Em São Paulo – Até o dia 26 de setembro, fica em cartaz no IMS Paulista a exposição “Mario Cravo Neto: espíritos sem nome”.
A exposição nasce da parceria entre o Instituto Moreira Salles e o Instituto Mario Cravo Neto que reúne em comodato no IMS o acervo de cerca de 100 mil imagens do fotógrafo. Para a exposição, foram selecionadas aproximadamente 250 fotografias do acervo, além de esculturas, cadernos ilustrados, cartas e fotografias de tiragens originais do artista, entre outros, oriundos do acervo do IMCN, totalizando 319 itens.
A trajetória do fotógrafo baiano Mario Cravo Neto começa em meados da década de 1960, mas será a partir de sua estadia de um ano em Nova York entre 1969 e 1970 que o trabalho fotográfico adquire de fato potência experimental. A partir dos anos 1970 e até sua morte prematura em 2009 sua obra conhecerá momentos diferentes, explorando atmosferas, texturas e temáticas variadas – dos magníficos retratos em fundo infinito, ao corpo a corpo com a cultura popular e a religiosidade afro-brasileira, passando pelas não menos notáveis séries dos carros e metrô em NY, do fogo na paisagem, dos ninhos. Cravo Neto é dos primeiros fotógrafos a entrarem efetivamente no circuito das artes visuais e, certamente, um dos nossos maiores coloristas. Além de fotografias e objetos, serão mostrados também vídeos e séries de desenhos e pinturas em aquarela.
Como anota o curador da exposição, Luiz Camillo Osorio,
“Mario Cravo Neto (1947-2009) nasceu em Salvador. Filho do escultor Mario Cravo Jr., teve como principais referências os amigos próximos do seu pai: Carybé, Jorge Amado, Pierre Verger, Lina Bo Bardi. Tinha a escultura no DNA, aprendeu a fotografar com dois importantes fotógrafos modernos – Hans Mann e Fulvio Roiter – e foi para Nova York, em 1969, casado com a dinamarquesa Eva Christensen, estudar na Art Students League, um período que foi um divisor de águas.
Esta exposição não toma um partido cronológico, mas se desenvolve a partir de um conjunto articulado de séries que marcam o desenvolvimento de sua poética e a pluralidade de seus interesses expressivos. Focada na fotografia, busca mostrar sua inquietação poética ao longo de quatro décadas de intensa criatividade. Alguns desenhos, filmes, livros, scrapbooks e instalações – além de um conjunto documental – são pontuações relevantes no corpo ampliado de sua obra fotográfica.
Espíritos sem nome, título de um livro seu inacabado, explicita o interesse em revelar a energia que dá vida ao aparecer dos corpos e das coisas. A fotografia, sendo um instrumento de registro rápido do mundo, é, no seu caso, atravessada pela subjetividade do olhar. Combina, assim, informação e experiência. Além disso, a manipulação posterior dos processos de revelação e impressão dava à sua fotografia uma liberdade única de, simultaneamente, falar do mundo e mostrá-lo fora da norma mimética. Vemos, assim, a imagem sendo produzida no intervalo entre a semelhança e a dessemelhança.
Depois da passagem por Nova York, volta ao Brasil no final de 1970, participando das Bienais de São Paulo de 1971 e 1973 – com esculturas, instalações e fotografias. Um artista plural, que lida com as dualidades marcadamente modernas entre natureza e cultura, construção e acaso, luz e sombra, austeridade e extroversão. Um olhar generoso que sabia captar tanto a atmosfera intimista dinamarquesa como a pulsação barroca de Salvador. Em 1975, um acidente de carro deixou-o quase um ano imobilizado. A fotografia, a partir daí, passou a ser seu principal veículo de expressão.
A maturidade como fotógrafo dar-se-ia a partir da década de 1980. Duas séries devem ser destacadas como sínteses de sua trajetória na fotografia. Primeiramente, os retratos em preto e branco feitos em estúdio com fundo infinito de lona de caminhão. Eternal Now é um título que traduz bem o que vemos. Tudo aí é artifício, estupefação, gravidade e simbolismo. Em seguida, suas grandes composições coloridas, que seriam reunidas no livro Laróyè. Revela-se um dos principais coloristas da arte brasileira contemporânea. Uma cor ao mesmo tempo vibrante e contida.
Depois das duas séries, a exposição retoma o artista experimental, que se volta tanto para a religiosidade brasileira – dos profetas de Aleijadinho aos rituais de Candomblé – como para o registro minimalista de um ninho/natureza-morta, passando por uma instalação de câmeras calcinadas e pela notável série fotográfico-performativa com fogo na paisagem. Um destaque final vai para o filme GW41 Persian Gulf, feito diante da tv durante a Guerra do Golfo. Reencontram-se nesse trabalho um conjunto de referências que o acompanha desde sempre: o fascínio pelos contrastes, pelo fogo, pela luta, pela dimensão trágica e poética da existência humana”.
Inicialmente prevista para o mês de março, a abertura foi adiada devido à pandemia de covid-19. Para visitar a mostra, é preciso agendar previamente no site. Também é obrigatório o uso de máscaras, entre outras medidas adotadas para garantir a segurança.
Mário Cravo Neto (1947-2009) nasceu em Salvador, e dizia se sentir mais baiano do que brasileiro. O povo baiano, com suas festas, sua forte religiosidade, lhe ofereceu o material que nutriu boa parte de quatro décadas de fotografia. No início da carreira retratou em cor sua cidade, mas um grave acidente de carro, em 1975, que o imobilizou parcialmente durante um bom período, fez com que começasse a fotografar em estúdio, colocando pessoas e e objetos contra um fundo neutro. Alcançou reconhecimento internacional.
Mario Cravo Neto: espíritos sem nome
Entrada gratuita
1/5 a 26/9/2021
IMS Paulista
Galeria 1
Avenida Paulista 2424
São Paulo/SP
Horário
Terça a domingo, das 12h às 18h. Última entrada às 18h
Agendamento de visitas pelo SITE.
(Carta Campinas com informações de divulgação)