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Mostra ‘Diagnóstico da Cigarra’, de Rosilene Fontes, resgata as memórias e experiências relacionadas à perda da audição

Será que todos ouvem igual? Como é viver e conviver com o silêncio? Qual é percepção sensível de uma pessoa surda? E sua inteligência estratégica para potencializar outros sentidos e driblar situações cotidianas?  Reflexões como estas estarão presentes na mostra Diagnóstico da Cigarra, da artista visual Rosilene Fontes, que abrirá no próximo dia 28, quinta-feira, no Espaço Cultural Marco do Valle.

A exposição é composta por cerca de 20 obras que resgatam as memórias e experiências da artista que percebeu sua perda auditiva na infância. São trabalhos em que Rosilene mistura  seu próprio processo de diagnóstico a relatos de outras pessoas surdas, convidando também o público a engajar-se na tomada de consciência de suas capacidades sensoriais e seus receios pessoais.

“A experiência do público, permeada pelas narrativas abertas nos trabalhos, amplia o alcance de um assunto que passa invisível e que se evidenciou de forma intensa no biênio pandêmico, quando a comunicação passou a ser velada por máscaras e a maioria das pessoas obrigada a conviver com seus silêncios internos”, declara a artista.

O curioso diagnóstico da cigarra que intitula a exposição faz menção ao momento quando, ainda criança, Rosilene se deu conta da dificuldade em ouvir o som desse inseto, dependendo do lado que repousasse sua cabeça ao travesseiro. A deficiência passou inaudita até que, aos 21 anos de idade, recebeu o diagnóstico de irreversível perda auditiva no ouvido esquerdo, e, no direito, depois dos 30. “Diagnóstico da Cigarra”, não à toa, é o título da instalação sonora que emite o canto da cigarra por dois minutos a cada hora, começando com 50 decibéis, o máximo tolerável para o ouvido humano, e até ser audível apenas para quem não tem deficiência auditiva.

A participação ativa do público também acontece por meio da apreensão dos relatos de pessoas surdas exibidos em letra miúda que só podem ser lidos com o auxílio de uma lupa. Assim como nas urnas, uma transparente e outra translúcida, em que Rosilene convida o visitante a depositar, escrito à mão num papel, o que cada um quer e o que não quer ouvir, numa espécie de jogo sinestésico.

Coletora de insetos, casulos, conchas e pedras, Rosilene organiza em sua mesa de laboratório esses elementos simbólicos, recombinando-os com imagens de livros, desenhos, documentos e fotografias de seu acervo pessoal. Alguns chegam a parecer piadas, como um certificado musical que atesta positivamente sua “audição”.  A essa entrega, somam-se instalações de parede em que ela desenha insetos, ora entendidos como seres dotados de força e produtividade, sobre seus próprios exames audiométricos. Os exames, por sua vez, são instalados sobre barras de madeira, onde Rosilene inscreve provocações capacitistas como “bobinha” e “desligada”, os mesmos que ouvira em sua infância. “Este glossário usado para derrubar, aqui sustenta a leveza”, explica Rosilene demonstrando sua sensibilidade crítica e poética.

A mostra, que tem produção cultural do também artista Bruno Novaes, contará ainda com a participação do Coletivo Mão Dupla, grupo de artistas surdos e ouvintes que apresentarão fotografias, vídeos e poesias acerca do universo surdo e farão uma performance na abertura abordando os meios de comunicação por sinais e expressões corporais.

Durante o período de exposição, haverá na programação o lançamento do livro Diagnóstico da Cigarra (data à definir), palestra presencial com a Prof. Dra. Lucia Reily sobre as relações da arte com o processo de ensino aprendizagem de crianças surdas _  uma parceria com o Instituto de Artes da Unicamp (no dia 20/05, às 19h), Laboratório do Som e do Silêncio _ ação educativa desenvolvida pelas arte-educadoras Ana Helena Grimaldi e Julyana Troya, esta última também surda-ouvinte (no dia 21/05, às 10h), Slam Sinaliza_ com a participação dos Grupos Slam Empodera e Coletivo Mão Dupla, um encontro entre surdos e ouvintes através da poesia (no dia 22/05).  

A exposição Diagnóstico da Cigarra é uma produção contemplada pelo PROAC EXPRESSO LEI ALDIR BLANC Nº 50/2021, PRÊMIO POR HISTÓRICO DE REALIZAÇÃO EM ARTES VISUAIS, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo.

Exposição “Diagnóstico da Cigarra”, individual da artista Rosilene Fontes

Abertura: 28/04, das 18h às 21h

Período expositivo: 28/04/2022 a 29/05/2022

Espaço Cultural Marco do Valle

 Endereço: Rua Dr. Quirino, 1856 – Centro, Campinas – SP

Horários: de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h e sábados das 9h às 12h

Entrada gratuita  –   Classificação etária: Livre

Mediação  – Acesso para pessoas com deficiência

Agendamento intérprete de LIBRAS: espacomarcodovalle@ceicampinas.org.br

(Carta Campinas com informações de divulgação)

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