O ator e diretor de cinema argentino Ricardo Darín, em entrevista concedida ao apresentador de televisão argentino Alejandro Fantino, diante da incapacidade do entrevistador de formular boas perguntas e entender posturas e posicionamentos ideológicos que vão além do interesse de mercado e das futilidades do cinema hollywoodiano, oferece respostas críticas e contundentes, oportunas para pensar nossa sociedade atual, nossos modelos e nossos valores cada vez mais pautados pela lógica vazia e “de plástico” da barbárie capitalista.
Darín não deixa de colocar uma dose de ironia em sua entrevista que, aliás, cai muito bem diante do tipo de perguntas que lhes são formuladas e juízos de valor construídos a seu respeito.
Um dos pontos polêmicos da entrevista começa quando Fantino pergunta ao ator o porquê de ter recusado um proposta para filmar em Hollywood com o diretor Tarantino. Darín imediatamente responde que não estava disposto a ser mais um a encenar o mesmo papel de “narco mexicano”, já que os maiores consumidores de drogas são os próprios americanos. O entrevistador não entende o porque da recusa, e imediatamente considera ter sido uma questão de dinheiro, reforçando o que já dissera o autor da oferta do papel a Darín.
“Quer dizer, não podem chegar a ver nem a compreender que há códigos além do dinheiro que, alguns, no entanto, ainda possuem”, diz o ator.
Mas o entrevistador não se convence, continua insistindo:
Você podia ter conseguido mais dinheiro?
Mais dinheiro, ser milionário, e para quê?, diz Darín.
Como para quê? Para ser feliz?
Feliz com mais dinheiro? Do que você me fala?
A esse diálogo profundamente revelador de como se pautam nossos valores, Darín acrescenta uma reflexão sobre o seu modo bastante privilegiado de vida, no qual ele pode tomar dois banhos quentes por dia em uma realidade onde poucos têm este privilégio. “Neste mundo capitalista selvagem, eu sou um tipo de muita sorte, um privilegiado entre milhões de pessoas e tenho a sorte de poder ver isso em mim, o que me permite ter uma boa conta bancária, mas não queimá-la”.
O entrevistador ainda insiste e diz que o ator já havia filmado em Hollywood e que de Tarantino ao Oscar é apenas um passo. Ao que Darín simplesmente responde dizendo que participou de uma cerimônia do Oscar, desfrutou o que ela oferecia, mas não gostou de nada, pois tudo era de “plástico dourado, inclusive a relação entre as pessoas”, e ainda completa, “esse mundo não é o meu, não é o que eu elegi nesta vida”.
O final da entrevista, que mais parece uma fábula dos tempos contemporâneos de “horrores” capitalistas, é saboroso em sua ironia inteligente e crítica:
Diz Fantino: Realmente me assusta, Ricardo, pensava que fosse mais realista, com os pés no chão.
Olha que casualidade, eu pensava o mesmo de você, completa o ator. (Da Rede Carta Campinas)
Veja o vídeo com a entrevista completa: