A ação vingativa da PM no Guarujá, fazendo justiça com as próprias armas, em uma comunidade no Guarujá, em SP, mostra que existe uma rachadura no Estado Democrático de Direito provocada pela extrema direita. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que apoiou, autorizou e disse estar satisfeito com a ação que resultou no assassinato de 8 a 10 pessoas sem julgamento, é de uma gravidade civilizatória intolerável. E mostra também que a PM agiu ao arrepio da lei, segundo relatos de moradores e do que se apurou até o momento. A extrema direita brasileira transforma os policiais, que deveriam usar armas somente em situações de defesa e prevenção, em assassinos para manter o nível de desigualdade social e econômica. Os soldados podem se sentir satisfeitos com ação, mas isso não vai impedir que mais PMs se transformem em vítimas de criminosos (e da extrema direita) se o Brasil mantiver esse nível de desigualdade social.
Da RBA – Governador enalteceu ação violenta. Para o deputado estadual Eduardo Suplicy, “é gravíssimo” o que ocorreu no litoral paulista. “Uma operação policial não pode se vangloriar em contar corpos. A polícia não pode trocar justiça por vingança”
Neste fim de semana, segundo a Ouvidoria da Polícia, ao menos oito pessoas foram mortas em operação da PM montada em Guarujá, cidade da Baixada Santista, na última sexta (28), após o assassinato do soldado da Rota Patrick Bastos Reis. Ele foi morto na noite de quinta (27), enquanto patrulhava uma área próxima à comunidade da Vila Zilda.
O número de mortos, porém, foi contestado pelo governador. Ele afirmou hoje que oito pessoas morreram ao longo do fim de semana. E que outras 10 foram presas.
“É gravíssimo o que ocorreu no Guarujá. Uma operação policial não pode se vangloriar em contar corpos. A polícia não pode trocar justiça por vingança. Ontem recebi relatos sobre laudos de óbito que apontam sinais de tortura. Estarei atento às investigações”, disse hoje o deputado estadual Eduardo Suplicy (PT).
Testemunhas relatam gritos de morador torturado e morto
Segundo relatos de moradores, o primeiro morto na operação teria sido o vendedor ambulante Felipe Vieira Nunes, de 30 anos, com nove tiros. Ele teria sido encontrado pela sua família com um corte no braço, queimaduras de cigarro e um ferimento na cabeça. Testemunhas disseram ter ouvido gritos durante a prática de tortura. E que Nunes gritava pedindo para não morrer. Em seguida, o corpo do vendedor foi jogado no porta-malas de uma viatura da PM, segundo testemunhas.
De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, Nunes teria dito à família que sairia de casa. Isso porque circulava um aviso de que a polícia faria uma varredura na comunidade e que pelo menos 60 pessoas com passagem pela polícia ou com tatuagem seriam mortos. O vendedor já havia sido detido por roubo, mas havia deixado a criminalidade, segundo testemunhas.
Um dos suspeitos da morte do policial, Erickson David da Silva, 28 anos, foi preso ontem (30). Levado a um pronto-socorro na região, não resistiu. Outro policial foi baleado na mão esquerda e encaminhado a um hospital.
Em entrevista à GloboNews no domingo, o ouvidor Claudio Aparecido da Silva disse que estão sendo investigadas outras duas mortes. E que a Ouvidoria pedirá as imagens das câmeras dos uniformes dos policiais envolvidos para averiguar se houve alguma ação ilegal por parte dos agentes.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP) negou que tenha havio abuso policial. E afirmou que todas as denúncias serão investigadas. A Operação Escudo deve durar um mês. Policiais dos 15 batalhões de operações especiais do Estado estão envolvidas, o que totaliza 3 mil agentes e pelotões de Choque e do efetivo local. (Por Cida de Oliveira – RBA)