Em praticamente todas as pontas do planeta, a política de combate às drogas com a criminalização e ação policial resultou num retumbante fracasso. No Brasil são milhões de reais jogados no ralo do combate às drogas.
A última notícia que reafirma o retumbante fracasso saiu há uma semana e aponta que o consumo de cocaína no Brasil mais do que dobrou nos últimos dez anos. Esses números são do relatório do Conselho Internacional de Controle de Narcóticos, entidade ligada à Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo o documento, 0,7% da população entre 12 e 65 anos consumiam o entorpecente em 2005. Já em 2011, esse número atingiu 1,75% da população.
Ou seja, a sociedade brasileira paga bilhões de reais para combater o consumo de drogas via polícia e o consumo só aumenta. Além disso, está instaurada uma verdadeira guerra civil entre traficantes e traficantes, entre traficantes e milícias e entre traficantes e policiais.
Dois fatos são símbolos desse fracasso. O sumiço de uma caminhão de cocaína de dentro de uma delegacia de Campinas (SP) há alguns anos e a apreensão de um helicóptero que carregava 500 quilos de cocaína com o combustível pago com dinheiro do contribuinte no final do ano passado. O helicóptero pertencia a um deputado do PSDB de Minas Gerais.
O efeito colateral disso tudo é uma enorme população carcerária, em torno de 700 mil presidiários que, por meio de organizações criminosas, tendem a criar uma nova cultura social, que opõe Estado e populações excluídas.
Policiais estão diante de ações de guerra contra o tráfico e atuando em uma situação de guerra; não há leis em uma situação de guerra. Problemas do cidadão comum como assaltos à residência, furtos, roubos e outros delitos tornam-se perfumaria para a polícia diante da guerra que enfrentam todos os dias. Ao enfrentar o tráfico, não sobra tempo e nem condição psicológica para a polícia atender plenamente a população. É o caos que vivemos nas grandes cidades. Será que não há outra maneira mais inteligente para combater o tráfico e o consumo de drogas?
A situação é tão absurda que a ONU já admite descriminalizar as drogas, segundo notícia da agência EFE.
É muito difícil aceitar que drogas sempre existiram e isso independe de princípios morais. É muito difícil aceitar que o ser humano é dono de suas escolhas. É muito difícil não ser hipócrita numa sociedade hipócrita. É muito difícil entender que sob a maquiagem da proibição estão encobertos os maiores esforços em se manter a situação de guerra, injustiça e alienação que oprime o povo e satisfaz a alguns poucos interessados.