.Por Susiana Drapeau.
O governo Bolsonaro é talvez o governo mais ideológico da história do Brasil. E isso pode ser revelado não apenas por tentar negar o tempo todo a ideologia, o que já demonstra seu próprio viés hiperideológico.
Mas o ministro da Educação do Brasil, o colombiano Ricardo Vélez Rodríguez, resolveu tornar explícita e em poucas palavras a ideologia do governo Bolsonaro.
Ele afirmou ao jornal Valor, na última terça-feira, 28, que a “a ideia de universidade para todos não existe”. Para ele, “as universidades devem ficar reservadas para uma elite intelectual”, declarou Rodríguez.
Parece em um primeiro momento uma afirmação óbvia dada a realidade, mas diz muito sobre o governo, que não é neoliberal, nem liberal, mas antiliberal ou pré-liberal.
Ou seja, a ideologia do governo está fundada em um capitalismo sem mobilidade social, onde quem nasce elite continuará elite, o pobre continuará pobre, quem nasce sem estudo continuará sem estudo e assim por diante. Salvo, claro, se optar por entrar no mundo da corrupção política, espiritual ou for para o caminho arriscado do tráfico.
A reforma do ensino médio do governo Temer serviu como uma luva para a ideologia do governo Bolsonaro. Na verdade, o governo eleito é continuação do governo Temer, inclusive atuaram juntos com Eduardo Cunha para derrubar Dilma Rousseff.
Disciplinas como história e sociologia, que promovem a reflexão sobre a realidade, foram eliminadas da obrigatoriedade. Isso facilita a manutenção das castas sociais, impedindo a mobilidade pelo viés do conformismo. Assim também opera o pensamento religioso, baseado na fé obediente, e não na razão. Infelizmente só a história nos ensina isto.
O projeto não é de um país desenvolvido tecnologicamente a partir de suas próprias cabeças pensantes, mas dependente. Salvo uma elite econômica e intelectual, os filhos da grande massa pobre da população vão crescer para servir a essa elite e também servir como mão de obra barata para os países desenvolvidos. E para isso foi importante a Reforma Trabalhista que retirou 100 direitos dos trabalhadores e precarizou o trabalho.
Essa é a inserção do Brasil no mundo globalizado. A mão de obra barata brasileira pode competir no mercado global. E vai assim poder substituir aos poucos a mão de obra chinesa ou indiana no chão de fábrica.
Por fim, o projeto ideológico do governo Bolsonaro tem três pilares: o projeto elitista e de castas econômicas na área educacional, o projeto repressor do Estado concentrando polícia e Justiça com Sérgio Moro e o projeto de evangelização da ministra Damares.
Esses pilares construirão uma parede sólida para separar a perpetuação da riqueza de um lado e a pobreza de outro. Um berço esplêndido da desigualdade.