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‘Jamais me olharás lá de onde te vejo’ pensa o retrato com trabalhos de Éder Oliveira, Regina Parra e Virginia de Medeiros

Em São Paulo – Poderá ser vista até o dia 29 de setembro no Instituto Tomie Ohtake a mostra “Jamais me olharás lá de onde te vejo”.

“Não Eu”, de Regina Parra (Foto: Divulgação)

O Instituto Tomie Ohtake criou em 2013 o Arte Atual, uma plataforma para pesquisas artísticas, de caráter experimental, na qual, por meio de uma questão sugerida pelo seu Núcleo de Pesquisa e Curadoria, coordenado por Paulo Miyada, um grupo de artistas convidado desenvolve um novo trabalho.

A oitava edição do programa Arte Atual, “Jamais me olharás lá de onde te vejo”, traz em seu título uma referência a uma frase do psicanalista francês Jacques Lacan empregada no livro 11 de O Seminário denominado Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise.

“Jamais me olharás lá de onde te vejo” apresenta trabalhos de Éder Oliveira, Regina Parra e Virginia de Medeiros, a fim de empreender reflexões acerca tanto do retrato como gênero pictórico quanto como forma de reconhecer e atribuir uma identidade ao retratado. O próprio ato de retratar também permeia as questões da mostra, partindo de diferentes abordagens e linguagens. É possível, por intermédio dos trabalhos, discutir parâmetros de como os artistas constroem os limites entre o “eu” e o “outro”, e delimitam relações de afinidade e de distinção. Mais do que isso, os trabalhos presentes explicitam como os artistas convidados se valem da figura humana como uma de suas ferramentas para abordar a violência que imputamos ou a que são imputados nossos corpos, os limites e rastros do tempo e a noção do corpo como um lugar de resistência.

Éder Oliveira da série “Cenas Singulares” (Foto: Octavio Cardoso)

A obra de Éder Oliveira resvala sobretudo na pintura. Conhecido por coloridos retratos feitos em diferentes escalas, cujo suporte pode variar da tela ao muro de cidades, o artista paraense se apropria de imagens do caderno policial de jornais e recria imagens majoritariamente masculinas. Sua investigação pondera sobre o que se entende como homem amazônico e traz à tona os altos índices de violência no norte do Brasil. Se até pouco tempo atrás Oliveira pintava figuras solo, mesmo que dispostas lado a lado em um contexto expositivo, agora o artista passa a pintar pessoas em grupos. Além disso, também é recente sua experiência de adicionar texto às suas pinturas. Agora, seus trabalhos tendem a vir acompanhados de citações literárias que servem como comentários sobre a situação por ele representada.

Já Regina Parra, traz no retrato um processo de desconstrução mitológica sobre si. Apesar de usar autorretratos fotográficos para escolher quais imagens pintar, a artista não considera os resultados como autorretratos. Com uma trajetória que já passou bastante pelo teatro, Parra afirma que empresta seu corpo para experimentar posições, movimentos e enquadramentos. Em “Jamais me olharás lá de onde te vejo”, a artista exibe uma série de pinturas e de neons, todos tendo como pano de fundo as peças Dias Felizes (1961) e Eu Não (1972), do dramaturgo e escritor irlandês Samuel Beckett.

Virginia de Medeiros, por sua vez, propõe uma nova montagem para a série Alma de Bronze (2016-2018), realizada a partir de sua convivência com lideranças femininas da Frente de Luta por Moradia (FLM) do Movimento Sem Teto do Centro (MSTC), iniciada com sua participação no Programa de Residência Artística Cambridge e posteriormente transmutada para a Ocupação 9 de Julho, onde exibiu uma primeira montagem do trabalho, que também foi exposto no Centro Cultural São Paulo (CCSP). Para o Instituto Tomie Ohtake, o projeto ganha um formato mais aberto e experimental que pretende servir como espaço para debates e conversas acerca dos acontecimentos mais urgentes do MSTC, com uma programação a ser definida de acordo com as demandas do movimento. A nova montagem, de caráter instalativo, traz retratos em vídeo de doze importantes líderes femininas da Ocupação 9 de Julho, ao som de uma percussão de Beth Belli, regente de tambores do Ilú Obá de Min, que ressoa como um alerta e apenas cede o volume para as conversas que lá acontecerão. (Carta Campinas com informações de divulgação)

Frame da videoinstalação “Clamor”, de Virginia de Medeiros (Foto: Divulgação)

“Jamais me olharás lá de onde te vejo”

Visitação: 8 agosto a 29 setembro 2019

Curadoria: Diego Mauro, Luana Fortes, Priscyla Gomes e Theo Monteiro  (Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake)

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