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Patrícia Galvão e um perigoso mimeógrafo

.Por Paulo Ferraz.

Estava aqui olhando essa foto colorizada da Patrícia Galvão, então com 21 anos, tirada durante sua prisão em Santos em agosto de 1931, após uma manifestação em memória de Sacco e Vanzetti, que haviam sido executados em 1927 nos EUA. A polícia paulista, ao dispersar a manifestação à bala, assassinou o líder dos estivadores Herculano de Souza, levando Patrícia e a operária Guiomar Gonçalves para a cadeia. Patrícia era conhecida desde pelo menos 1929, quando passara a colaborar com a Revista de Antropofagia, além de assinar matérias em outros jornais como O Homem do Povo.

No ano seguinte, Patrícia escreveu seu romance “Parque Industrial”, que retrata a vida das operárias no Brás, e logo depois deixou o país, indo para a China, Rússia e por fim chegando à França, onde passou a militar no partido comunista, mas foi mais uma vez presa e na iminência de ser deportada para a Alemanha, conseguiu ser devolvida ao Brasil, chegando aqui em fins de 1935. Porém, acabou detida em São Paulo em janeiro de 1936, quando a polícia alegou ter encontrado em seu apartamento livros e panfletos comunistas, além de um perigoso mimeógrafo.

Nessa época, ela tinha por volta de 26 anos, era mãe de um garoto de cinco, filho de um importante jornalista e escritor, vocês sabem bem, Oswald de Andrade, que era amigo de gente graúda como Vicente Rao, que vinha a ser Ministro da Justiça do Getúlio e o autor da lei de segurança nacional pela qual Patrícia estava encarcerada. Poxa, e o Vicente não deu uma ajuda para a mãe do filho do seu amigo dos tempos da faculdade de direito? Nem ele, nem ninguém. Levada à penitenciária, foi processada e absolvida em primeira instância, porém, pasmem, o secretário de segurança pública de SP, Artur Leite de Barros Jr, se recusou a cumprir o alvará de soltura alegando que era uma “agitadora comunista de malígna eficiência”… o caso subiu para um tribunal militar e lá foi condenada a uma pena de dois anos e meio.

Ao sair em 1938, foi presa quase que imediatamente, mais uma vez na posse de material subversivo , ou seja livros, e condenada a mais três anos, só saindo em julho de 1940, sem ter tido benefício algum de progressão da pena, lembrando que ela era mãe, ficando portanto afastada de uma criança. Notem bem, ela ficou presa de janeiro de 1936 a julho de 1940, por volta de quatro anos e meio sem ter cometido nenhum crime, sem ter se envolvido em nenhuma ação concreta do partido, que mal a reconhecia como de seu quadro (em 1938 ela é presa junto de trotskistas, portanto estava bem distante de ser uma agente de Moscou).

Agora, sabem quantos artigos em sua defesa escritos por seus colegas escritores são possíveis encontrar na imprensa? acertou quem disse nenhum. Ao contrário, os jornalistas, companheiros de profissão, reiteravam a imagem de extremista e perigosa militante que a polícia lhe atribuía. E vocês sabem que depois de libertada ela tentou se matar, né? ah, não? pois sim, e em mais de uma ocasião. (Do Facebook de Paulo Ferraz)

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