Pelo menos uma boa notícia no campo agrícola do Brasil, após a liberação desenfreada de agrotóxicos pelo governo federal e o descontrole total das queimadas no Norte e Centro-Oeste, registrado pelo INPE. Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio), entre 2017 e 2018 a indústria brasileira registrou 77% de expansão na comercialização dos insumos biológicos. O volume de vendas saltou de R$ 262,4 milhões para R$ 464,5 milhões.
Segundo dados apresentados no Sincobiol (16º Simpósio de Controle Biológico), ocorrido em Londrina (PR), o mercado de controle biológico cresce na ordem de 10% a 15% ao ano no mundo e em ritmo ainda mais acelerado no Brasil. Globalmente, saltará de US$3 bilhões em 2019 para a US$5 bilhões nos próximos anos.
Para a ABCBio, o uso de biodefensivos agrícolas como estratégia de controle biológico de pragas e doenças tem potencial de crescimento anual de 20%. “Há uma demanda reprimida por soluções de defesa vegetal que resultem em menor impacto em termos de resíduos, principal característica dos agentes biológicos”, diz Arnelo Nedel, presidente da ABCBio.
Segundo dados da Embrapa, cerca de 80% das pragas da lavoura da soja, por exemplo, podem ser controladas pela ação dos inimigos naturais, quando se adota as estratégicas preconizadas pelo Manejo Integrado de Pragas (MIP). “O que acontece é que a aplicação abusiva de inseticidas, na hora errada, com produtos muito tóxicos, acaba eliminando esse controle biológico natural”, alerta analisa o pesquisador Adeney de Freitas Bueno, da Embrapa Soja (PR).
Ele também afirmou que a adoção do controle biológico tem sido fomentada pela crescente resistência de insetos aos inseticidas químicos e pela urgência por um uso mais racional de agrotóxicos.
Bueno explica que, no campo, o controle natural das pragas agrícolas é feito por fungos, vírus e bactérias, além de insetos benéficos que têm o hábito de predar, parasitar ou infectar as pragas que afetam a soja. “Os inimigos naturais têm o papel de manter as populações de pragas em níveis mais equilibrados. O produtor precisa conservar esse controle biológico natural aplicando as boas práticas agrícolas preconizadas nos manejos integrados de pragas, plantas daninhas e doenças”, alerta.
O uso racional dos agrotóxicos é uma das medidas para preservar esse controle biológico natural e permitir que ele mostre o seu potencial. Assim, mesmo que o produtor não compre ou utilize nenhum biodefensivo em sua lavoura, o controle biológico irá ocorrer naturalmente.
Existem hoje 70 indústrias de produtos biológicos e alguns bioinseticidas registrados e disponíveis no mercado nacional. O produto mais antigo registrado é originário da bactéria Bacillus thuringiensis (“Bt aplicável”), que é usado para controle de lagartas, segundo informações da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), que mantém um site com informações sobre a biologia de parasitoides, predadores, patógenos e antagonistas utilizados em programas de controle biológico no Brasil. (Carta Campinas com informações de Lebna Landgraf/Embrapa)