Ícone do site CartaCampinas

Núcleo Ajeum convoca a possibilidade de ancestralizar no espetáculo IKÚ, refletindo sobre a morte e os ritos de passagem

Em São Paulo – Inspirado em estruturas africanas e afrodiaspóricas sobre a morte e o morrer, o Núcleo Ajeum, do diretor Djalma Moura, está em cartaz com a temporada presencial do espetáculo IKÚ e realiza o lançamento da segunda edição da Revista Ajeum, em formato físico e digital.

Projeto Iku (Foto: Raoni Reis)

A temporada, que teve sua estreia no CRD – Centro de Referência da Dança da Cidade de São Paulo, segue com apresentações gratuitas de 06 a 09 de dezembro, às 20h, na Oficina Cultural Oswald de Andrade e de 10 a 12 de dezembro, sexta-feira e sábado às 21h, domingo às 19h, no Teatro João Caetano, que fica na Vila Clementino, em São Paulo. 

O Projeto Iku nasce do desejo de tecer novos olhares sobre a morte, pensando nela não como uma oposição à vida, e sim como uma energia cíclica universal que está presente e é fundante dos afrossentidos que acolhem neste momento difícil de passagem.

O Núcleo Ajeum reflete sobre a morte na perspectiva da Ikupolítica, sentindo as ausências, questionando os motivos e suas estruturas, mas se abrindo à possibilidade de celebrar esse ancestral que se foi, celebrar suas ações, sua existência e as contribuições para sua comunidade e família. 

“Através da ikupolítica revitalizar as experiências comunitárias para festejar, celebrar, cultuar e ancestralizar a passagem dos nossos”, comenta a equipe do projeto.

Através da dança, o Núcleo Ajeum constrói uma narrativa que se potencializa ao dar espaço às possibilidades de imaginar outros mundos possíveis. Ao invés das causas da morte e do morrer, a abordagem segue para construção da figura da morte e seus ciclos, suas passagens e trânsitos. Assim, diante das rupturas, dos desconfortos e da desorganização que a morte despeja no mundo, evocar os pactos necessários com as forças invisíveis para adiar esses desequilíbrios e preenchê-los com vida. 

“Neste momento complexo em que vivemos no Brasil, com tantas mortes sendo contabilizadas a cada 8 minutos, a cada 23 minutos, a cada 24 horas, refletimos também sobre os temores de vidas pretas em razão de situações que são perpetuadas como algo comum e corriqueiro. O terror e o temor de ser a próxima pessoa a se contagiar, a ser confundida com alguém suspeito, ao reagir a uma acusação injusta enquanto circula com sua bicicleta no parque, por exemplo”, explica o Núcleo Ajeum.  

Para elaborar a dramaturgia o grupo foi em busca de estruturas africanas e afrodiaspóricas sobre a morte e o morrer. Para além da mitologia de Iku e suas funções no àiyé, o grupo procurou estabelecer outras encruzilhadas neste processo criativo, como o Cosmograma Bakongo, em que a vida tem uma profunda ligação com o sol, simbolicamente transitando entre o amanhecer e o anoitecer, e também a Kalunga, que representa a morte, mas também a liquidez de tudo aquilo que nos constitui. 

“Para o povo bakongo, cada pessoa é um sol na comunidade que brilha e irradia durante a vida. Quando a morte chega é o momento de se despedir deste sopro da vida e anoitecer. Como na imensidão do mar, a Kalunga é um portal que nos mergulha em outro plano, o plano dos espíritos e ancestrais, e assim cada pessoa segue por novos caminhos espirituais”, finaliza o núcleo. 

Projeto Iku (Foto: Raoni Reis)

Com o Projeto Iku o Núcleo Ajeum se conecta aos saberes milenares do povo bakongo e suas imensidões de significados evidenciando sua maneira peculiar de compreender e encarar a morte.

As ações fazem parte do Projeto Iku contemplado na 28ª edição do Fomento à Dança da cidade de São Paulo, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

Mais informações: www.nucleoajeum.com, www.facebook.com/nucleoajeum e @nucleoajeum

FICHA TÉCNICA: Direção, Concepção e Coreografia: Djalma Moura | Intérpretes-Criadores: Aysha Nascimento, Djalma Moura, Erico Santos, Marina  Souza, Sabrina Dias e Victor Almeida | Artistas Residentes / Estagiários: Eri Sá e Juliana Nascimento | Orientação de Pesquisa: Bruno Garcia Onifadé | Direção Musical: Dani Nega | Colaboração Sonora: Pedro Bienemann | Figurino: Eder Lopes e Núcleo Ajeum | Máscaras: Daniel Normal, Murilo de Paula e Erico Santos | Projeto e Operação de Luz: Juliana Jesus | Práticas de Corpo: Lenny de Sousa, Letícia Tadros, Verônica Santos, Bruno de  Jesus, Djalma Moura | Assessoria de Imprensa: Luciana Gandelini | Arte Gráfica: Bruno Marciteli | Produção Geral: Dafne Nascimento | Celebração e Saudade: Carol Zanola, Rosa Maria de Jesus, Avó Zu, Dona  Jandira, Dona Margarida, Dona Carmelita Maria Dias, Maria Paulina Ferro.

Espetáculo IKÚ – Com Núcleo Ajeum

Sinopse: Uma comunidade é baseada em acordos que atuam na manutenção da vida, da pulsão existencial, dos prazeres e das partilhas. Com o toque de Iku se abre um portal ambíguo que despeja desconfortos e cria rupturas na circulação do axé, puxando camadas de renovação. Um gozo que descarrega os excessos e a possibilidade de ancestralizar. O beijo de Iku é temido e a força desse temor é o que faz nossos corpos buscarem a revitalização das experiências comunitárias. No ciclo nascimento – vida – passagem, organismo vivo que se revitaliza e se transforma a cada movimento, a fuga da morte é o que nos torna semelhantes. Mas Iku nos alcançará de uma forma ou de outra. 

Quando: 06, 07, 08 e 09 de dezembro de 2021 (segunda à quarta-feira) – Horário: 20h

Onde: Oficina Cultural Oswald de Andrade – Endereço: R. Três Rios, 363 – Bom Retiro, São Paulo – SP, 01123-001

Ingressos Gratuitos distribuídos uma hora antes na bilheteria

Quando: 10, 11 e 12 de dezembro de 2021 – Horário: sexta-feira e sábado 21h / domingo: 19h

Onde: Teatro Popular João CaetanoEndereço: R. Borges Lagoa, 650 – Vila Clementino, São Paulo – SP, 04038-020

Ingressos Gratuitos distribuídos uma hora antes na bilheteria

(Carta Campinas com informações de divulgação)

Sair da versão mobile