Depois dos inúmeros escândalos revelados pela CPI da Covid, que produziu quase 700 mil mortes pela doença no Brasil e do retorno da miséria e da fome em grande escala no país, a imagem de crianças indígenas desnutridas e doentes é a face perversa escondida sob o manto de fake news do governo de extrema direita de Jair Bolsonaro (PL). O governo Bolsonaro agravou e produziu uma crise humanitária em menos de 4 anos de indi-gestão social.
Reportagem de Rafael Oliveira, da Agência Pública, relata a situação a que chegou o Brasil com o governo de extrema direita. “Nos três primeiros anos do governo Bolsonaro (2019-2021), ao menos 14 crianças menores de 5 anos morreram em decorrência de malária na maior TI do país, localizada entre Amazonas e Roraima. Os dados inéditos foram obtidos pela Agência Pública junto à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). Considerando apenas 2019 e 2020, os últimos anos em que há dados nacionais disponíveis, foram oito mortes por malária na TI Yanomami, o equivalente a dois terços do total de óbitos nessa faixa etária em todo o Brasil, onde 12 crianças faleceram por complicações da doença.
Júnior Hekurari Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-YY) e responsável por relatar o caso de M. à Pública, resume o processo de luto que uma morte como essa causa em seu povo. “Choram todos os dias, todas as noites. Toda a comunidade, não só a mãe, a família inteira. Ficam de luto, chorando, de manhã, de tarde, de noite. Ficam chorando durante meses”, explica o líder indígena, que preside também a Urihi Associação Yanomami”.
Entre 2019 e 2020, a taxa de óbitos evitáveis de crianças com menos de 5 anos no Brasil foi cerca de 260 a cada 100 mil habitantes. Já entre as crianças Yanomamis, no mesmo período, a taxa foi de 2.400 mortes a cada 100 mil habitantes.
E continua:
Em conversa com a reportagem, Fernando destaca a comunidade de Haxiu, que lidera a lista de óbitos, com 17 mortes, e explica os motivos que levaram a aldeia a esse cenário. “Sem saúde, sem rádio, muito sofrimento lá. Tem garimpo, muito garimpo, invasão mesmo. Rio contaminado, sujo, lama, barro mesmo. Muito sujo. Morreram”, diz.
Para Júnior Hekurari, da Urihi Associação Yanomami, o que está ocorrendo é uma “crise humanitária”. “Fome, malária, todos os Yanomami com malária. E malária pega com fome, é morte certa. É muito triste. Eu já várias vezes clamei ao governo para ajudar, mas a ajuda não está conseguindo chegar nas comunidades. As comunidades estão sem medicamentos, não tem ação permanente [de saúde]”, afirma a liderança indígena.
Na visão do médico e pesquisador Paulo Basta, trata-se de “um estado permanente de crise ambiental, social, sanitária, sob o ponto de vista de violação de direitos”. “É uma crise que vem progredindo de maneira a colocar os Yanomami numa situação ainda de maior vulnerabilidade com o crescimento do garimpo nas terras indígenas”, explica Basta, um dos responsáveis por uma série de estudos sobre os Yanomami conduzidos pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com a Unicef.
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