Os patrocínios da Petrobras na Fórmula 1 e os heróis nacionais
.Por Giba Soares.
Fim de semana passado foi de duas das mais tradicionais provas de automobilismo: o GP de Mônaco da Fómula 1 e as 500 Milhas de Indianápolis e se não tivemos pilotos brasileiros, tivemos a Petrobras.
A parceria com a Mclaren dá a Petrobras acesso aos motores mais tecnológicos e eficientes da atualidade, participando das inovações automobilísticas que depois chegam aos carros comuns. Pesquisa e desenvolvimento (P&D) custa caro, demanda dedicação de muitas trabalhadoras e trabalhadores, mas te colocam num patamar acima dos concorrentes, e a Petrobras é reconhecida internacionalmente pelos seus produtos, em especial a gasolina Podium e lubrificantes.
A qualidade dos lubrificantes é tamanha que a McLaren os utilizou em seu carro projetado especialmente para as 500 Milhas de Indianápolis, que tinham o logotipo BR e sem custos para a Petrobras. A participação nessa corrida era uma etapa do desenvolvimento de uma equipe McLaren para a Fórmula Indy, prevista para competir normalmente em 2020, mas infelizmente Fernando Alonso não conseguiu a classificação para a prova do domingo.
Os nomes da Petrobras e da Lubrax estampados numa tradicional equipe de Fórmula 1 valoriza sua marca – deixo pro pessoal do mercado explicarem a importância disso -, mas realmente não fazem o brasileiro acordar cedo num domingo e ir pra televisão torcer. Mas confesso que quando entregavam troféus com rochas do pré-sal (símbolo de uma descoberta genuinamente brasileira), ou na época do mecânico de abastecimento “canarinho” da Williams, ou quando Frank Williams mandou estampar “2006 auto-suficiente” ao lado de uma bandeira do Brasil em seus carros (você não viu? Pois é, a Globo fez de tudo pra não mostrar) eu sentia um baita orgulho. E orgulho está em falta hoje pra gente.
Temos que debater sim os patrocínios e publicidades das empresas estatais ou mistas, inclusive para fins geopolíticos, que se bem executados melhoram inclusive a auto-estima da população.
Na década de 70 a ditadura apoiou o projeto da equipe Copersucar-Fittipaldi, numa tentativa de inflamar um orgulho nacionalista e também de demonstrar a capacidade brasileira ao mundo, mas infelizmente a equipe não vingou. O grande piloto Emerson Fittipaldi não se mostrou um competidor a altura com sua equipe e em outros empreendimentos, falindo várias empresas.
Hoje ele é um dos apoiadores do governo, assim como Felipe Massa, que retuitou postagem mentirosa de Bolsonaro (os valores que ele apresentou de patrocínio na Fórmula 1 correspondem ao dobro do real), mas que correu com carro patrocinado pela Petrobras por 3 anos, ou Lucas Di Grassi, outro retuiteiro do presidente, que disse que patrocínio “é função de empresa de participação privada”, mesmo tendo participado do programa de desenvolvimento da Renault, patrocinada pela petrolífera Total, duas empresas que o governo francês detém ações.
Ao tentar surfar na popularidade de Ayrton Senna, prometendo um circuito com seu nome (que não será construído), Bolsonaro arrumou rolo com Nelson Piquet. Se quisesse mesmo homenageá-lo, teria indicado Mozart Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna para o ministério da Educação.
Que, apesar do presidente, os petroleiros continuem a produzir produtos de primeira linha, e que os estudantes e professores nas ruas consigam fazer o governo reconhecer os verdadeiros heróis nacionais.
Giba Soares é ex-petroleiro e radialista.