‘Miserere pro nobis’
“Ninguém precisa mudar do Brasil. O Brasil já se mudou de nós./ Estamos vivendo em outro país. O Brasil da gente acabou”. (Hildegard Angel)
. Por Marcelo Mattos.
Perdido estás, perdido estivestes, um país desterrado desde o “descobrimento” que, por desencanto ou desencontro, lhe impuseram a pecha de invenção alhures e funesta.
Deus está morto e o país amarelecido apodrece sob um sol tropical e um desgoverno genocida que se ufana das mais de 400 mil mortes consentidas, das superlotações das UTI’s sem medicamentos de intubação orotraqueal, da insuficiente aquisição de vacinas, a distribuição de medicação sem eficácia, impondo impunemente à tão celebrada tortura presidencial a milhares de pacientes e a brutalidade da fome exposta, dissecada.
A desastrosa condução das políticas públicas governamentais no combate à Covid-19 (ou sua intencional e volitiva ausência) beira ao descalabro e são de responsabilidades exclusivíssimas do ora presidente da República e dos militares prepostos que, cedo ou tarde, responderão criminalmente por cada morte ou danos sociais causados ao país.
Chegamos ao morticínio de 400 mil brasileiros, de famílias destruídas, a orfandade de crianças, sequelas variadas, desamparos e miséria, ainda que a desqualificada presidência pátria, coadjuvada pela desfaçatez de uma tropa de militares igualmente ignóbeis e nefastos, zombem deste programático genocídio, ante as incolumidades e sarcasmos.
O Brasil já registra mais mortes nos primeiros meses de 2021 do que em todo o período desta mortal pandemia no ano passado.
Se o país outrora “descoberto” fora ocupado pelo poder colonial português, ora atravessamos um desgoverno civil de ocupação militar, entregue à destruição do patrimônio nacional, o fim de direitos e garantias dos trabalhadores, do entreguismo perdulário, espúrio ao barbarismo obsceno e pária.
Atônitos assistimos um desgoverno nefasto que, em meio a tantas misérias desta pandemia, concedeu a ajuda de R$ 1,2 trilhão ao sistema financeiro (bancos), enquanto milhões de brasileiros compartilham a fome, as covas coletivas, o desamparo e desemprego, o mísero auxilio emergencial de R$ 150, os anunciados “vauchers” para o sucateamento e desmonte pleno da educação e saúde.
Sejamos a voz que não cala, o grito que não cessa, a ira insubmissa de resistência e coragem, sem mínima oração triunfal e “miserere pro nobis”, contra todo negacionismo e o genocídio sistêmico.