Em entrevista ao portal Uol, o professor da Unicamp, Roberto Romano, que sempre esteve alinhado a posições da direita conservadora, afirmou que o primeiro ano da gestão do governo Bolsonaro (sem partido) foi um aprendizado do inferno. Para ele, foi uma prévia de um cenário caótico que pode se instalar até o fim de mandato. “Esse primeiro ano foi uma espécie de pedagogia do inferno”, afirmou
O pior é que há uma omissão do Judiciário e do Ministério Público na tentativa de se instalar um governo teocrático. “Quer um exemplo de desafio à Constituição? O culto feito [neste mês] no Palácio do Planalto por pastores protestantes. … Se faz esse espetáculo de confusão de Estado e de igreja. E não há uma autoridade pública para questionar. Não tem Ministério Público, não tem Judiciário, nada”, afirmou.
Bolsonaro, para o professor, representa um retrocesso nos padrões éticos e tenta destruir “o aparato constitucional e legal do país”. E isso com a presença e participação do ministro da Justiça [Sergio Moro] que atua contra o Estado Democrático de Direito.
“[Moro] que prega o combate à corrupção, assume uma atitude do ponto de vista dos instrumentos de norma de controle social que é absolutamente contrária a qualquer perspectiva do Estado Democrático de Direito. Esse excludente de ilicitude [proposto no pacote anticrime, mas derrubado pelo Congresso] é algo que brada aos céus do ponto de vista ético”, afirmou. O excludente de ilicitude é uma licença para que agentes de segurança possam matar cidadãos brasileiros sem serem punidos pelo Estado.
Romano prevê o caos. “Na medida em que persistir esse modus operandi, nós chegaremos antes do final do governo Bolsonaro àquele estágio em que o sociólogo Émile Durkheim (1858-1917) chamava de anomia [ausência de lei ou regras]. Estabeleceu-se como prática política a separação de amigo e inimigo, que é uma tese autoritária que já fez muito mal ao Brasil e foi ideada pelo [jurista e filósofo alemão} Carl Schmitt (1888-1985). Esse ponto me parece o mais brutal: você não aceitar a existência da plena democracia e da divergência de opinião”, afirmou. (Veja entrevista completa no Uol)