.Por Susiana Drapeau.
Depois de três semanas da CPI da Covid-19, pelo menos uma coisa ficou evidente. A CPI, independente do que venha a resultar, é o melhor antígeno contra a usina de informações falsas produzidas pelos governo Bolsonaro e seus apoiadores.
Nessas três semanas já ficou evidente a estratégia do governo Bolsonaro de manter a mentira até a última instância. Ele acredita que ninguém do governo vai trair a estratégia.
Sem razoabilidade, o governo tende a reforçar ainda mais as mentiras com seus representantes. Veja que todos os depoimentos de governistas na CPI imputaram a Bolsonaro a pecha de esquizofrênico. Eles afirmaram várias vezes que tudo que Bolsonaro diz em entrevistas e em transmissões pela internet são falsas e mentirosas. Segundo os depoentes, Bolsonaro agia no governo de forma contrária ao que dizia publicamente. Nunca agiu como se postava na internet e nas entrevistas. É um paradoxo: para manter a mentira, é preciso sustentar que o presidente é mentiroso. É uma loucura. Por isso, a CPI é um antígeno poderoso.
Talvez o governo não tenha saída e a sustentação da mentira seja a única forma de sobreviver. E talvez por isso, também, Bolsonaro ataca em outras frentes e prepara decreto para proibir que as plataformas digitais apaguem publicações ou retirem contas de usuários. O governo tenta em várias frentes manter a gigantesca bolha de falsificação que sustenta o Palácio do Planalto.
Desde a facada sem sangue, ou seja, desde as eleições, a sociedade brasileira começou se organizar contra a difusão de informações falsas pelo grupo que chegou ao poder. Sem dúvida, a construção de uma gigantesca usina de informações totalmente falsas foi a principal novidade da política em 2018.
É certo que a informação falsa sempre existiu em eleições, mas ela ganhou uma projeção nunca vista com a montagem de sites de informações falsas, canais de youtube de fake news, redes de whatsapp para difundir, milhares de robôs etc. Isso tudo, com a decisão de evitar o contraditório nos debates televisivos, permitiu a construção bem sucedida da eleição de Bolsonaro.
É por isso que a CPI da Covid incomoda tanto o governo Bolsonaro. Ela é uma espécie de parlamento do contraditório, com maior visibilidade, que funciona como uma sala de checagem das mentiras apoiadas e difundidas pelo próprio governo. É um verdadeiro antígeno contra as fake news.
Desde que Adélio saiu de forma fantástica sem um arranhão de uma multidão bolsonarista pós supostamente esfakeá-lo, a sociedade tenta combater a usina de fake news da extrema-direita miliciana. Surgiram os sites de checagem, grupos nas redes sociais contra informações falsas, veio o Sleeping Giant, veio a cobrança de atitudes de empresas como Facebook, Twitter e YouTube, além de outras tentativas.
Mas mesmo assim, o governo conseguia manter o universo ficcional criado, visto que tem o apoio e a condescendência de alguns meios de comunicação. Mas a hora da verdade pode estar chegando. E a CPI da Covid tem papel fundamental de estabelecer o contraditório e revelar a verdadeira face do governo.