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Mostra ‘We are here – Intimidades Radicais’ apresenta série de filmes do Reino Unido em diálogo com artistas brasileiros que pensam as questões de gênero e dos corpos livres

Em São Paulo – Até o dia 3 de abril de 2022, poderá ser vista no Instituto Tomie Ohtake a mostra WE ARE HERE, programa que reúne uma série de filmes das coleções de British Council e Lux, com curadoria de Tendai Mutambu, em sintonia com obras de artistas brasileiros, selecionados nesta edição pelos curadores do Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake, Paulo Miyada, Priscyla Gomes e Ana Paula Lopes.

Una y Otra vez / Once and Again (2019), Sara Ramos (Imagem: Divulgação)

INTIMIDADES RADICAIS discute as intersecções entre afetos e desejos construídos em escala subjetiva e os debates teóricos sobre gênero. Como aponta a curadoria responsável pelos trabalhos do Reino Unido, o atual momento social, político e cultural parece colocar em perspectiva os direitos conquistados e o valor da livre expressão das diferenças. O recrudescimento no processo de abertura social para perspectivas mais inclusivas reflete-se em âmbitos distintos, seja no cotidiano doméstico, seja em políticas governamentais. “No caso brasileiro, em que os indicadores de violência e intolerância foram sempre inaceitáveis, os casos de feminicídios e atentados à população LGBTQIA+ têm se multiplicado ainda mais nos últimos anos”, aponta a curadoria brasileira.

Do Reino Unido é apresentada uma compilação de filmes, com duração de 60’29, que se inicia com I hope I’m Loud When I’m Dead, 2018, de Beatrice Gibson. A artista relembra a maternidade e seus relacionamentos com poetas queer – CAConrad e Eileen Myles – como forma de reformular a ganância e a intolerância atuais. Gibson reúne imagens do incêndio na Torre Grenfell no Reino Unido, a migração em massa de refugiados e o derretimento da calota polar com imagens de cuidado e afeto. O segundo filme, Sharla Shabana Sojourner Selena, 2016, de Rehana Zaman, observa seis narradoras compartilhando experiências pessoais em audições, algumas roteirizadas, outras espontâneas. Elas descrevem cenários onde raça e gênero influenciam os encontros de cada protagonista no seu ambiente de trabalho, em reuniões religiosas ou em suas vidas românticas. O roteiro usa referências de textos psicossociais (Experiências em Grupo, de W.R Bion) e filmes experimentais feministas (Soft Fiction, de Chick Strand, e What You Take for Granted, de Michelle Citron).

As histórias são intercaladas com momentos de contato físico, em um salão de beleza em que o cuidado e o prazer são oferecidos como alternativas aos anseios de suas vivências. Por sua vez, o terceiro filme, Casting Through and Scenes from Radcliffe, 2017, de Stephen Sutcliffe (1968, Inglaterra), traça paralelos entre o romance Radcliffe (1960), de David Storey, e um desejo não correspondido do diretor britânico de cinema e teatro Lindsay Anderson em relação ao ator Richard Harris. A tensão da obra literária original, pioneira no debate da homofobia antes da contracultura e dos movimentos da década de 1960, é traduzida no movimento circular ininterrupto da câmera e nas elipses da narrativa encenada para o vídeo.

Os trabalhos selecionados pela curadoria brasileira trazem questões que concernem aos papeis construídos socialmente por esses gêneros, violências sofridas e reivindicações ainda necessárias. Para tal, o programa de filmes convidou a artista espanhola Sara Ramo (Madri, Espanha, 1975), o diretor e roteirista Renan de Cillo (Piracicaba, SP, 1988) e a artista multidisciplinar Ode (Itajubá, MG, 1998).

A seleção de filmes desses artistas apresenta possíveis paralelos e justaposições às obras britânicas. Sara Ramo apresenta Una y Otra vez / Once and Again (2019), um vídeo que emula a boca de cena de um teatro de bonecos ou marionetes; apesar da atmosfera leve associada ao imaginário dessa modalidade cênica, a narrativa sugerida cria fabulações em torno do abuso e da violência doméstica contra a mulher. Já o premiado filme-ensaio de Renan de Cillo, Bicha-Bomba (2019), convoca seus expectadores a ponderar sobre o caráter destrutivo e arbitrário da homofobia. O diretor justapõe imagens VHS de sua infância à narração da história do menino Alex, que aos oito anos de idade foi espancado até a morte por seu pai. Em outro âmbito, Ode investiga poeticamente a travestilidade e as práticas emancipatórias dos corpos. A artista traz Restituição (2021), realizada em parceria com Vitor Duarte.

Além dos três vídeos apresentados, a curadoria brasileira convidou ASSUME VIVID ASTRO FOCUS (AVAF) para intervir no espaço expositivo, transformando a ambiência da sala expositiva com um conjunto de papéis de parede e intervenções luminosas. Desde sua criação no começo dos anos 2000, AVAF é um coletivo que desafia tentativas de definição e enquadramento, explorando diversas linguagens e reformulando livremente as leituras possíveis de seu acrônimo. Sem gênero definido, AVAF tem testado os limites do sistema da arte e demonstrado forte conexão com espaços da vida noturna que historicamente oferecem abrigo, união e sociabilidade a pessoas cujos modos de vida rompem com as convenções normativas de gênero e sexualidade. 

A mostra é resultado da parceria entre o Instituto Tomie Ohtake e o British Council.

O programa pode ser visto de terça a domingo, das 11h às 20h. Entrada gratuita.

Conheça os protocolos de segurança clicando AQUI.

Filmes Reino Unido

I hope I’m Loud When I’m Dead, 2018, Beatrice Gibson, 21’

Sharla Shabana Sojourner Selena, 2016, Rehana Zaman, 22’14 (LUX)

Casting Through and Scenes from Radcliffe, 2017, Stephen Sutcliffe, 16’53 (LUX)

Filmes Brasil

Una y Otra vez / Once and Again (2019), Sara Ramo, 9’40

Bicha-Bomba (2019), Renan de Cillo, 8’

Restituição (2021), Ode e Vitor Duarte, 4´50

(Carta Campinas com informações de divulgação)

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