Uma doença com forte prevalência no Brasil, a tuberculose atinge cerca de 70 mil pessoas por ano, de acordo com os últimos dados disponíveis do Ministério da Saúde. E por estar associada a condições socioeconômicas, a adoção de medidas simples de combate à pobreza e de melhoria das condições de vida podem impactar de forma positiva no tratamento e cura do paciente.
É o que comprova um estudo de epidemiologistas brasileiros com apoio da Organização Mundial de Saúde (OMS), publicado na revista científica Lancet.
Houve um aumento de 7,8% na taxa de cura de tuberculose entre pessoas que recebem o benefício Bolsa Família em comparação às pessoas com as mesmas características demográficas e socioeconômicas que não são beneficiadas pelo programa social. (O aumento na taxa de cura, consequentemente, reduz a disseminação da doença).
A Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA) estudam há anos como programas sociais afetam indicadores de saúde. Em 2012 isso chamou a atenção da OMS. Foi oferecida uma consultoria para os pesquisadores realizarem um estudo de caso para o mundo sobre um grande programa. O grupo optou por estudar o Bolsa Família, que condiciona a ajuda econômica a ações concretas das famílias carentes nas áreas de saúde (vacinação) e educação.
Os pesquisadores das duas universidades acompanharam o histórico de saúde de uma amostra formada por mais de mil pessoas com tuberculose em sete cidades nas cinco regiões do Brasil entre 2014 e 2017.
Divididos em dois grupos, os que recebiam Bolsa Família e os que não recebiam, os participantes foram acompanhados durante o tratamento por seis meses.
O estudo, coordenado pela epidemiologista Ethel Maciel, da Ufes, é a primeira pesquisa no Brasil que seguiu os pacientes antes, durante e depois do tratamento.
O resultado foi a descoberta de que o Bolsa Família aumenta a taxa de cura dos beneficiados em 7,8%.
Garantia de alimentação
A tuberculose é uma doença infectocontagiosa causada por bactérias transmitidas pelo ar, então lugares úmidos, fechados, com pouca ventilação, favorecem a transmissão.
A hipótese dos pesquisadores é que o programa de transferência de renda aumente a taxa de cura em função da melhora da alimentação, já que o benefício (no máximo R$ 372) não viabilizaria gerar uma melhora no ambiente ou em outros aspectos da vida.
No entanto, a alimentação adequada é importante para a manutenção da saúde em geral e do sistema imunológico, que combate os agentes infecciosos.
Doença negligenciada
De acordo com a Organização Mundial de Saúde a tuberculose é uma “doença negligenciada”, menos “interessante” à indústria farmacêutica, e, por isso, menos pesquisada e que recebe menos investimentos.
Metade do número de casos de tuberculose no mundo está localizado no Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), bloco de nações em desenvolvimento.
Pesquisas também relacionam a distribuição da tuberculose com a epidemia de Aids, já que a doença viral ataca o sistema imunológico e favorece a contração da tuberculose.
Outros programas sociais, como o Minha Casa, Minha Vida, estão na lista das próximas pesquisa do grupo de estudiosos da Ufes e da UFBA. “Entender exatamente de que forma a doença e a pobreza estão relacionadas é essencial para o planejamento de políticas públicas tanto na área de saúde quanto na área econômica”, diz Maciel. (Do Saúde Popular)