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‘FARSA. Língua, fratura, ficção: Brasil-Portugal’ investiga as relações entre arte, poesia, política e gênero em contextos coloniais

Em São Paulo – Pode ser vista até o dia 30 de janeiro de 2021, a exposição “FARSA. Língua, fratura, ficção: Brasil-Portugal”, no Sesc Pompeia.

(Foto: Ilana Bessler)

Indagações sobre a complexidade do que é linguagem e a língua estão no cerne da exposição coletiva FARSA. Língua, fratura, ficção: Brasil-Portugal. Com curadoria de Marta Mestre e curadoria adjunta de Pollyana Quintella, a mostra propõe uma narrativa que cruza a dimensão poética, ficcional e política da arte.

Inicialmente prevista para acontecer entre os meses de abril e julho deste ano, a mostra, que teve sua abertura adiada devido às restrições impostas pela pandemia de Covid-19, agora pode ser visitada gratuitamente pelo público de terça a sexta, das 15h às 21h, e aos sábados, das 10h às 14h, mediante agendamento prévio pelo site sescsp.org.br/pompeia. As visitas à exposição FARSA têm duração máxima de 90 minutos e o uso de máscara facial é obrigatório para todas as pessoas.

FARSA. Língua, fratura, ficção: Brasil-Portugal reúne obras que sublinham a fragmentação e a polifonia por meio de uma miríade de falas decoloniais não alinhadas aos discursos universais. São trabalhos de artistas de diferentes gerações, estilos e pesquisas, nomes como Andrea Tonacci, Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino, Grada Kilomba, Gretta Sarfaty, Lygia Pape, Mariana de Matos, Mariana Portela Echeverri, Mira Schendel, Movimento Feminino Pela Anistia No Brasil, Paulo Bruscky, Pietrina Checcacci, Regina Silveira, Regina Vater, Renata Lucas, entre outros.

“O título – FARSA – aponta para uma ironia, uma torção dos sentidos. Evoca tanto uma dimensão de paródia como expõe uma ferida aberta, com o propósito de reforçar a ambiguidade e a fratura que a língua e a linguagem estabelecem”, explica a curadora Marta Mestre. “Selecionamos trabalhos de artistas que torcem uma língua e que reinventam a linguagem, questionando o seu poder de colonialidade, mas também as relações de fuga e de ficção que nos permitem, coletiva e individualmente, reinventar laços sociais, políticos e poéticos com o mundo”, completa.

O conjunto de obras em FARSA sublinha não só os usos poéticos e políticos da palavra, como a poesia visual, a montagem da fotografia, do cinema, da performance, ou as estratégias de desconstrução de gênero. As obras também mostram a dimensão viral e capitalista da linguagem nos dias de hoje, que vão desde as fake news, os “memes”, até as hegemonias linguísticas ou o uso do abjeto e da escatologia na política.

“É a partir da linguagem que podemos nos reinventar e traçar novas formas de existir. Se não é possível existir fora da linguagem, é através dela que sofisticamos uma imaginação que nos permite organizar o real e testar modos de viver e sonhar coletivamente, ontem e hoje”, afirma a curadora adjunta Pollyana Quintella.

A mostra conta com várias obras que serão expostas pela primeira vez no país, algumas delas seguem diretamente de instituições portuguesas como a Fundação Calouste Gulbenkian e o Museu Serralves, além de coleções privadas portuguesas e brasileiras, e obras de acervos brasileiros como os do Museu de Arte do Rio de Janeiro e coleções de artistas.

A exposição está ancorada em três núcleos – Glu, Glu, Glu, Outras galáxias e Palavras mil – que trazem ao público diálogos entre obras de artistas expoentes das décadas de 1960 e 1970, com a produção de artistas que emergiram no século XXI.

Em Glu, Glu, Glu, serão apresentados trabalhos que abordam a ideia de língua e de linguagem enquanto máquina de desconstrução. Assim como mecanismo voraz de deglutição e excreção dos significados, se faz prevalecer não o discurso, mas sim, os fragmentos e os cortes da realidade, expressivos em palavras e corpos.

(Foto: Ilana Bessler)

A boca é um dos elementos com grande expressividade neste núcleo e age, aqui, como um dispositivo, abrindo caminhos para ambiguidades. Neste sentido, a linguagem está atrelada ao sexo, ao erotismo e à subjetividade. Ideia recorrente em obras como Eat Me, de Lygia Pape, Ouve-me, de Helena Almeida, Verarschung, de Pêdra Costa e Blá Blá Blá, de Andrea Tonacci.

Em Outras galáxias, evoca-se a virada distópica dos anos 1960 e 1970 na literatura e nas artes visuais, que, expondo o potencial destrutivo da humanidade e do planeta, reforçou a urgência em projetar futuros longínquos através da ficção científica e da ecologia. Os trabalhos desse núcleo afirmam a possibilidade de “transicionar” de vida, de gênero, de subjetividade, e de reinventar a linguagem e o humano através da ficção e da fuga nas periferias do cosmos. O caráter lúdico é visível nas obras: Júpiter, Lua chegada, Marte aterrissagem, Saturno, Visão da Terra, da série Yauti in Heavens de Regina Vater, e Fato de ouro, Fato de pedra, Fato de madeira, 2016 de Mumtazz e 7 para 8, de Dayana Lucas.

Em Palavras mil, apresentam-se trabalhos que lidam com a poesia e a revolução, muitos deles reportando-se à transição entre ditadura e democracia em Portugal e no Brasil. Abordam o gesto político, íntimo e coletivo por meio do manifesto escrito ou performado, da visualidade das lutas sociais, ou da sonoridade desejante das ruas.

São percepções que transbordaram para a amplitude dos gestos nas ruas, tanto no Brasil, com a multiplicação de grupos fragmentados entre as esferas de poema, processo, poesia concreta e etc., quanto em Portugal, onde poetas produziam revistas e poesias experimentais. O público poderá refletir sobre isso por meio de obras como Em Revolução, de Ana Hatherly, Amanhã não há arte, de Carla Felipe, Time on my hands, de Lucia Prancha, Ocultação/Desocultação, de Ana Vieira, ELAS DEVEM TER NASCIDO DEPOIS DO SILÊNCIO, de Jota Mombaça e What we are talking about, de Ana Pi .

Lista completa de artistas que integram a exposição:

Agrippina R. Manhattan, Alexandre Estrela, Aline Motta e Rafael Galante, Ana Hatherly, Ana Nossa Bahia e Pola Ribeiro, Ana Pi, Ana Vieira, Andrea Tonacci, Anitta Boa Vida, Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino, Carla Filipe, Carmela Gross, Caroline Valansi, Clara Menéres, Clarissa Tossin, Dayana Lucas, Denise Alves-Rodrigues, Dj Pelé, E. M. de Melo e Castro, Ernesto De Sousa, Eva Rapdiva, Francisca Carvalho, Gal Costa, Gê Viana e Márcia de Aquino, Grada Kilomba, Gretta Sarfaty, Gretta Sarfaty e Elvio Becheroni, Helena Almeida, Helena Ignez, João Vieira, Jota Mombaça, Katú Mirim, Linn Da Quebrada, Lúcia Prancha, Lygia Pape, Mariana de Matos, Mariana Portela Echeverri, Mira Schendel, Movimento Feminino Pela Anistia No Brasil, Mumtazz, Música Portuguesa A Gostar Dela Própria, Neide Sá, Nelly Gutmacher, Noite & Dia, Olga Futemma, Paula Rego, Paulo Bruscky, Paulo Bruscky e Unhandeijara Lisboa, Pêdra Costa, Pietrina Checcacci, Regina Silveira, Regina Vater, Renata Lucas, Rita Natálio, Rita Natálio e Alberto Álvares, Salette Tavares, Sara Nunes Fernandes, Thereza Simões, Titica, Túlia Saldanha, Vera Mantero, Victor Gerhard, Von Calhau!, Yuli Yamagata.

(Foto: Ilana Bessler)

Galeria virtual

Com o fechamento temporário do atendimento presencial das unidades operacionais do Sesc, em março, e a busca por meios que possibilitassem o encontro e a conexão com o público, premissas inerentes do Sesc São Paulo, nasceu , um espaço novo, um anexo virtual, pensado para ser um ambiente acolhedor e democrático, semelhante ao espaço físico dos galpões que compõem a arquitetura icônica projetada por Lina Bo Bardi.

Foi pensada para funcionar como uma extensão da unidade física. Portanto, o espaço virtual, neste momento em que é necessária atenção e respeito aos protocolos preventivos contra o covid-19, pretende conectar o público ao fazer artístico e democratizar o acesso às artes visuais.

Assim, a exposição FARSA ganha um desdobramento no ambiente digital que amplia as possibilidades de conhecimento e reflexão sobre as obras, além de promover a participação e interação com os visitantes.

Iniciada num contexto pré-pandemia e realizado durante este momento pandêmico, a versão virtual de FARSA é um novo componente da exposição, tem vida própria e é uma reflexão, não sem alguma ironia, sobre o futuro pós-pandemia observado através da lente das artes visuais.

A plataforma traz também uma série de depoimentos de artistas que produziram obras especialmente para a exposição física, entre elas Rita Natálio (Portugal), Sara Nunes Fernandes (Portugal), Lúcia Prancha (Portugal), Aline Motta (Brasil) e Caroline Valansi (Brasil). Leituras de textos das poetas, Raquel Nobre Guerra (Portugal), Natasha Felix, Ismar Tirelli Neto e Angélica Freitas (Brasil), também somam ao site.

Uma entrevista inédita das artistas Grada Kilomba e Jota Mombaça conduzida pela curadora Marta Mestre também estará disponível no site. Na conversa, elas abordam a língua como espaço de colonialidade e poder. Realizada em Berlim, onde ambas as artistas vivem e trabalham, a entrevista disseca a ambivalência da violência e da cordialidade na língua que falamos e procura desmontar a ideia de “lusofonia”, percorrendo exemplos de trabalhos e performances recentes de ambas as artistas.

O vídeo inédito “Máximo Desempenho”, da artista brasileira Marina Dalgalarrondo, uma performance 3D, é uma das grandes novidades de “FARSA” online. A performance original de Marina trata de uma proposta ficcional de um acontecimento futuro e serve de convite à navegação no site. Ambientado por uma trilha sonora que sugere desconforto, uma figura humana vestindo uma indumentária estranha corre em uma exaurida esteira de jogging.

Segundo as curadoras da exposição, a performance indica “um desempenho máximo dos corpos, mas também máximo desempenho da linguagem, da língua, extração permanente de significados. A total integração do trabalho linguístico com a valorização do capital, e um comentário à linguagem que incorpora regras econômicas de competição, escassez e superprodução”, explicam Marta Mestre e Pollyana Quintella.

Além do desdobramento da exposição FARSA, este novo ambiente digital oferece um acervo de obras que se encontram na unidade e conteúdos relativos à história patrimonial do próprio Sesc Pompeia.

Orientações de segurança para visitantes

O Sesc São Paulo retoma, de maneira gradual e somente por agendamento prévio online, a visitação gratuita e presencial a exposições em suas unidades na capital, na Grande São Paulo, no interior e no litoral. Para tanto, foram estabelecidos protocolos de atendimento em acordo com as recomendações de segurança do governo estadual e da prefeitura municipal.

Para diminuição do risco de contágio e propagação do novo coronavírus, conforme as orientações do poder público, foram estabelecidos rígidos processos de higienização dos ambientes e adotados suportes com álcool em gel nas entradas e saídas dos espaços. A capacidade de atendimento das exposições foi reduzida para até 5 pessoas para cada 100 m², com uma distância mínima de 2 metros entre os visitantes e sinalizações com orientações de segurança foram distribuídas pelo local.

A entrada na unidade será permitida apenas após confirmação do agendamento feito no portal do Sesc São Paulo. A utilização de máscara cobrindo boca e nariz durante toda a visita, assim como a medição de temperatura dos visitantes na entrada da unidade serão obrigatórias. Não será permitida a entrada de acompanhantes sem agendamento. Seguindo os protocolos das autoridades sanitárias, os fraldários das unidades seguem fechados nesse momento e, portanto, indisponíveis aos visitantes.

FARSA. Língua, fratura, ficção: Brasil-Portugal
Local: Sesc Pompeia
Curadoria: Marta Mestre e Pollyana Quintella (curadoria adjunta)
Período expositivo: 20 de outubro de 2020 a 30 de janeiro de 2021
Funcionamento: Terça a sexta, das 15h às 21h. Sábado, das 10h às 14h.
Tempo de visitação: Até 90 minutos
Agendamento de visitas: www.sescsp.org.br/pompeia
Classificação indicativa: livre
Grátis

Galeria virtual
https://www.sescsp.org.br/anexa

Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93.
Não temos estacionamento. Para mais informações, acesse o portal: sescsp.org.br/pompeia
A entrada é gratuita. Agendamento de visitas e mais informações em sescsp.org.br/pompeia

(Carta Campinas com informações de divulgação)

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