma tênue esperança de que essa tendência golpista que sempre permeou nossas forças armadas tenha desaparecido, a despeito de algumas manifestações das viúvas da ditadura militar que vez em quando ainda insistem em se manifestar. Não há o que comemorar, apenas o que lamentar.