Ícone do site CartaCampinas

Combate ao vírus ou à ciência?

.Por Alexandre Oliva.

Enquanto Covid-19 corre solto por aí, não canso de me desapontar com
autoridades que ousam desafiar o método científico. Vírus não quer
saber de narrativas oficiais, não é vulnerável a bullying, não pode
ser comprado nem bloqueado com manobras judiciais. O vírus é a
realidade: mesmo pra quem se recusa a acreditar, ela continua lá.

(foto warley de andrade – tvbrasil – ag brasil)

Quem ousou desafiar a ciência, botar panos quentes, fazer de conta que
não era grave, cedo ou tarde capotou ou capotará na curva do
crescimento exponencial.

Quem se achou gênio de vislumbrar um jeito de conter o vírus sem
medidas drásticas de isolamento social, tentando evitar prejuízos à
economia, não precisa de mais que algumas semanas para descobrir que
não só não tem outro jeito, como que as medidas mais tímidas acabam
aumentando o prejuízo.

Cabeça fria e ciência fazem a gente ver que o prejuízo à economia é
inevitável: a circunstância mudou, é preciso refazer planos.
Paciência, pra não virar paciente. Meu pesadelo é que algum louco
interrompa a quarentena cedo demais
, novamente desafiando a ciência com propósito de reduzir as perdas econômicas, e
acabe dando início a novos focos de crescimento exponencial e
dispersão do vírus, exigindo novos ciclos de confinamento, perda de
vidas e prejuízos financeiros.

Ah, mas a imprensa oficial, incluindo o @Zap (leia-se atizápi), está
dizendo que já há remédio! Vem aí novo banho gelado de ciência. Os
relatos de recuperação com uso de cloroquina envolveram uma semana de
UTI com respirador. Se deixar o vírus se espalhar à vontade, o número
de casos dobra a cada poucos dias. Os últimos 100mi de casos serão
confirmados ao longo desses poucos dias e 5mi deles precisariam de UTI
ao mesmo tempo, disputando com os 2.5mi dos poucos dias anteriores e
alguns dos 1.25mi remanescentes da semana anterior! Com tamanha
demanda por UTIs, de que adianta ter o remédio se não conseguir
continuar respirando até ele fazer efeito?

Outra: o estudo inicial da cloroquina para tratar Covid-19 foi muito
pequeno demais, nem grupo de controle tinha. Há pessoas que, dadas as
condições para continuar respirando, se recuperam da infecção pelo
próprio sistema imunológico. Estudos científicos sérios mantêm grupos
de controle recebendo placebo ou algum outro tratamento já comprovado.
Com o embarque na tese da cloroquina, empurrada por especuladores,
corremos o risco de cair no conto de vigaristas e pagar caro para
oferecer a vítimas da doença nada mais que um placebo altamente
tóxico.

Enquanto isso, a ideologização dos tratamentos, descabida no meio
científico, parece tomar força: enquanto a cloroquina encontra amplo
espaço de divulgação nos meios de comunicação de massa, o Interferon
Alfa 2B, usado com sucesso na China no tratamento de casos de
Covid-19, inclusive nos pacientes supostamente curados pela
cloroquina, mesmo já sendo distribuído a [dezenas de outros
países
], sequer aparece no radar da imprensa de massas brasileira.

Na ausência de evidências científicas que apontem mérito a uma ou a
outra droga, ouso suspeitar que a preferência midiótica se trate de
comportamento típico do Homo @zappiens incogitandus, que alia apoio de
interesses econômicos a preconceito ideológico para assegurar a conquista do [Prêmio Darwin |https://pt.wikipedia.org/wiki/Pr%C3%A9mios_Darwin]. Afinal,
enquanto a cloroquina vem sendo promovida por especuladores
internacionais, a origem do Interferon Alfa 2B é cubana.

Sair da versão mobile