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Carta a Elizaman, secretário de Paulínia e a Adriano, da cooperativa de Cosmópolis

Carta a Elizaman, secretário de desenvolvimento econômico de Paulínia, e Adriano, da Cooperativa dos trabalhadores de Cosmópolis

.Por Giba Soares.

Caro senhores Elizaman e Adriano, beleza? Torço para que as investigações contra vocês sejam isentas e que tenham julgamentos justos, mas volto nesse ponto depois. Sendo hoje líderes para muitas pessoas e até ocupando cargo público, gostaria de debater mais sobre políticas que colaborem com os objetivos da Cooperativa.

(imagem: rodrigo andrade3880 pl)

Me corrijam se eu estiver errado, mas diferentemente do que saiu por aí, a Cooperativa não é um sindicato, mas um grupo que vocês criaram por volta de 2015 para organizar os desempregados de Cosmópolis e posteriormente de Paulínia.

Os sindicatos da construção civil e dos petroleiros conseguem fazer um bom serviço para aqueles que estão trabalhando, mas as pautas dos que estão sem emprego fogem do dia a dia desses sindicatos, por isso, eles acabam fazendo parte de outros movimentos na luta por moradia, saúde, educação, alimentação e direitos. Assim convido vocês a conhecerem (se é que já não conhecem) o MST, MTD, MTST, CMP. A luta desses movimentos tem muito a ver com as necessidades diárias das pessoas que vocês organizam. E se esses movimentos forem criminalizados, tenham certeza que a Cooperativa também será.

A reivindicação de contratação de mão de obra local é complicada. Sei que quando nossos conterrâneos vão a obras em outras localidades chegam a ser ameaçados com armas para irem embora (espero que isso não ocorra por aqui) e obviamente gostaríamos de ver parentes, amigos, vizinhos e todos aqueles que “correm” com a gente empregados. Mas o debate tem que ser nacional. Por incrível que pareça, nossa região é a mais desenvolvida do Brasil, não a toa nossas cidades são formadas por pessoas que vieram de outros estados buscando uma vida melhor. Esse desenvolvimento se deu muito por conta da REPLAN, ou seja, foi um investimento de todo o povo brasileiro para a construção dessa refinaria, não só do pessoal daqui, assim, ela deve servir a todo o país. O peão que vêm de fora pra cá só aceita ficar longe da família pelo pouco que se paga por falta de opção no lugar de onde vem.

Considero suas manifestações na frente da refinaria ou parando a rodovia válidas, mas por si só, elas não farão as empresas contratarem mais. Elas podem até trocar os trabalhadores, mas não aumentarão as contratações.

As manifestações têm mais efeito quando possuem caráter de denúncia, assim, se é preciso contratar para que se aumente a segurança dentro da refinaria (típica manifestação que os sindicatos já fazem), não se pode deixar cair por terra as NR’s – Normas Regulamentadoras. Também a reforma trabalhista possibilitou às empresas o aumento das jornadas de trabalho, são menos trabalhadores trabalhando por mais tempo, menos emprego e mais exploração.

Como Secretário em Paulínia, o senhor Elizaman poderia propor que as empresas da cidade tenham que cumprir as NR’s como estão hoje, mesmo que o governo federal venha a suprimi-las como o presidente já disse querer fazer, ou que as jornadas semanais de trabalho em Paulínia sejam de 40 horas (de 2015 pra cá, todas as terceirizadas da refinaria que rodavam em turno de 5 grupos reduziram para 4 grupos de trabalho, mas isso, só porque a lei permite). Manifestações para que esse tipo de lei seja cumprida são mais efetivas.

A Petrobras nunca fez lobby para redução de direitos, pelo contrário, suas normas internas já foram mais rigorosas que a lei, garantindo mais direitos, inclusive a terceirizados, e com o peso que ela tinha, muitas vezes essas mudanças que começavam por ela terminavam virando normas ou leis nacionais. A Petrobras sempre foi legalista (não confundir a Petrobras com seus dirigentes), às vezes com interpretações divergentes dos trabalhadores, mas nunca fez conchavos para que se reduzisse leis trabalhistas ou ambientais. Isso porque é uma empresa estatal, empresas privadas trabalham nos bastidores apenas para benefício próprio, se tiver que ferrar com a população, faz parte do jogo.

Empresas privadas já fizeram pressão e diminuíram o “conteúdo local” para construção de plataformas, acabando com os estaleiros brasileiros. Não podemos deixar que isso ocorra também na refinaria. Que a Cooperativa e prefeitura de Paulínia também se engajem nos movimentos contra privatizações.

Vocês que atuam mais junto ao pessoal de caldeiraria já imaginou senhores de 65 anos “batendo marreta”? E se o peão vovô tiver que trabalhar até os 65 pra se aposentar, ele estará numa vaga que poderia ser de um pai desempregado de Paulínia ou Cosmópolis. Se essa reforma da previdência passar, o desemprego nessas cidades se agrava. Se é pra ter uma reforma, tem que se levar em conta os trabalhos que são mais penosos e que comece pelos políticos, generais, juízes e promotores.

Já que falei dos promotores e juízes, essa casta do funcionalismo público costumam ter origem: são filhos e netos de desembargadores, promotores, gente da elite. Não dá pra generalizar, mas muitos já vêm com preconceitos de classe, reproduzem o preconceito que sua família rica carrega a gerações. São apenas defensores do status quo. Mas lentamente isso está mudando, hoje temos pessoas com visão de mundo mais aberta nesses espaços de poder e que fazem o Ministério Público e o Judiciário cumprirem suas responsabilidades constitucionais. Espero que os promotores que os acusam sejam do segundo tipo.

Atenciosamente, Giba.

Giba Soares, é ex-petroleiro e radialista.

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