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Em tempo de falsas narrativas, o Carnaval traz a verdade para as ruas

Em tempos de grandes farsas, Carnaval leva a verdade do Brasil para a Avenida

.Por Sandro Ari Andrade de Miranda.

Não adiantou a violência e a censura por alguns comandos policiais, nem o bloqueio de notícias pelos segmentos hegemônicos de mídia, o verdadeiro Brasil tomou as ruas no carnaval. Além das alegorias, fantasias e enredos das escolas de samba, milhões foram protestar contra o atual Governo brasileiro, a violência e a repressão.

(foto de vídeo)

A grande maioria dos blocos adotou expressões diretas e, pela primeira vez na história, em menos de 2 meses de um governo totalmente sem rumo, o Presidente da República foi alvo de críticas pesadas logo no primeiro carnaval. Da ligação da sua família com as milícias do Rio de Janeiro, passando pela explosão de “laranjas” nas campanhas eleitorais, pelo obscurantismo político e religioso, pela subserviência aos EUA, até a corrupção estrutural que forma a base do Governo Bolsonaro. Nada ficou em pé e os apelos populistas e reacionários do Presidente nas redes sociais não encontram mais eco.

Além das grandes manifestações em blocos tradicionais e dos movimentos populares, um episódio chama atenção. No desfile do Carnaval de Olinda ninguém quis carregar o boneco que faz alusão ao atual Chefe de Estado. Ele só foi para a rua na segunda-feira de carnaval, escoltado por um boneco em formato de jumento com a camisa da CBF, da boneca da sua esposa e do boneco do Presidente dos EUA, Donald Trump. Enquanto isto um festival de vaias e uma chuva de latas acompanhava o cortejo da trupe patética, demonstrando o grau de indignação popular.

Mas o ponto alto do Carnaval de 2019 ficou reservado para o desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Não é a primeira vez que protestos fazem parte de enredos e que o Carnaval desnuda a política. Todos e todas lembram do “Vampirão” de 2018, do “Cristo” censurado, de Joãozinho Trinta, em 1989, ou dos enredos revolucionários do Salgueiro e do Império Serrano em plena ditadura militar.

Mas em 2019, praticamente todas as escolas levaram um pouco de críticas em seus desfiles, seja “Cristo menino de rua” na comissão de frente da Império Serrano, na transformação da Avenida em Terreiro de Africano pela Portela, no Xangô justiceiro do Salgueiro e nos dois enredos mais diretos, o do “Bode Salvador da Pátria”, enquanto a população gritava Lula Livre, da Paraíso do Tuiuti e a poderosa reconstrução da história pela Estação Primeira de Mangueira (Campeã do Carnaval do Rio).

A Rede Globo utilizou os seus velhos artifícios de manipulação para tentar esconder a crítica evidente da Tuiuti, ao ponto de omitir a escola que possui um dos melhores sambas-enredo de 2019, ganhadora de 2 estandartes de ouro pelos analistas do próprio Jornal O Globo, como uma das favoritas ao título.

Mas ninguém conseguiu esconder a força narrativa da Mangueira que destronou velho mitos e mostrou nossos verdadeiros heróis, Sepé Tiarajú, Zumbi, Dandara, Marielle e tantos outros e outras, escondidos pela história. O sanguinário Duque de Caxias, patrono de um exército que só sabe violar direitos humanos e agredir a própria população, foi mostrado como realmente era, um genocida, um assassino em massa de negros e indígenas em Porongos, no Paraguai e nos sertões do Brasil.

Em 2019, novamente, a arte demonstrou a sua força, a sua capacidade de sacudir o país. Está na hora dos verdadeiros brasileiros, negros, mulheres, indígenas e pobres assumirem o seu espaço. Os nossos verdadeiros heróis e heroínas jamais vestiram farda ou moravam em suntuosos palácios, eles nasceram em espaço sem luxos, como o bode da Tuiuti.

Sandro Ari Andrade de Miranda é advogado e mestre em ciências sociais.

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