Sem o uso da violência que implica a ação da força policial no combate ao usuário de droga, a prefeitura de São Paulo anunciou que o consumo de crack entre os beneficiários do programa “De Braços Abertos” foi reduzido, em média, de 50% a 70% de acordo com informações das equipes municipais de Saúde.
Essa é uma grande novidade para outras cidades, visto que toda a ação e o investimento de bilhões de reais nas últimas décadas com o uso da força policial no combate ao usuário de droga não deram resultados. Pelo contrário, gasta-se mais e mais com a guerra ao tráfico e a cada dia aumenta o número de usuários de drogas.
O modelo da gestão do prefeito Fernando Haddad (PT), caso dê certo, pode ser implantado em cidades do interior de São Paulo, como Campinas e região, que também enfrentam o problema do crack.
De acordo com a prefeitura de São Paulo, a redução se dá como consequência do resgate social e da inserção de atividades que organizam uma rotina diária, limitando assim o uso compulsivo da droga ao longo do dia, hábito que os inabilitava para outras atividades, inclusive cuidados próprios com saúde, alimentação e higiene. De uma média inicial de 10 a 15 pedras por dia, o consumo passou à média de cinco pedras diárias, concentrado no período noturno, segundo os relatos.
“É difícil encontrar alguém que não tenha no mínimo reduzido drasticamente o consumo. O esforço das pessoas é notável. Elas estão percebendo que tem ali uma oportunidade concreta de superação”, afirmou o prefeito Fernando Haddad, em coletiva realizada nesta sexta-feira (14). “Tem gente que está há 30 dias sem consumir. Ainda assim é óbvio que a gente tem toda a compreensão de que quem rompeu está sujeito a recaídas. Justamente por isso o acompanhamento é permanente”, disse Haddad.
Desde o início das ações do programa, em 14 de janeiro, foram realizadas mais de 3 mil abordagens e 355 atendimentos médicos. Neste período, 149 pessoas iniciaram tratamento de saúde com vistas à desintoxicação. De acordo com as equipes de acompanhamento, 89% dos 386 participantes cadastrados têm conseguido manter frequência regular nas frentes de trabalho. As faltas ocorrem, geralmente, por motivo de recaídas à doença, exaustão física ou turbulências na vida social dos beneficiários.
Para tentar compreender eventuais faltas, as secretarias de Assistência Social e de Saúde têm trabalhado em conjunto na construção de programas individuais de acompanhamento. Diante da ausência dos beneficiários, seja nas frentes de trabalhos ou no curso de capacitação, duplas formadas por profissionais das duas áreas saem à procura deles pelos hotéis e ruas da região. “Está acontecendo uma busca ativa. Estamos tentando identificar cada caso. Sabendo porquê determinada pessoa não foi, conseguimos definir o que é preciso fazer para que ela volte a aderir ao programa “, disse Luciana Temer, secretária municipal de Assistência e Desenvolvimento Social.
A partir da próxima semana, a Prefeitura manterá as equipes que atuam no local até as 22 horas – atualmente, a tenda do programa, na rua Helvétia, funciona até as 17h. O espaço servirá como uma opção de lazer e acompanhamento aos beneficiários.
O secretário municipal de Segurança Urbana, Roberto Porto, citou melhorias de iluminação, principalmente na praça Sagrado Coração de Jesus. “É importante que ela (a praça) seja um lugar seguro para que as pessoas possam frequentar, principalmente à noite. Estamos criando, estamos colocando uma presença maior do Estado no lugar para que elas tenham alternativas saudáveis para poder ocupar o tempo”, afirmou o secretário.
O programa prevê ainda a criação, em até 40 dias, de 80 vagas em uma nova frente de trabalho, onde os beneficiários atuarão em atividades de jardinagem e horta comunitária – atualmente, as frentes de trabalho atuam na varrição de vias da região e alguns dos integrantes trabalham na administração municipal.
O trabalho de jardinagem consistirá em um curso de capacitação prática cuja duração será de 160 horas. A escolha dos integrantes se dará com base na aptidão dos participantes, a partir do diagnóstico dos programas individuais de acompanhamento.
A Prefeitura ampliará, ainda, o perímetro de varrição onde hoje atuam os beneficiários. “Nós entendemos que é preciso que eles estabeleçam vínculos com outros territórios da cidade e não fiquem aprisionados naquele quadrilátero. Essa é uma maneira também de facilitar a emancipação dessas pessoas da sua condição atual”, afirmou o prefeito Fernando Haddad.
A administração municipal também iniciará o atendimento odontológico gratuito na região da Luz. Uma equipe especializada em saúde bucal, composta por um dentista, um auxiliar e um técnico atenderão os beneficiários do programa e, também, pessoas do chamado fluxo, de segunda à sexta-feira.
No setor de segurança, com a parceria entre a Polícia Militar e a Guarda Civil Metropolitana, já foram detidos 25 suspeitos de tráfico e apreendidas mais de 4 mil pedras de crack que seriam distribuídas na região. Uma das metas do “Braços Abertos” visa separar ou distinguir os usuários dos traficantes, o que permite uma ação mais efetiva da polícia e das equipes de assistência e saúde.
Iniciado no dia 14 de janeiro, o programa atende atualmente 386 beneficiários que viviam em barracas e nas ruas da região da Cracolândia, no Centro, oferecendo vagas em hotéis, três refeições diárias, participação em uma frente de trabalho, duas horas de capacitação e renda de R$ 15 por dia. (Carta Campinas com informações de divulgação)