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Mostra ‘Erika Verzutti: A indisciplina da escultura’ reúne as formas sensuais, imprevisíveis e insólitas criadas pela artista

Em São Paulo – Será aberta no próximo dia 2 de julho, no Museu de Arte de São Paulo (MASP) a exposição “Erika Verzutti: a indisciplina da escultura” com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, e André Mesquita, curador do MASP. A exposição fica em cartaz até o dia 28 de novembro de 2021.

Esta é a primeira exposição individual dedicada à obra de Erika Verzutti (São Paulo, 1971) já realizada em um museu brasileiro. Verzutti é uma artista essencial para a compreensão da prática da escultura hoje, tanto no panorama brasileiro quanto no internacional. Suas formas instigantes exploram novos caminhos para o meio, com atenção renovada à origem e à materialidade da escultura, bem como à sua inteligência formal.

Venus Freethenipple, 2017 (Coleção do MASP)

Realizados em diversos materiais, como bronze, concreto, pedra e papel machê, os trabalhos de Verzutti possuem traços sensuais e táteis, brutos e refinados. A partir do início dos anos 2000, a artista começou a produzir séries de esculturas que aos poucos foram sendo agrupadas em famílias — de “cisnes”, “Tarsilas”, “jacas”, “cemitérios”, entre outras. A exposição apresenta exemplos de obras dessas famílias e busca traçar múltiplas associações entre elas. A produção mais recente da artista também está presente: são desta fase os “relevos de parede”, trabalhos que mesclam pintura e escultura e dialogam de modo inusitado com a história da arte e o mundo contemporâneo.

As referências de Verzutti para a criação de suas esculturas transitam entre livros de arte e de história social, elementos da fauna e flora, imagens em circulação nas redes sociais, notícias de jornal, evocando animais e plantas, paisagens e minerais, objetos do cotidiano e da arte—de autores como Tarsila do Amaral (1886- 1973), Constantin Brancusi (1876-1957), René Magritte (1898-1967), Piero Manzoni (1933-1966), entre muitos outros. Com seu caráter insólito, as esculturas se entregam à imprevisibilidade, por vezes com um elemento de humor, e se recusam a aceitar definições ou tradições estabelecidas—daí o subtítulo desta mostra: a indisciplina da escultura.

A exposição está dividida em sete núcleos, pensados a partir de conceitos da filosofia, da psicanálise, da cultura popular e da própria história da arte. Os núcleos conectam as obras de muitos modos, em razão de suas formas, materiais, temas e cronologias: “Devir-animal”, “Vereda tropical”, “Metáfora do mundo”, “Totemizar o tabu”, “Modernismo selvagem”, “Sob o sol de Tarsila (e outras histórias)” e “Estranho-familiar”.

Painted Lady, 2011, Cortesia da artista e Fortes D’Aloia & Gabriel (Foto: Eduardo Ortega)

A mostra tem um caráter panorâmico, apresentando obras realizadas de 2003 a 2021, que inclui uma nova escultura feita especialmente para a ocasião.

No MASP, a exposição de Verzutti irá reunir 79 trabalhos, entre esculturas e relevos de parede, produzidos entre 2003 e 2021 – a obra Torre de cacau é inédita, desenvolvida por ela em 2021. O trabalho escultórico de Verzutti cria associações entre elementos reais e objetos cultuados como símbolos ancestrais e de valor ritualístico, flertando com a arqueologia, a monumentalidade das esculturas totêmicas e as formas orgânicas da natureza e dos corpos. Para produzir suas esculturas, a artista utiliza materiais diversos como papel machê, bronze, plástico, gesso, cimento e isopor.

Os trabalhos de Verzutti apresentam-se em uma linha tênue entre a realidade e a ficção. Suas obras fazem referência direta a outros artistas, por meio de títulos, forma ou conceito, e, simultaneamente, dialogam com o cotidiano das novelas, tutoriais na internet e vídeos nas redes sociais. Daí vêm a indisciplina, segundo Mesquita, que inspirou o nome da exposição. Tudo que está ao redor dela torna-se referência, mas sem nenhum tipo de hierarquia.

Beijo, 2011 (Foto: Eduardo Ortega)

Além disso, “embora ela dialogue com preceitos fundamentais da escultura, como a sensorialidade e a forma, ela consegue reatualizar tal prática, apresentando, por exemplo, a abstração em elementos da natureza, causando no espectador uma estranheza. Verzutti convida para um olhar mais atento para suas esculturas, que não podem ser decifradas de cara, e convida também para um mergulho interno na busca por respostas”, diz André Mesquita.

Para dar conta de tantas referências, a exposição no MASP estará dividida em sete núcleos. Devir-animal reunirá as esculturas dos animais de Verzutti. Nele, estarão obras como Cisne com pincel (2003-12), na qual um cisne equilibra sua cabeça em um pincel que se dobra pela pressão aplicada pelo pescoço, e Cisne com martelo (2013). Nela, há um martelo no lugar do pincel anterior, que exibe a frase: “a arte não é um espelho para refletir o mundo, mas um martelo para forjá-lo”, do poeta russo Vladímir Maiakóvski (1893-1930).

Cisne com pincel, 2003-2012. (Foto: Jason Mandella)

Em Vereda tropical serão apresentadas as esculturas articuladas com base em elementos encontrados na natureza, como plantas, frutas, pedras e minerais, enfatizando a união ou organização desses elementos em termos ritualísticos ou como objetos carregados de memória. Alguns exemplos são Tartaruga moderna (2007), um abacaxi de bronze com patas de massa de modelar que remete ao réptil, e Cemitério com franja (2014), que acumula sobras de trabalhos não usados de esculturas de pepinos, ovos, abóboras e jacas encontradas em seu ateliê e unidos por paralelepípedos. Do modo como são ordenados, passam a impressão de artefatos descobertos em um sítio arqueológico.

O núcleo Metáfora do mundo traça relações de afinidade com os outros dois núcleos da mostra já citados aqui. O elemento principal das esculturas expostas é a presença do ovo como um objeto renovado em diversas obras e como metáfora do mundo. Nele, estará, por exemplo, Egg tower [Torre de ovo] (2013), que faz referência às estruturas modulares da coluna infinita do romeno Constantin Brancusi (1876-1957).

Já Totemizar o tabu conecta grupos de esculturas que impactam pela força do feminino, da sexualidade e do erotismo. Fará parte deste núcleo a escultura Venus #Freethenipple (2017), que esteve na exposição coletiva Histórias da sexualidade (MASP) e pertence à coleção do museu. Ela contempla a reivindicação do discurso ativista de igualdade de gênero e da imagem do mamilo feminino como potência, e não como tabu, comumente atacado como algo escandaloso e quase sempre censurado pela onda sexista nas redes sociais e nas ruas.

Modernismo selvagem será composto por uma famosa família de esculturas feitas em bronze de Verzutti e em forma de jaca. Elas receberam o nome de Brasília e propõem uma captura intuitiva das linhas e dos planos associados à arquitetura dos edifícios de Oscar Niemeyer (1907-2021) e Lúcio Costa (1902-1998). “Quando fiz o primeiro corte”, conta a artista, “senti como se estivesse atacando algo selvagem. Pensei que essa era uma imagem bem da arquitetura brasileira, aquele corte exato, moderno!”

Sob o sol de Tarsila (e outras histórias) baseia-se nas tramas e conexões entre o trabalho de Verzutti e referências a obras de artistas canonizados pela história da arte. Ela revisita esses artistas fazendo um movimento que consiste em deslocar, recombinar ou transmutar as cores e elementos visuais dessas obras, emaranhando e profanando os fios entre histórias da arte, natureza e fenômenos contemporâneos. Por meio de Verzutti, estarão lá as formas de Tarsila do Amaral (1886-1973) e Maria Martins (1894-1973), as cores de René Magritte (1898-1967), os relevos de Sérgio Camargo (1930-1990), e outros.

Tarsila com Novo, 2011, Coleção particular (Foto: Eduardo Ortega)

Estranho-familiar é o núcleo que organiza a produção mais recente da artista com seus híbridos entre pintura e escultura, criados entre 2011 e 2020, e denominados “relevos de parede”. É o caso de Esperança equilibrista (2020), feita durante a pandemia, cujo título evoca o trecho da letra de “O bêbado e o equilibrista” (1979), música composta por João Bosco e Aldir Blanc (1946-2020) e interpretada por Elis Regina (1945-1982).

A exposição se insere no biênio da programação de 2021-22, dedicado às Histórias brasileiras no MASP e, neste primeiro ano, voltado exclusivamente às mulheres artistas. Neste ano, todas as exposições do museu serão de artistas mulheres: Conceição dos Bugres, Maria Martins, Gertrudes Altschul, Ione Saldanha, Ana Pi, grupo Teto Preto, Regina Vater, Zahy Guajajara e Dominique Gonzalez-Foerster, além de Verzutti.

Erika Verzutti: a indisciplina da escultura

(Carta Campinas com informações de divulgação)

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