Em novo vazamento de mensagens revelados neste domingo, 30, entre o Intercept Brasil e a Folha de S. Paulo, alguns procuradores da Lava Jato ficam surpresos com as mudanças de versões dos advogados de Leo Pinheiro vazadas para a imprensa. A estratégia era jogar informações que pudessem incriminar Lula e beneficiar Leo Pinheiro. Mas não todos ficam surpresos nos vazamentos divulgados. Deltan Dallagnol, por exemplo, queria evitar que os benefícios da Lava Jato para Leo Pinheiro, após mudança de versão, fossem vistos como um prêmio por incriminar Lula.
“O empreiteiro que incriminou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no caso que o levou à prisão foi tratado com desconfiança pela Operação Lava Jato durante quase todo o tempo em que se dispôs a colaborar com as investigações, segundo mensagens privadas trocadas entre procuradores envolvidos com as negociações”,diz a reportagem da Folha. “Léo Pinheiro, ex-presidente da construtora OAS, só passou a ser considerado merecedor de crédito após mudar diversas vezes sua versão sobre o apartamento tríplex de Guarujá (SP) que a empresa afirmou ter reformado para o líder petista.”
Em novos diálogos, delação da OAS tinha nome e preço: Lula
.Por Fernando Brito.
Das mensagens obtidas pelo The Intercept e publicadas hoje pela Folha:
“Acho que tem que prender o Leo Pinheiro. Eles falam pouco.”
A frase do procurador da República Januário Paludo, um dos mais destacados da chamada Força Tarefa da Operação Lava Jato, resume o espírito que marcou mais de um ano de “negociações” entre a Procuradoria Geral da República: só haveria benefícios para “o empreiteiro com mais prova contra si” – José ademário, aliás Leo Pinheiro, da OAS – se este ” entregasse” o ex-presidente Lula.
Para isso, valia usar a prisão do executivo, até que ele concordasse em fornecer alguma acusação contra o petista:
“Januário Paludo – 12:21:54 – Acho que tem que prender o Leo Pinheiro. Eles falam pouco. Quer dizer, acho que tem que deixar o TRF prender.”
Depois de meses, a OAS apresenta – curiosamente, através da revista Veja – o que está disposta a dizer: que haveria uma “conta” clandestina em favor de Lula, versão mantida até o final como justificativa da suposta vinculação do triplex do Guarujá com os contratos da Petrobras – algo que jamais fora mencionado nas conversas entre a OAS e os procuradores :
Anna Carolina (Garcia) – 19:52:11 – Tinha isso de conta clandestina de Lula? 19:52:19- Esses Advs não valem nada
Jerusa(Viecili) – 19:53:02 – Não que eu lembre
Ronaldo ( Queiroz)- 20:45:40 – Também não lembro. Creio que não há.
Sérgio Bruno ( Cabral Fernandes) – 21:01:10 – Sobre o Lula eles não queriam trazer nem o apt. Guaruja. Diziam q não tinha crime. Nunca falaram de conta.
A “plantação” de suspeitas através de vazamentos era, para alguns procuradores, “uma estratégia dos advogados para despertar interesse pela proposta e torná-la irrecusável para o Ministério Público”. Outra – que saiu pela culatra – teria sido o pagamento de propina, na forma de obras de impermeabilização em sua casa, do ministro José Carlos Dias Toffoli.
E como não havia materialidade alguma no que os advogados de Léo Pinheiro traziam aos procuradores, durante mais de um ano as conversas não renderam acordo formal mas, afinal, com a alegação das reformas e de um suposto pedido de destruição de provas, a promessa de um, assim mesmo com muita prudência, para não evidenciar a barganha obtida com ele:
Deltan (Dallagnol)-17:10:32 -Caros, acordo do OAS, é um ponto pensar no timing do acordo com o Léo Pinheiro. Não pode parecer um prêmio pela condenação do Lula.
A única “prova” contra Lula, o depoimento do empreiteiro – que agora se vê como foi extraído – desmoronou estrepitosamente. (Do Tijolaço)