O antropólogo Luiz Eduardo Soares, especialista em segurança pública, afirmou que o avanço das milícias (crime organizado) aponta para um aumento das ambições políticas desses grupos criminosos para próximas eleições municipais.
“O combate às milícias não é somente uma questão de segurança pública, mas uma questão vital para a sobrevivência da democracia do Brasil”, afirmou.
Soares criticou ainda a letargia de políticos e partidos que dão segmento a seus próprios projetos, sem entender a urgência e a gravidade do momento atual, permanecendo inertes ao avanço da degradação das instituições pelas milícias.
“Temos um presidente fascista que não consegue impor um regime totalitário, mas é motivado por seus valores. Não faz sentido que os atores políticos democráticos e progressistas continuem lidando com essa realidade como se fosse normal, tratando das suas próprias carreiras; e os partidos, cuidando dos seus projetos. Tem que parar tudo, deixar os jogos de lado, pois o que resta de vida civilizada e democrática está sendo devorado”, desabafou. E sentenciou: “Talvez não haja 2022 em condições efetivamente democráticas”.
De acordo com soares, não basta impedir apenas a eleição dos milicianos. “Eles não chegaram aonde chegaram por eles próprios, mas com o apoio e cumplicidade institucional, com a falta de compromisso democrático”, sinalizou.
Para ele, não é possível vislumbrar, com o que está posto, forças para combater as milícias. “O Ministério Público se cala com a violência da esfera policial, não age, nem compreende as milícias como um desvio das instituições; a Justiça muito menos; a corregedoria e os controles internos da polícia não funcionam; e os governos estão nas mãos das polícias, são presas fáceis dos grupos corruptos, que logo nos primeiros dias apresentam aos governadores dossiês a seu respeito para chantageá-los”, apontou Soares. “Nós não temos de um lado as instituições e, de outro, o crime. Essa é a nossa tragédia”, ressaltou.
A saída para o cerco das milícias, segundo Soares, seria uma ampla mobilização da sociedade. “A sociedade precisa cobrar o compromisso democrático e com a vida e começar de novo na área de Segurança Pública, reunindo o que há de vivo e inteligente na sociedade e na Polícia Militar, onde há milhares de policiais honestos que vivem acuados. Essa situação não se resolverá daqui a dois anos, mas o primeiro passo precisa ser dado”, completou.
Ao traçar a genealogia das milícias, Soares classificou as polícias como “incubadoras das milícias”, que, por sua vez, se beneficiam das polícias, seja apontando áreas para incursões com eliminação de competidores e de traficantes e a subordinação de sobreviventes para cooptação; seja para obtenção de armamentos. “As polícias abastecem as milícias e fazem acordos com elas, o que vai degradando a instituição”, explica Soares. E conclui: “O estado não foi capaz de combater as milícias nem se dispôs a fazê-lo.” (Com informações de divulgação)
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