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‘Véxoa: Nós sabemos’ denuncia os crimes contra os índios reunindo 23 artistas e coletivos de todo país

Em São Paulo – Pode ser vista até o dia 22 de março de 2021, a mostra “Véxoa: Nós sabemos”, na Pinacoteca de São Paulo. Trata-se de uma exposição dedicada à produção indígena contemporânea, com curadoria da pesquisadora indígena Naine Terena. Véxoa: Nós sabemos contará com a presença de 23 artistas/coletivos de diferentes regiões do país, apresentando pinturas, esculturas, objetos, vídeos, fotografias, instalações, além de uma série de ativações realizadas por diversos grupos indígenas. Os trabalhos poderão ser vistos pelo público no Edifício Luz.

Obras de Daiara Tukano. Acima, uma pintura de cobra realizada na parede; abaixo, os Hori, conjunto de quatro pinturas sobre tela (Imagem: Divulgação)

A mostra é um marco da representatividade dentro da Pina: “A Pinacoteca de São Paulo se dedica às artes visuais brasileiras desde sua fundação, em 1905, mas somente em 2019 incorporou ao seu acervo obras de arte brasileira produzidas por artistas indígenas. Esta exposição é fruto de um diálogo ativo durante os últimos anos entre o museu e diversos atores da arte contemporânea de origem indígena brasileira, colocando em debate a história da arte que o museu pretende contar e as que permaneceram invisíveis”, afirma o diretor-geral do Museu, Jochen Volz.

No ano passado, por meio do Programa de Patronos de Arte Contemporânea da Pinacoteca de São Paulo, foram adquiridas obras feitas por artistas indígenas, fato inédito na história do museu: Feitiço para salvar a Raposa Serra do Sol, de Jaider Esbell, e Voyeurs, Menu, Luto, Vitrine; O antropólogo moderno já nasceu antigo; e Enfim, Civilização, de Denilson Baniwa. Os trabalhos fazem parte da nova exposição do acervo da instituição que será inaugurada também em 31 de outubro.

Exposição

Véxoa: Nós sabemos ocupa as três novas salas para exposições temporárias, localizadas no segundo andar da Pina Luz, em diálogo com a nova apresentação das coleções do museu. A doutora em educação (PUC/SP), mestre em artes (UNB) e ativista Naine Terena se dedica a uma pesquisa de longa data que tem se aprofundado no último um ano e meio. “A grande intenção é fazer uma mostra que não tenha uma centralização no pensamento do curador ou da instituição, mas que considere profundamente o local de fala dos artistas, os anseios”, comenta.

Os trabalhos selecionados, obras históricas e contemporâneas de artistas individuais e também de coletivos, demonstram a pluralidade da produção de artistas indígenas. São pinturas, instalações, esculturas, objetos, vídeos e fotografias que desmistificam a produção artística indígena à condição de artefato ou artesanato.

Em Véxoa, a organização expositiva dos trabalhos não é cronológica, pois leva em consideração as diferentes temporalidades da produção artística indígena, que se transforma no tempo e não é efêmera ou pontual. “Por isso as obras ocupam espaços dialógicos independente da sua estrutura, localidade de origem, artista ou outra classificação, como a etnográfica”, explica Naine.

A exposição reverencia a importância de figuras históricas, trazendo trabalhos inéditos de artistas já conhecidos e também abre espaços para novos, demonstrando também a forte atuação do cinema e da fotografia indígenas, além de amplificar iniciativas de comunicação existentes, como a Radio Yandê.

Destaque para as obras produzidas em diferentes suportes, da fotografia ao vídeo, passando pela cerâmica, o bordado e o uso de materiais naturais, entre outros, além da presença de obras de um dos grandes pensadores indígenas brasileiro, Ailton Krenak. No tocante às pinturas, o Coletivo Huni kui Mahku, do Acre, formado por artistas plásticos indígenas que realizam murais a partir da vivência de diferentes lugares, procurará transpor para suporte da tela as distintas dimensionalidades que a Pinacoteca e a exposição carregam.

O artista plástico Jaider Esbell, indígena da etnia Macuxi, traz os diálogos interativos na obra coletiva Árvore de todos os saberes, um painel de lona de dois metros que, desde 2013, vem sendo realizado por povos indígenas do Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Estado Unidos, México. Além desta produção, ele apresenta mais quatro vídeos que discutem temas como o neoxamanismo; a mercantilização dos saberes dos povos originários; denuncia os ataques aos seus parentes indígenas Makuxi e demonstra a inserção de uma nova geração de indígenas no universo das tecnologias digitais para registrar as memórias e suas experiências nos dias de hoje.

Também já conhecido do público, Denilson Baniwa, nascido na aldeia Darí, da comunidade Baturité/Barreira, no Amazonas, apresenta duas obras: uma instalação com vestígios do incêndio do Museu Nacional do Rio de Janeiro, numa referência à destruição da cultura material indígena ali preservada, e realiza uma ação de plantio de flores, ervas medicinais e pimenteiras no “território” externo da Pinacoteca, que será transmitida por meio de câmeras de segurança para o interior do museu.

O ativismo feminino estará presente por meio da produção de Yakunã Tuxá, da etnia Tuxá na Bahia, que propõe uma reflexão sobre os desafios das mulheres, em especial as indígenas. As ilustrações abordam as suas ancestrais, a força, a beleza e os preconceitos vividos pela mulher indígena nas grandes cidades.

Na mostra também se destacam produções de “etnomídia indígena”, em que as ferramentas de mídia são utilizadas pelos próprios povos, gerando autonomia, representatividade e pluralidade dos discursos. Se destacam Olinda Muniz Tupinambá (Tupinambá, Bahia), o Coletivo Ascuri (Mato Grosso do Sul), Anapuaká Tupinambá (Tupinambá, Bahia) e Edgar Correa Kanaykõ (Xakriabá, Minas Gerais).

A Ascuri (Associação Cultural dos Realizadores Indígenas), formada por jovens realizadores/produtores culturais que usam a linguagem cinematográfica, traz para a exposição as diferentes facetas vividas pelos povos Terena e Kaiowá, entre outros, propagando o “jeito de ser indígena” a partir de suas produções.

Ainda no campo do vídeo, a diretora Olinda Muniz Tupinambá faz a estreia do filme “Kaapora”, uma produção que segundo a diretora, é feita para seu povo e também para o público externo. Ela explica que o filme é uma forma de fortalecer a cosmovisão de sua comunidade, embora também se preocupe com o que o não índio irá entender sobre sua produção. Assim como Daiara Tukano, reconhecida ativista, apresenta uma série de pinturas, os Hori, que propõem um diálogo com a cosmovisão Tukano.

A primeira web rádio indígena do Brasil, a Rádio Yandê (Nós, em Tupi), também estará presente, representada por seu co-fundador, Anapuaká Tupinambá, realizando uma programação especialmente desenvolvida para a mostra.

Em muitos dos trabalhos, será nítida a relação entre arte e ativismo indígena, aspecto inerente às práticas desses artistas. É o caso das fotografias em preto e branco do artista Edgar Kanayrõ que retratam a dança, a pintura corporal e a luta do seu povo, os Xakriabá, pela demarcação e revisão dos limites de terra no município de Itacarambí, em Minas Gerais.

No campo das esculturas, a pataxó Tamikuã Txihi expõe Áxiná (exna)Apêtxiênã e Krokxí que simbolizam os guardiões da memória. Em 2019, essas peças sofreram ataques motivados por racismos em relação aos povos indígenas durante a Mostra Regional M”BAI de Artes Plásticas na cidade de Embu das Artes.

A exposição também discute os estereótipos a respeito das artes indígenas, frequentemente associadas apenas a peças de artesanato. Para isso, os artistas Gustavo Caboco, Lucilene Wapichana, Juliana Kerexu, Camila Kamē Kanhgág, Dival da Silva e Ricardo Werá, exibem objetos confeccionados por indígenas que usualmente não são considerados como tal. Por carregarem símbolos e elementos que não são considerados pertencentes à cultura dos povos originários, erroneamente passam a ser desconsiderados como arte indígena.

Durante o período em que a exposição ficará em cartaz, a mostra também será composta de ativações, iniciando com Jaider Esbell. As mulheres Terena, de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, irão entoar os seus cantos lúdicos e ritualísticos. A presença dos Praiá, materialização dos encantados do povo Pankararu (comunidade que reside na grande São Paulo), também está confirmada e é uma outra programação que ocorrerá no período, ampliando os repertórios, conceitos e olhares de todos os visitantes. As datas dessas ações serão divulgadas posteriormente.

A exposição Véxoa: Nós sabemos faz parte de um projeto de pesquisa, com o título OPY, que é uma colaboração entre três instituições distintas, a Pinacoteca, a Casa do Povo e a aldeia Tekoa Kalipety – um museu do Estado, um centro cultural independente e uma comunidade Guarani Mbya perto do bairro da Barragem no sul da capital. OPY levanta questões ainda maiores em torno do projeto: Se olharmos a história da arte do ponto de vista do que não existe? Através de uma exposição de artistas indígenas contemporâneos e uma série de performances e seminários; promovendo ações fora dos limites físicos do museu; e ao criar atrito entre a coleção de museus e as práticas de arte indígena, este projeto visa destacar a ausência de arte indígena nas coleções de museus, abordar questões de preservação, transmissão de conhecimento e ensaiar um outro Brasil. 

Mais informações pelo SITE da Pina.

Véxoa: Nós sabemos

Horário em novembro: 12h às 20h

Horário em dezembro: 10h às 18h

Ingressos: gratuitos, apenas no site. clique aqui

Curadoria: Naine Terena

Endereço: Praça da Luz, 2, Luz.

Importante: O ingresso é válido para visitar a exposição Véxoa: Nós Sabemos e a exposição: Acervo.

Ele não é válido para visitar as salas expositivas da exposição OSGEMEOS: Segredos, que tem ingresso exclusivo e que também deve ser adquirido/reservado no site.

(Carta Campinas com informações de divulgação)

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