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Investigação diz que ditador Pinochet, admirado por Bolsonaro, fornecia éter para narcotraficantes

(foto museo de la buena memoria – pd)

Os filhos do ditador sanguinário de extrema direita, Augusto Pinochet, do Chile, que já foi reverenciado pelo ex-presidente e agora inelegível Jair Bolsonaro (PL), estão ligados a personagem traficante de drogas e de armas. O próprio governo dos militares de extrema direita durante a ditadura teriam fornecido insumos para fabricação de cocaína.

Reportagem da Nicolás Sepúlveda e Benjamín Miranda para a Agência Pública mostra que além dos filhos de Pinochet, havia também na sociedade com os narcotraficantes um assessor que integrava o círculo mais íntimo da família do ditador, alguns dirigentes da Diretoria de Inteligência Nacional (DINA) — a polícia política do regime chileno — e da Central Nacional de Informações (CNI), além do irmão de um dos fundadores do partido de direita União Democrática Independente (UDI).

Segundo a reportagem, até hoje, os filhos de Pinochet sempre negaram sua participação na empresa de Edgardo Bathich, a Focus Chile. “Entre os controladores da empresa — que montava caminhões com peças de segunda mão importadas da Europa —, figurava o maior narcotraficante até então na Espanha, Firmino Tavares, que foi condenado em 2001 por tentativa de lavar mais de 20 milhões de dólares provenientes do narcotráfico; e os Ochoa Galvis, uma família colombiana investigada pela DEA (órgão federal de repressão e controle de narcóticos dos Estados Unidos) por tráfico de cocaína e lavagem de dinheiro. Fora isso, o capital investido por Bathich na empresa veio de Mohamed Khashoggi, filho de Adnan Khashoggi, o maior traficante de armas da época, considerado o homem mais rico do mundo na década de 1980”.

Coincidentemente, durante a passagem de Bolsonaro pela presidência, um militar da comitiva presidencial foi preso tentando entrar com quase 40 kg de cocaína na Espanha.

Anotam também que Bathich não só era o representante dos interesses de Khashoggi no Chile como também tinha parentesco com Monzer Al Kassar, outro protagonista do comércio ilegal de armas no final da guerra fria. Mas eles não foram as únicas pessoas ligadas ao regime militar a participar dessa história. Também teve um papel Ambrosio Rodríguez, o advogado de confiança de Augusto Pinochet e Lucía Hiriart, que exerceu a função de Procurador da República, cargo que o ditador criou.

“Um advogado do escritório de Rodríguez, bem próximo de Pinochet, abriu empresas para narcotraficantes que depois foram processados criminalmente no Chile e na Europa. Mas o fato mais relevante é que Rodríguez contava com a confiança total dos traficantes que controlavam a Focus, a ponto de ser designado por eles como mediador em um acordo assinado em Ibiza, na Espanha, quando os “investidores”, já investigados pela Justiça, tiveram desentendimentos no momento de repartir o patrimônio da companhia.

“A Justiça nunca investigou a fundo esses investimentos, nem os vínculos dos Pinochet Hiriart com narcotráfico. Quem chegou mais perto disso foi o juiz Sergio Muñoz, quando estava no comando do Caso Riggs. No processo, há um anexo contendo um relatório secreto do DEA, ao qual CIPER teve acesso, que menciona os filhos de Pinochet. No mesmo anexo, há evidências que indicam que, durante a ditadura, o Complexo Químico do Exército vendeu éter — usado para refinar cocaína — para narcotraficantes. O relatório confidencial do DEA oferece indícios das conexões dos Pinochet com narcotraficantes. O documento afirma, por exemplo, que Augusto Pinochet Ugarte autorizou um contrabando de cocaína para os Estados Unidos em 1975. O relatório também traz o depoimento de Ivan Frankell Baramdyka, um narcotraficante norte americano que chegou ao Chile em 1985 sob a identidade falsa de Trinidad Moreno e que criou uma empresa pesqueira em sociedade com um ex-funcionário do Consulado do Chile em Los Angeles, na Califórnia. Não se trata de um narcotraficante qualquer. Em um processo judicial nos Estados Unidos, ele foi acusado de traficar 1.500 quilos de cocaína do México para o país. Em depoimentos judiciais e entrevistas à imprensa, Baramdyka afirmou fazer parte de uma rede de narcotráfico na qual estava envolvido também um dos filhos de Pinochet e altos oficiais das Forças Armadas chilenas.” (Veja reportagem completa aqui)

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