Ícone do site Wordpress Site

Dizer o indizível: teatro essencial de Denise Stoklos encontra a obra de Clarice Lispector e as canções de Elis Regina em ‘Abjeto-Sujeito’

Em São Paulo – O teatro essencial de Denise Stoklos encontra a obra da escritora Clarice Lispector e da cantora Elis Regina em Abjeto-Sujeito: Clarice Lispector por Denise Stoklos, com estreia no dia 10 de março, quinta, às 20h, no teatro do Sesc 24 de Maio. A temporada foi adiada em 2020 por conta da pandemia. O espetáculo tem dramaturgismo de Welington Andrade e direção de Elias Andreato. Em cena, Denise performa diversos textos de Clarice, como os contos A quinta história e O ovo e a galinha; os romances Água viva e A paixão segundo G.H. e a crônica Vergonha de viver.

(Foto: Leekyung Kim)

O espetáculo surge em um momento da carreira de Denise em que ela se declara pronta para levar Clarice Lispector ao palco. “A ideia não é representar nenhuma personagem, mas sim reapresentá-las, trazendo uma ideia cênica a partir das questões levantadas por Clarice Lispector, para que o público também possa ter contato com seus temas”, conta a atriz.

Os textos foram selecionados pelo dramaturgista Welington Andrade, a partir da ideia que resulta no título do espetáculo. “São textos que fazem o percurso do que é abjeto, isto é, o que literalmente nega o sujeito, até a constituição da subjetividade, propriamente. Trata-se de uma transição, de um percurso, de uma coisa levando a outra. Essas relações podem ser observadas em diversos textos de Clarice, como nas interações das personagens G.H com uma barata — algo repulsivo porque abjeto — e aquela do conto O búfalo, que se identifica com o animal a ponto de odiá-lo”, conta Welington.

_____________________________________

Denise Stoklos é criadora do teatro essencial, método que, em síntese, consiste em trazer ao corpo do ator uma emoção que de fato pertence a ele com o objetivo de provocar um olhar novo para esse sentimento.

_____________________________________

Além da “reapresentação” de personagens de Clarice, a cena também será constituída por canções na voz de Elis Regina — momentos que irão explorar coreografias criadas por Denise Stoklos. Para o espetáculo, “foram escolhidas faixas de uma Elis mais soturna e existencialista”, afirma Welington. Algumas das músicas selecionadas são Meio-TermoOs Argonautas e uma versão à capela de Se Eu Quiser Falar com Deus.

Denise tem se dedicado nos últimos anos a trabalhos que estabelecem interlocução com escritores, como Herman Melville, Franz Kafka, Julio Cortázar e Thomas Bernhard, procurando sempre por uma fusão da dramatização com o teatro essencial. “O resultado da peça é uma investigação radical a respeito de como o corpo, a voz e a emoção da intérprete expressam uma palavra literária empenhada em dizer o que a todo momento beira o indizível”, conclui Welington.

Um símbolo muito forte na obra clariciana, que o espetáculo explora do início ao fim, é o olho. Alusões à visão e metáforas do olhar se espraiam ao longo do trabalho. A narradora de A quinta história assiste diariamente, estupefata, ao cortejo das baratas; em A paixão segundo G.H., a visão da barata leva à epifania; em O ovo e a galinha, a narradora de manhã na cozinha “vê” o ovo — o que a convida a iniciar uma longa viagem através da linguagem; em O búfalo, a personagem busca insistentemente o olhar do animal, tendo seu olhar, por fim, penetrado por ele; em Amor, a epifania se dá porque Ana vê um cego. Em certos momentos a visão chega até mesmo a rivalizar com a linguagem falada.

De quando Denise Stoklos conheceu Clarice Lispector

Leitora dedicada de Clarice Lispector desde os 17 anos, Denise Stoklos contribuía, no final da década de 1960, para o jornal do diretório acadêmico da Faculdade de Jornalismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba, onde estudava. Grande admiradora da escritora, foi ao Rio de Janeiro, descobriu o endereço de Clarice na lista telefônica e ligou para ela por meio de um telefone público, embaixo do prédio. A própria Clarice atendeu a jovem universitária, que lhe pedia uma entrevista e mandou que Denise subisse.

Feitas as primeiras perguntas, Clarice disparou: “Você não veio me entrevistar, você veio me conhecer, não é? Então, deixe de lado a caneta e o bloco de anotações e vamos conversar.” Do encontro, Denise guardou para sempre a imagem daquela mulher fascinante — ucraniana, assim como ela. Cerca de uma década depois, quando ouviu – na derradeira entrevista concedida à TV Cultura – a escritora dizer que jovens leitoras compreendiam melhor sua obra do que os especialistas, Denise se sentiu naturalmente incluída na referência.

SINOPSE DO ESPETÁCULO

Muitos anos após declinar o convite do diretor Fauzi Arap (1938-2013) para criar um espetáculo com textos de Clarice Lispector, a atriz e diretora Denise Stoklos promove o encontro do teatro essencial com a obra clariciana. O resultado é uma investigação radical a respeito de como o corpo, a voz e a emoção da intérprete expressam uma palavra literária empenhada em dizer o que a todo momento beira o indizível. Canções de Elis Regina pontuam de tempos em tempos o percurso que vai da negação à constituição do sujeito.

FICHA TÉCNICA

Concepção e Interpretação: Denise Stoklos

Direção: Elias Andreato 

Dramaturgismo: Welington Andrade

Textos: Clarice Lispector

Canções: Elis Regina

Iluminação: Aline Santini

Espaço Cênico e Figurino: Thais Stoklos Kignel

Fotos: Leekyung Kim

Assistente de Direção: Cristina Longo

Segundo Assistente: Wallace Dutra

Cabelo: Eron Araújo

Operação de Luz: Maurício Shirakawa

Operação de Som: Vanessa Matos

Diretor de Produção: Ederson Miranda

Assistente de produção: Sofia Gonzalez

Segundo assistente: Alexandre Vasconcelos

Produção Geral: Mira Produções Culturais

Abjeto-Sujeito: Clarice Lispector por Denise Stoklos

Datas: 10/03 a 03/04, quinta a sábado, às 20h e domingos, às 18h

Local: Sesc 24 de Maio (Rua 24 de Maio, 109, Centro, São Paulo, SP – 350 mts do metrô República)*

*Obrigatório uso de máscara e apresentação de comprovante de vacinação contra covid-19 (físico ou digital), evidenciando as duas doses, ou dose única.

Ingressos: R$40 (inteira); R$20 (Credencial Sesc, meia-entrada: estudante, servidor de escola pública, + 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência). Ingressos à venda a partir de 08/03, às 14h, no portal sescsp﹒org﹒br/24demaio e 09/03, às 17h, nas bilheterias da rede Sesc SP.

Duração: 75 minutos.

Classificação Indicativa: Não recomendado para menores de 14 anos

(Carta Campinas com informações de divulgação)

Sair da versão mobile