.Por Susiana Drapeau.
A CPI da Covid-19 no Senado Federal é uma areia movediça para os próprios senadores e também diferente de todas as outras. Isso porque o governo delirante de Bolsonaro põe tudo de ponta-cabeça. O que se viu até aqui é que a CPI foi mais eficiente e esclarecedora quando convocou pessoas que não são bolsonaristas ou que não fizeram parte do governo.
Os três depoimentos mais devastadores politicamente para o governo e também os que trouxeram informações da negligência e imperícia do governo foram os do representante da Pfizer, Carlos Murillo, do diretor do Butantan, de Dimas Covas, e da médica Luana Araújo. Esses três depoimentos mostraram para a sociedade o quão delirante foram as ações do governo no combate à pandemia, permitindo até agora quase 500 mil mortes.
Do lado do governo, apesar de serem importantes para a investigação, os depoimentos dos governistas são repletos de desvios, rodopios e voltas. Um depoimento que tenta não se comprometer. É como se naquele dia a CPI ficasse amarrada e evoluísse pouco. Ao mesmo tempo, os depoimentos dos governistas dão munição seletiva para a indústria de fake news se manter ativa. É um palco para os subterfúgios. Os governistas aproveitam trechos das falas e divulgam como se fossem um grande feito no depoimento. No entanto, esse plano fica mais difícil com depoimentos centrados pela racionalidade como foram os de Carlos Murillo, Dimas Covas e Luana Araújo.
A CPI coloca os senadores em uma espécie de armadilha política. Deferente de outras CPIs, ela na realidade investiga um fato criado a partir de um delírio ideológico. Isso coloca o armário lógico de ponta-cabeça. É uma CPI cheia de armadilhas para os senadores.
Para tentar escapar dessa armadilha, a CPI precisa convocar mais cientistas sérios que combatem as ideias delirantes do governo. Isso centraliza o debate, desperta a população. Manter uma equivalência mínima de 50% entre governistas e não governistas pode ser importante para conseguir desmontar a estrutura fantasiosa.
A CPI está sendo uma pedra no sapato do governo e, por isso, o próprio Bolsonaro fica o tempo todo jogando iscas para desviar a atenção. Seja ‘voto impresso’ ou ‘cepa américa’. Tem gente que morde na isca.