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O capitão foge covardemente da batalha, trai o Exército e espera o vírus matar seu povo

2. O vírus do bolsonarismo (parte 1)

.Por Roberto Roque Lauxen.

Procurava-se uma estratégia para a guerra e um Capitão que comandasse a batalha. Mas eis que aquele que sempre destacou suas virtudes patrióticas e seu ideal militar de soldado e de atleta, foge covardemente da batalha, não quer combater o inimigo mortal, salvar a nação do vírus; ao contrário, espera que o inimigo vença, que atinja a todos, e depois, que se recolham os corpos. O Capitão, tal como outrora traiu a corporação do exército, trai covardemente seus compatriotas.

(imagem: denis doukhan – pl)

O Capitão logo demonstrou sua inépcia para lidar com a crise. Ao invés da observação dos dados apurados em outros países, da opinião dos especialistas e da ciência (velocidade do contágio, número de mortes, curva de blackout do sistema de saúde, etc.), organiza seu discurso sob a aura da obscuridade – marca maior de seu governo –, pautado na minimização do problema (“gripezinha”), na promessa de cura através de um remédio ainda testes (Cloroquina), na conspiração da mídia e na rebeldia dos governadores e prefeitos. Depois de muitos discursos desastrosos, a condução das decisões foram tomadas à revelia do Capitão.

Para fugir novamente à luta, mais uma vez o Capitão recolhe-se no seu grupo de rebeldes e sua mídia paralela – onde não precisa responder o que não quer, pode escolher as perguntas e dizer o que pensa sem ser contrariado, na companhia de seus “papagaios”. Como outrora planejara colocar uma bomba no quartel, cria sua própria estratégia para o enfrentamento da crise, tal como se organizasse um motim, insuflando sua militância à revelia do espírito republicano, desrespeitando as decisões tomas por seu próprio Ministério, e sem que ninguém pudesse decretar ainda seu isolamento compulsório.

Não se alinhando com os estrategistas especializados neste tipo de batalha, o Capitão decide pela desobediência e passa a insuflar seus soldados rebeldes, sua milícia digital e seus fieis estrategistas, soldados 01, 02, 03 e 04. A República possui apenas um inimigo, o vírus, mas os amotinados possuem dois, eles precisam ainda combater o comunismo, a “extrema imprensa”, os governadores e prefeitos – alguns, antigos adeptos do bolsonarismo, que se desligam um a um.

Procuram minar as decisões dos especialistas e furar o bloqueio, conclamando seus soldados e seus apoiadores para exigir a interrupção da quarentena e a “volta ao trabalho”, com se fossem senhores de escravos com direitos absolutos sobre a vida e morte.

Os patrões saem às ruas, na retaguarda de seus carros blindados, de onde ordenam e ameaçam os trabalhadores para que se exponham desarmados na linha de frente, enquanto permanecem protegidos em suas trincheiras. Os empresários mais radicais, defensores da necropolitica bolsonarista destilam seus discursos: “cinco mil, sete mil não é nada!” e, assim, comandam as máquinas para triturar as carnes; também ecoa o raciocínio simplista, binário, uma alternativa entre duas mortes: pelo vírus ou pela fome: “se não morrem de um jeito morrem de outro”, como se não houvesse outra alternativa.

A esse discurso do necrotério, vem juntar-se o discurso dos falsos profetas que, ao modo dos “vendilhões do templo”, querem ungir os “soldados” em troca de seus pertences, aglomerando-os nos templos como quem conduz corpos para as câmaras de gás, com a promessa do paraíso.

De um lado, muitos operários fieis à mensagem do Mito e dos “vendilhões do templo”, juntam-se às fileiras do bolsonarismo, como gado na direção do abatedouro. Mostram sua fidelidade a cada movimento do Capitão, obedecendo ao comando do “Messias” pela manhã e à tarde se mobilizando para defender o seu desmentido, alguns convencidos que o “Messias” é o Messias, tendo recebido uma missão divina.

De outra parte, um número crescente de ex-bolsonaristas se recusam a ser derrotados pelo vírus e passam a ignorar as falas desastrosas do Capitão ou mesmo percebem a loucura na qual se enredaram e passaram a abandonar o barco, juntando-se às fileiras de outros soldados rebeldes na imensa lista de Madalenas arrependidas, na qual se incluem célebres figuras da política, que desertaram bem antes. Com toda essa massa de insatisfação, as panelas começaram a soar.

Qual o saldo da pandemia? O neoliberalismo e sua tese do estado mínimo é posto em cheque diante de uma crise desta magnitude; o bolsonarismo e seu obscurantismo foi completamente nocauteado por ser incapaz de encarar a realidade com dados e com ciência. Ele demonstra, nas ações de seu Capitão, ser uma política de loucos e de genocidas ao expor a população ao risco de morte.

O Capitão se mostrou, na verdade, um traidor dos brasileiros, que expõe seus soldados ao fogo inimigo, lutando contra inimigos imaginários, dentro da órbita do olavismo terraplanista.

Na retaguarda, o empresariado bolsonarista parece ser tresloucado e burro, sequer aproveitou a pandemia para melhorar a imagem de sua empresa e preferiu dar um tiro nas costas do trabalhador espantando seus clientes com tamanha crueldade que podem virar as costas para suas lojas e produtos, reduzindo seu nicho de mercado à clientela bolsonarista que está minguando, sequer foram capazes de calar a boca neste momento de crise. Por tudo isso, o bolsonarismo não tem mais lugar, foi destruído pelo vírus.

VEJA A PRIMEIRA PARTE DESTE TEXTO NESTE LINK

Roberto Roque Lauxen é doutor em Filosofia e Professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB).

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