.Por Eduardo de Paula Barreto.
Jesus Cristo decidiu
Preparar a segunda vinda
Então como mortal ressurgiu
Numa favela em Olinda
Tinha a pele cor nanquim
E sua cabeleira pixaim
Formava mil caracóis
Que ficavam espremidos
No capacete colorido
Que usava como motoboy.
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Ele deixou a sua família
E saiu viajando pelo Brasil
Instalou-se em Brasília
Para ver se o povo evoluiu
Ou se ainda era primitivo
Como no tempo do martírio
Do qual havia sido vítima
Então seguiu as multidões
Que faziam manifestações
Com várias pautas golpistas.
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Ele teve tristes lembranças
Quando as pessoas aos milhares
Exigiram que a governança
Fosse delegada aos militares
Porque resgatou da memória
Fatos da recente história
Em que ao invés de madeiros
Usavam paus de arara
Para torturar quem tentava
Libertar os brasileiros.
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Lembrou-se daquele chicote
Ferindo as suas costas
Quando alguém gritou: Negrote
Não queremos o sistema de cotas
E sentiu o vinagre na boca
Ao ouvir que em arrobas
Tinha o seu peso medido
E quando pessoas de amarelo
Criticaram os seus cabelos
Ele sentiu a coroa de espinhos.
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Ele bebeu novamente do cálice
Quando defendendo a inclusão
Ouviu alguém gritar: Cale-se
Fazendo arminha com a mão
E ao abraçar sujos mendigos
Foi considerado indigno
De integrar o grupo seleto
Isso despertou em sua alma
A dor que sentiu nas palmas
Quando elas receberam pregos.
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Ao ver as multidões orando
Pedindo a intervenção divina
Para manter no poder um tirano
Ele sentiu uma lâmina fina
Transpassando o seu corpo
Como no passado remoto
Quando o feriram no abdome
Então deixou os extremistas
Para levar ideias progressistas
A outras mulheres e homens.
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Aquelas pessoas que tinham
Espírito justo e humanista
E que por isso recebiam
O estigma de comunistas
Viram nele um novo guia
Por causa da sabedoria
Que de sua boca emanava
E seguiram como peregrinos
O pobre preto nordestino
Para ouvirem suas palavras.
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Ao ser considerado uma ameaça
Pelos raivosos cidadãos de bem
Ele foi exposto numa praça
Como acontecera em Jerusalém
E viu os soldados romanos
Nos olhos dos milicianos
Que lhe aplicaram torturas
Até que não mais suportou
E o seu corpo no solo deixou
Para enfim retornar às alturas.
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Sentado no seu trono eterno
Jesus decidiu que só voltará
Quando o amor do evangelho
Em rotina se transformar
E não mais for corriqueiro
O comportamento traiçoeiro
Porque traição é dor tão aguda
Que quando fere o seu peito
O faz recordar-se do beijo
Que recebeu de Judas.
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04/12/2022
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