‘Patética’, da Cia. Estável de Teatro, reflete sobre a morte de Vladimir Herzog nos porões da ditadura militar

Em São Paulo – Na manhã do dia 25 de outubro de 1975, o dramaturgo e diretor de jornalismo da TV Cultura, Vladimir Herzog, chegava voluntariamente ao DOI-CODI instalado na rua Tomás Carvalhal, em São Paulo. Ele estava acompanhado do colega de Redação, Paulo Nunes, que foi dispensado na recepção enquanto Vlado era encaminhado para o interrogatório que tiraria sua vida, e o tornaria um dos principais símbolos da brutalidade da ditadura militar no Brasil.

(Foto: Jonatas Marques)

As circunstâncias do assassinato de Herzog, fotografado em uma cena de falso suicídio forjada pelos militares, é discutida pela Cia. Estável de Teatro no espetáculo “Patética”, que será apresentado nos dias 29, 30 e 31 de março, no Teatro do Sesc Santo André.

Na peça, uma trupe de artistas de circo está prestes a realizar seu último espetáculo antes da ordem de despejo. Eles então decidem contar pela primeira e última vez a história real de Glauco Horowitz (Herzog), desde a imigração dos pais para o Brasil fugindo da 2ª Guerra, sua carreira profissional durante a Ditadura Civil Militar, a prisão, depoimentos no DOI-Codi, até a morte e a luta da família para provar que ele não cometeu suicídio, mas foi assassinado. Ao contar a história, a trupe de artistas sofre com diversas ameaças e críticas, e se deparam com o possível fechamento do circo por discutir a morte de Horowitz em suas apresentações. O texto foi escrito em 1976 por João Ribeiro Chaves Neto, dramaturgo e cunhado de Herzog.

Além de se construir a partir de uma denúncia sobre a tortura no Brasil, o espetáculo Patética dialoga com questões estéticas da dramaturgia contemporânea ao utilizar linguagens do metateatro, em que o texto do próprio espetáculo é colocado como tema de realização da peça.

O texto de Patética passou por uma trajetória controversa: foi premiado no Concurso Nacional de Dramaturgia em 1977, mas teve a premiação suspensa e foi censurada pelo regime militar. A peça foi liberada apenas em 1979 e encenada primeiramente por Celso Nunes, com cenários e figurinos elaborados por Flávio Império.

A montagem da Cia. Estável de Teatro posiciona o picadeiro no centro do espaço cênico, com a plateia sentada a seu redor em três lados distintos. A disposição do palco permite que o público assista às cenas e seja assistido simultaneamente. Acima dos atores e plateia estica-se uma lona que sugere o céu, e recoloca todos ali presentes sob o mesmo relento. Na tela do fundo, projeções de imagens complementam a colagem tridimensional dos cenários.

Com direção de Nei Gomes, atuação de Juliana Liegel, Miriele Alvarenga Zhel, Osvaldo Pinheiro, Paula Cortezia e Sérgio Zanck, o espetáculo converge com a pesquisa estética e o posicionamento político da Cia, desde as relações do modo de organização circense, até os processos vivenciados pela modificação do espaço urbano ocasionados por interesses políticos.

Ao longo de 16 anos de trajetória, a Cia. produziu sete espetáculos, como O Auto do Circo (2004), Homem Cavalo & Sociedade Anônima (2008), A Exceção e a Regra (2014), entre outros. Instalada em um albergue para moradores de rua no centro de São Paulo, a Cia. desenvolve diferentes projetos e oficinas, além de já ter publicado o livro Das Margens e Bordas – Relatos de Interlocução Teatral Cia Estável 10 Anos, em comemoração a uma década de existência do grupo. (Carta Campinas com informações de divulgação)

Patética, com Cia. Estável de Teatro
Dia 29, sexta-feira, às 21h.
Dia 30, sábado, às 20h.
Dia 31, domingo, às 19h.
Ingressos em R$ 20,00 (inteira), R$ 10,00 (meia-entrada) e R$ 6,00 (trabalhadores do comércio de bens, serviços e turismo e seus dependentes com Credencial Plena). Disponíveis no Portal Sesc SP e nas Bilheterias da Rede Sesc.
Recomendação etária: 16 anos.

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