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Discutir a volta do futebol no atual momento é dizer “E daí?” para as vítimas da Covid-19

.Por Antonio Bufalo.

No momento em que o Coronavírus avança na população mais pobre e a saúde pública está esgotada, os cartolas de grandes clubes brasileiros discutem quando retomar os campeonatos estaduais e nacionais.

(foto lucas uebel – fbpa – fp)

Recentemente o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, afirmou o seguinte: “Por que não voltar o futebol? Só porque a curva da pandemia está ascendente? Mas está ascendente porque outras atividades não estão usando o nosso protocolo. Qual protocolo lojas de construção? O futebol ta dando exemplo”.

Essa declaração é um completo absurdo, pois o futebol não é uma atividade essencial. Outra questão: dizer que o futebol “ta dando exemplo” é contradizer a própria fala.

Na Alemanha, a Bundesliga só retornou quando a pandemia foi controlada pelo sistema de saúde e a curva de contaminação não estava mais em ascendência, diferente do Brasil.

Também é importante ressaltar que, jogadores de futebol muitas vezes são exemplos para a população e, dessa forma, ao liberar as partidas oficiais, automaticamente estará estimulada a prática do esporte pelas pessoas “comuns”.

Outro dado que assusta, foi publicado nesta segunda-feira (25/05) pelo Globo Esporte. Segundo pesquisa, 55% dos atletas da série A apoiam a volta do futebol no Brasil, mesmo nas condições atuais. Isto demonstra uma preocupação maior com os salários e o “prazer de jogar bola” do que com as vidas de milhares de pessoas envolvidas para que uma partida aconteça.

Aliás, este olhar muitas vezes, faz com que o atleta ignore inclusive a camisa que está defendendo. Isto revela ainda desinformação e ignorância sobre o estímulo que significaria para a população abandonar o distanciamento, que é a forma mais importante de combate a contaminação e preservação das condições do sistema de saúde. 

Outra informação trazida pelo Uol que causa indignação, está na matéria dos jornalistas Caio Blois e Léo Burlá. Ela retrata a intenção do governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel (PSC) em retomar as partidas no estado, com ocupação de 50% da capacidade dos estádios, o que também contraria o exemplo da Alemanha.

É absurdo pensar que, no esporte em que os gols são comemorados com abraços aleatórios, não ocorrerá contaminação de milhares de pessoas por conta de um (neste caso) simples jogo de futebol.Espero que os envolvidos com o futebol no país tenham o mínimo de sensibilidade para compreenderem que o futebol não anda descolado do mundo.

Jogadores, técnicos e cartolas são seres humanos como muitos outros amantes do futebol, dentro e fora das quatro linhas, independente de suas classes sociais.  É preciso ter paciência e estimular suas torcidas a ficarem em casa, num exercício de solidariedade, para que logo a situação seja amenizada e possamos começar a voltar juntos aos gramados e às arquibancadas, mesmo que isso traga prejuízos econômicos e contrarie interesses de grandes emissoras que mandam no futebol brasileiro.

Caso contrário, quando o público puder voltar aos estádios, suas arquibancadas deixarão de ser ocupadas totalmente, não por suposta medida de segurança em saúde, e sim porque, simplesmente, torcedores e torcedoras, desprotegidos neste momento de crise, não existirão mais.

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