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Do amor pela imagem: ‘Hudinilson Jr.: Explícito’ mostra a pulsão erótica do artista em 77 obras

Em São Paulo – Pode ser vista até o dia 4 de janeiro, na Pina Estação, a exposição Hudinilson Jr.: Explícito, que reúne 77 obras provenientes de uma expressiva e recente doação com 95 itens ao acervo do museu realizada pela família do artista e pela Galeria Jaqueline Martins. Com curadoria de Ana Maria Maia e assistência de Thierry Freitas, ambos da equipe do museu, o recorte propõe elucidar, de maneira panorâmica, aspectos da trajetória desse “artista total”, falecido em 2013 aos 56 anos.

Hudinilson Jr., Exercício de me ver I, 1980
Envelope em cola e papel e nove fotocópias sobre papel
(Imagem: Isabella Matheus / Cortesia Pinacoteca de São Paulo)

A exposição reúne fotografias, xilogravuras, desenhos, documentos, cadernos, objetos e trabalhos em xerografia. Entre os últimos consta uma de suas séries mais conhecidas, Exercício de me ver (1980-1984), que marca seu pioneirismo, no início dos anos 1980, no uso da xerox como suporte artístico no Brasil. Entre 1975 e 1981, Hudinilson Urbano Jr. (1957-2013) coordenou o Centro de Xerografia na Pinacoteca, no qual foi responsável por fomentar uma produção prática, teórica e editorial nesse suporte. Realizou ainda, na instituição, quatro exposições individuais e curou duas coletivas com trabalhos produzidos a partir do mesmo suporte.

Hudinilson Jr., Caderno de referência nº 94, anos 2000
(Imagem: Isabella Matheus / Cortesia Pinacoteca de São Paulo)

Durante o período de pesquisas e dispondo frequentemente do próprio corpo nu, utilizou uma fotocopiadora da instituição para realizar ações que unem performance e registro e que acabaram tornando-se marcos importantes da arte produzida no período. Com a doação, a série retorna agora ao espaço onde foi concebida. Em Detalhe do detalhe (1981-1983), espécie de desdobramento de Exercício de me ver, Hudinilson Jr. ampliou pequenos pedaços da primeira série até sua quase total abstração, escapando assim de uma eventual censura devida à aspiração erótica e pornográfica da obra. Dessa necessidade constante de se expor, de se tornar explícito, surge também a obra Intra Narciso (1990), em referência à personagem da mitologia grega que se apaixona pela própria imagem. A figura, adotada pelo artista como codinome ao longo da vida, aparece em boa parte de suas obras.

Tomando ainda como base a autorrepresentação, o homoerotismo e o gesto contracultural, interessou-se por outros suportes como o estêncil (aprendizado adquirido através do artista Alex Vallauri), a arte postal, a performance, o grafite e as intervenções urbanas. Para as últimas, costumava sair à noite pelas ruas de São Paulo e se juntou à Mario Ramiro (1957) e Rafael França (1957 – 1991) para montar o coletivo 3NÓS3, celebrado por suas ações transgressoras no espaço público entre 1979 e 1982.

Segundo a curadora, é essa vontade pública que parece definir a trajetória do paulistano. “Ainda que íntima e particular, sempre calcada nas experiências pessoais, sua obra se prestou a testar os efeitos de se estar exposto, sujeito às relações e disputas de um repertório comum”, ela reflete. O museu e a cidade, portanto, foram duas instâncias da vida pública com as quais o artista se engajou. Esse interesse consta nos projetos que desenvolveu no decorrer de mais de três décadas de carreira, e que agora, graças ao gesto generoso de sua família, podem se unir às quatro obras já existentes na coleção da instituição, abrindo caminhos para que a Pinacoteca venha a tornar-se um dos principais locais de pesquisa sobre o legado do artista.

Hudinilson Jr., Sem título, 1980-2009 Colagem
(Imagem: Isabella Matheus / Cortesia Pinacoteca de São Paulo)

Por fim, o título da exposição faz referência à obra Explicit (anos 1980), que Hudinilson grafitou com estêncil e tinta spray sobre os muros de São Paulo. O termo é replicado na forma de uma pequena obra em papel que faz parte da mostra e que pode oferecer algumas chaves de entendimento sobre a conduta na vida e na arte de um artista cujo caminho se construiu à revelia do conservadorismo e do preconceito.

Hudinilson Urbano Jr.  (São Paulo, Brasil, 1957 – 2013) cursou artes plásticas na Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP entre 1975 e 1977 e em 1979 fundou com os artistas Rafael França (1957 – 1991) e Mário Ramiro (1957) o grupo 3NÓS3, que até 1982 realizou intervenções artísticas na paisagem urbana de São Paulo.  Fez exposições na Galeria Chaves, Porto Alegre, e no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo – MAC-USP em 1983. Em 1984 participou da 1ª Bienal de Havana e da exposição Arte Xerox Brasil, na Pinacoteca de São Paulo, da qual foi o curador. Expôs na 16ª e na 18ª Bienal Internacional de São Paulo (1981 e 1985) e na 3ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul, em 2001. Em 2017 o trabalho de Hudinilson Jr foi apresentado em importantes exposições coletivas, como Histórias da Sexualidade, MASP – São Paulo, Copyart in Brazil – 1970-1990, University of San Diego e The Matter of Photography in the Americas, Stanford University.  Seu trabalho integra importantes coleções, entre elas as do MoMA (Nova York, EUA), Museu Reina Sofia (Madrid, Espanha), Migros Museum (Zurique, Suiça), MAGA Museod’Arte (Gallarate, Itália), MALBA (Buenos Aires, Argentina), MASP (São Paulo,Brasil), Centro Cultural São Paulo (São Paulo, Brasil), Pinacoteca do Estado (São Paulo, Brasil) e o Museu de Arte Contemporâneada USP (São Paulo, Brasil).

Hudinilson Jr.: Explícito
Curadoria de Ana Maria Maia
Assistência de curadoria de Thierry Freitas
Abertura: 15 de outubro
Visitação: 15 de outubro a 04 de janeiro de 2021
Pinacoteca de São Paulo:
Edifício Pina Estação
Largo General Osório, 66 – Luz – 2º andar
Gratuita todos os dias.

Classificação indicativa: 16 anos;

(Carta Campinas com informações de divulgação)

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