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A pandemia não acabou e irão surgir mutações resistentes às vacinas

A pandemia não acabou, não podemos baixar a guarda. É responsabilidade de todos.

.Por Alexandre Padilha.

Estou deputado federal mas sou médico e professor universitário e, junto com meus alunos, atendo em Unidades Básicas de Saúde (UBS) no estado de São Paulo e sempre que posso digo e repito: a pandemia não acabou e não tem data para acabar.

(foto miva filho – ses – pe – fp)

O plano de vacinação mais lento que o SUS poderia fazer e a concentração das vacinas por poucas empresas multinacionais traz um cenário ainda incerto. Como consequência, muita gente pode morrer por conta da postura irresponsável daqueles que acreditam que já estamos voltando ao “normal”, ainda mais com o crescimento de casos da variante delta nos estados, inclusive em São Paulo.

É importante esclarecer que os próximos meses serão decisivos para termos evidências mais robustas da necessidade da terceira dose de vacinação, seja para determinados grupos ou para toda a população.

Todos os que foram vacinados como voluntários do Instituto Butantan, por exemplo, completarão um ano de imunização em breve e permanecem sendo acompanhados para monitoramento das defesas e imunidades do organismo e isso acontece com todos os laboratórios produtores do mundo. Assim, saberemos por quanto tempo dura a proteção vacinal e a partir de quando serão necessárias doses de reforço.

Infelizmente, irão surgir mutações resistentes às vacinas que temos disponíveis, não sabemos quando isso pode acontecer, se daqui uma semana, um mês ou 10 anos. Por isso, precisamos democratizar o acesso à vacina no mundo e suspender o monopólio das patentes para que elas se tornem bens públicos. Quanto mais rápida a produção nos laboratórios públicos e privados, mais ágil será o acesso às possíveis adaptações das vacinas, se necessário.

Ainda em 2020, o Brasil recebeu diversas ofertas dos laboratórios que estavam produzindo as vacinas contra a Covid-19: cerca de 700 milhões de doses. Se o governo Bolsonaro tivesse feito essa pré-contratação no ano passado, certamente já teríamos vacinado, em curto período, toda população brasileira, inclusive com doses de reforço, caso haja necessidade.

É preocupante vermos reabertura de atividades, assim como a liberação de público nos estádios de futebol, pois sugerem o retorno à vida normal, mas que mais uma vez não será cumprida.

Sou a favor do país planejar testes para eventos que gerem grandes aglomerações, como: shows, partidas de futebol, teatro etc, justamente para que critérios sejam pensados como volume, pré-requisitos – vacina e teste negativo – e ferramentas de monitoramento das pessoas presentes. Vários países realizaram uma série de eventos testes antes de começarem a pensar na reabertura dessas atividades.

É importante que isso seja feito para o estabelecimento de parâmetros, porque o vacinado pode estar infectado e transmitir a doença para outras pessoas. Além disso, é necessário que seja feito acompanhamento dessas pessoas no pré e pós evento, aplicativos, cadastro de SMS e Whatsapp podem ser utilizados

Todo mundo quer voltar à vida normal, com a rotina que tínhamos e participando de eventos de aglomerações sem preocupação, mas ainda não é hora disso.

Assim como a pandemia de HIV/Aids provocou mudanças nos nossos hábitos cotidianos para a vida inteira, a da Covid-19 também provocará. Esse retorno precisa ter bastante planejamento e, em especial, ser avaliado conjuntamente com o crescimento de casos e testagem.

Alexandre Padilha é médico, professor universitário e deputado federal (PT-SP). Foi Ministro da Coordenação Política de Lula, Ministro da Saúde de Dilma e Secretário de Saúde na gestão Fernando Haddad na cidade de SP.

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