O filósofo e teólogo argentino, Enrique Dussel, afirma que os Estados Unidos promovem uma “guerra santa” para dar golpes em governos democráticos na América Latina.
Entrevistado pela jornalista mexicana Carmen Aristegui, ele diz que Jeanine Añez, a evangélica que tomou o poder na Bolívia, é ‘absolutamente ilegítima’. Segundo ele, não há ferramentas intelectuais suficientes para analisar a guerra santa que os Estados Unidos estão usando para sustentar golpes nos países da América Latina. “O caso da Bolívia retrata o caos semântico que vivemos, em que se trata o ditador como ‘democrata’ e o ‘democrata’ como ditador”.
Os casos de seitas evangélicas atuando politicamente, relatado pelo historiador e teólogo Enrique Dussel, com o apoio dos Estados Unidos, são semelhantes em outros países, como no caso do Brasil. Vale ressaltar o papel que seitas evangélicas tiveram na eleição de Jair Bolsonaro, amedrontando fiéis em cultos, radicalizando o discurso e contribuindo para a difusão de fake news via Whatsapp. O próprio coordenador da Lava Jato no Ministério Público, Deltan Dallagnol, é um evangélico fervoroso. A Lava Jato foi fundamental para o golpe parlamentar de 2016.
“Um novo fenômeno são as igrejas evangélicas que apoiam o processo brasileiro e na Bolívia, com um homem selvagem como (Luis Fernando) Camacho, que diz algo essencial: “Vamos tirar o Pachamama (Mãe Terra) de lugares públicos e vamos impor a Bíblia”. Mas essa bíblia não é católica, é a dos grupos evangélicos. Considera a cultura popular dos povos nativos um paganismo horrível que o cristianismo deve substituir à risca”, observa.
Mas essa bíblia é uma bíblia evangélica que vem de seitas americanas que mudam a subjetividade. “Eles querem que o homem deixe seus costumes ancestrais, deixe a embriaguez e pretenda trabalhar e entrar na sociedade consumista capitalista burguesa ”, disse Dussel.
Para ele, essa bíblia reinterpretada de um homem americano moderno é a origem da possibilidade de uma nova Bíblia, usada hoje pela OEA (Organização dos Estados Americanos) e a nova política americana que está se retirando do Oriente Médio.
“Eles haviam se mudado da América Latina, mas como no Iraque e no Irã foram derrotados, retornam à América Latina e querem recuperá-lo. Os métodos foram sutis, mas voltamos ao golpe de estado”, concluiu Dussel.
O teólogo acrescentou, assim como aconteceu no Brasil nos governos petistas: “aqueles que saíram da pobreza na Bolívia desejam ser um consumista neoliberal.
“As tradições aimara, que também foram influenciadas por cinco séculos de catolicismo, agora são confrontadas com evangélicos. Será um tipo de luta religiosa, mas isso é essencialmente político. Isso explica outra coisa: a teologia da libertação, que é cristã, mas confia nos pobres contra os ricos:”bem-aventurados os pobres, malditos os ricos.” Isso é revertido em grupos evangélicos. Isso supõe toda uma revisão histórica teórica de que a esquerda não está acostumada, porque propôs o ateísmo como uma condição de transformação. O indígena foi confrontado e, como ele possuía todo o seu status religioso, ele não sabia como tratá-lo e o rejeitou. E agora temos que assumi-lo e enfrentá-lo para um evangelismo pró-americano.”
Os evangélicos, Dussel ressalta, dizem: “Deixe todos esses costumes desastrosos, torne-se um homem austero, trabalhador e bem organizado, e você sairá da pobreza porque Deus os abençoará com riquezas aceitáveis. A riqueza é considerada no Calvinismo antigo como uma bênção de Deus. Pachamama é a origem da pobreza”.
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