.Por Rafael Martarello.
O fenômeno de obsolescência programada se caracteriza por um conjunto de ações com o objetivo de estabelecer o decaimento gradativo de algum atributo de uma mercadoria para estimular a demanda por uma nova aquisição.
Já existe um consenso que este fenômeno é o principal indutor artificial do consumo em nossos tempos e de que há uma tendência generalizada para a sua ocorrência. Inclusive, há uma percepção pública de que as coisas já não duram mais como antes. É, neste ponto, aquele teu parente velho está certo :P.
Em nossa vida cotidiana somos constantemente bombardeados por diversos exemplos desta prática. Tomando como exemplo os aparelhos celulares, temos: a perda de desempenho ou componentes que facilmente se quebram; a campanha publicitária que atribuí o status de antiquado para um celular ou transmite para outro o status de descolado ou mais tecnológico; e a nova versão lançada logo após outra, entretanto a novidade tecnológica – que justifica a criação da nova versão – já estava disponível na época de lançamento da versão anterior.
Todas estas ações só são feitas para tornar uma mercadoria obsoleta.
Não entendeu ainda? O funcionamento é igual ao complô de sabotagem do seu Madruga com o Chaves para furar balões, só que operando por meio de um mecanismo interno.
Mas poderia este fenômeno atingir o Estado, e mais, atuar não só sobre itens, mas ocorrer pelo serviço executado?
A resposta científica
Meu novo artigo intitulado “Obsolescência programada em serviços de saúde: o caso da Máfia das Próteses” responde que SIM para os dois elementos. Na realidade, já está vitimando os serviços públicos.
Primeiramente, não é difícil supor, por exemplo, que o Iphone funcional que o Ministério Público Federal dá aos seus procuradores – entre vários outros equipamentos – seja tão afetado pela mesma prática de obsolescência programada que o Iphone de qualquer outro consumidor.
Embora não seja difícil cogitar isso, os autores sobre o tema não tinham ainda levantado essa bola. Agora, e a ocorrência dessa prática de estabelecimento e/ou aceleração da sua vida útil em serviços?
Eu me fiz esta pergunta quando li outra notícia aqui na plataforma dentro do âmbito da Máfia das Próteses. Para esclarecer, esta máfia foi uma empreitada envolvendo médicos, clínicas, hospitais, gestores, funcionários públicos e empresas de órteses, próteses e materiais especiais.
As ações se concentraram, resumidamente, na realização de cirurgias desnecessárias ou de intervenções com o intuito de piorar o bem-estar, em preços superfaturados do procedimento cirúrgico, no uso de produtos além do necessário, em manipulação do Judiciário e de procedimentos licitatórios, cirurgias fantasmas, o uso de dispositivos médicos implantáveis com prazo de validade vencido, danos propositais às próteses com objetivo de forçar sua reposição.
Pois bem, eis aqui o ponto central de contribuição do texto. Ao analisar a Máfia das Próteses e comparar alguns casos com os descritores do fenômeno de obsolescência programada foi encontrado que a prática de sabote cirúrgico com objetivo de estimular a demanda por serviços médicos e equipamentos médico-hospitalares faz parte também deste fenômeno.
Estamos falando, retendo-me somente sobre parafusos cirúrgicos, de parafusos apertados ao ponto de pressionar os nervos, de parafusos frouxos, de parafusos deixados no sistema digestório, de parafusos que não foram instalados para que os procedimentos cirúrgicos fossem realizados novamente.
Frisa-se que nestes casos a prática da obsolescência programada ocorreu por meio procedimento executado, afastado – salvo em alguns casos – de qualquer material técnico com decaimento de vitalidade.
Farei uma outra comparação, caso você vá cortar ao cabelo e solicita que seja cortado 3 dedos – teu corte usual -, mas são cortados somente dois, você terá que retornar ao salão mais cedo, não é? Aí, não há nenhum item danificado, somente pela prestação do serviço ocorre a aceleração do consumo por meio da proposital não satisfação da necessidade.
Agora, que estamos de acordo, você imaginar a potencialidade deste fenômeno a nível de todos os bens e serviços contratados pela Administração e o impacto na eficiência do serviço prestado com computador lento, nos maiores gastos públicos e privados, na crise fiscal do Estado, na deterioração do planeta, na saúde pública etc.
Não posso finalizar este texto sem pontuar, ainda que superficialmente, alguns elementos que devem embasar qualquer tratativa sobre este tema, como a degradação das forças produtivas na atual fase do capitalismo, o crescimento da superexploração do trabalho, o amplo e profundo domínio do capital em diversos âmbitos da vida, e a crítica à neutralidade da ciência e tecnológica, assim como, de sua linearidade evolutiva.
Confira o texto integral! Faça o download para ler quando você estiver com tempo disponível 😉
Para finalizar compartilho um vídeo mais didático no qual faço uma explicação integral do fenômeno. Lembrando que no You Tube você pode assistir vídeo com velocidade acelerada.