O empresário Marco Aurélio Flores Carone, de Minas Gerais, provavelmente nunca afirmou que os ministros do STF ou das cortes de Minas Gerais são ‘arrombados’ ou fez ameaça direta e em vídeo como fazem os extremistas que apoiam Bolsonaro em Brasília. (Veja mais um vídeo abaixo dos extremistas apoiadores do governo).
Diferente desses que agridem integrantes do STF, o empresário ficou quase um ano preso por publicar reportagens verdadeiras (não eram fake news) que denunciaram a corrupção no governo de Minas Gerais. Sob outro peso judicial, os integrantes do chamado ‘gabinete do ódio’, investigado pelo STF por ameaças e difusão de mentiras contra pessoas e instituições, estão soltos.
O caso Carone é uma escabrosa história brasileira que emergiu de Minas Gerais sobre a atuação de uma organização criminosa montada por políticos e agentes públicos dentro do estado brasileiro e que teve a conivência do Judiciário, da Polícia e do Ministério Público. Essa é a conclusão a que chegou o segundo delegado que atuou no caso e concluiu a investigação. Diferente do autoritarismo fascista, em um estado democrático foi possível reparar a verdade após um período, pelo menos.
Coincidentemente, a história começou no ano da reeleição de Dilma Rousseff, em 2014. E o personagem principal por trás dessa história é o derrotado na eleição presidencial, Aécio Neves.
Reportagem de Conceição Lemes, do Vi o Mundo, narra que em 20 de janeiro de 2014, o dono do NovoJornal, Marco Aurélio Flores Carone, chegou por volta das 6h no jornal. O NovoJornal relatava várias denúncias contra o governo Aécio Neves (PSDB).
“Mas, diferentemente de outras manhãs, três viaturas da Policia Civil de Minas Gerais estavam na porta. Ele mal começou a descer do carro, seis policiais lhe apontaram metralhadoras e um disse: “Você está preso!”. Três dias antes, a juíza Maria Isabel Fleck, da 2ª vara criminal de Belo Horizonte, decretara a prisão preventiva do jornalista, a pedido do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Entre outras alegações, dizia que o NovoJornal era “utilizado para lançar ofensas à honra de autoridades públicas” (…), imputando inverdades àqueles que cumprem seus deveres funcionais” .
Uma coincidência relatada na reportagem é que justamente três dias antes da prisão, ou seja, no dia em que a juíza decretou a prisão de Carone, a irmão de Aécio Neves, Andrea, foi até o jornal. “No livro Diálogo com ratos, o jornalista e escritor Geraldo Elísio conta que no dia 17 de janeiro 2014 Andrea foi ao NovoJornal e disse que se Carone não parasse com as matérias contra o Aécio, ele ia ser preso e o NovoJornal fechado. O que dá a entender, segundo a narrativa, é que Andrea Neves tinha poder para reverter a prisão de Carone, decretada naquele mesmo dia.
Na decisão que pediu a prisão, a juíza reproduziu trecho da denúncia do promotor André Luiz Garcia de Pinho, da Promotoria de Combate ao Crime Organizado do MPMG. Nele, o promotor tacha Carone de ser “membro de quadrilha”, e o NovoJornal de atuar “como verdadeiro balcão para intimidação e desmoralização das vítimas da quadrilha”.
Em coletiva de imprensa, o promotor André Pinho e o delegado César Matoso, da 2ª Delegacia de combate a crimes cibernéticos, acusaram o jornalista de falsificação de documentos, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.
A reportagem relata que o que aconteceu é que Carone foi preso por ação direta do grupo de Aécio Neves no Judiciário e na Polícia. No mesmo dia, o nome de Carone estava estampado em toda a mídia, como “achacador”, “falsário”, “integrante de quadrilha”.
O encarceramento teve a ver com reportagens publicadas, como as sobre as listas de Furnas e do mensalão tucano, reveladas pelo lobista Nilton Monteiro e comprovadamente verdadeiras. Mas foi devido principalmente a denúncias que o NovoJornal iria publicar contra Aécio, então candidato à presidência da República. Tanto que Carone só foi solto após o 2º turno da eleição de 2014. Dos 9 meses e 15 dias de encarceramento, três meses foram na solitária, incomunicável. O promotor André Pinho e o delegado César Matoso abriram dois inquéritos contra o jornalista.
Mas, como a função da verdade é aparecer, em 2 de maio de 2016 Carone obteve a primeira vitória. A juíza Kenea Márcia Damato de Moura Gomes, da 12ª Vara Criminal de Belo Horizonte, mandou arquivar um dos inquéritos, pois nada se provou das denúncias do promotor André Pinho.
O delegado Rodrigo Bossi de Pinho, que assumiu a a investigação após o afastamento de Matoso, concluiu o inquérito sem indiciar Carone que, segundo o delegado, sofreu todo tipo de perseguição por denunciar os esquemas de corrupção nos governos de Minas. O delegado concluiu que Carone foi vítima de uma organização criminosa que operou dentro do governo de Minas Gerais.
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