Dia das Crianças: brinquedos, presentes e…formação de novos consumidores?
.Por Victor Barboza.
Muito discute-se sobre as propagandas voltadas ao público infantil. Há um projeto de lei que visa regular a propaganda dirigida às crianças na Câmara do Deputados, porém, ele está há mais de 15 anos na fila de espera para ser votado. A demora justamente reflete o interesse das indústria de brinquedos e alimentos destinados ao público infantil, em conjunto com as agências de publicidade e os veículos de comunicação. Em 2014 foi publicada uma resolução do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) considerando abusiva as propagandas que incentivem o consumo explícito.
Fato é que, seja durante a programação normal da TV aberta, e, principalmente nos horários em que são exibidos programas voltados às crianças, além dos próprios canais exclusivos para este público, as propagandas são muito frequentes e buscam essa comunicação com o seu público. Um caso que ficou marcante foi o de um garoto da periferia de São Paulo que foi detido em um supermercado tomando um iogurte alegando que estava apenas querendo saber o gosto que o produto tinha, já que toda hora aparecia na TV.
Já trouxemos aqui no blog alguns conceitos sobre a Psicologia Econômica. E conforme foi discutido, muitas vezes as propagandas e as vendas exploram nosso “Sistema 1”, que é totalmente intuitivo e movido pelas emoções. Dessa forma, não só na TV, mas até vídeos do Youtube, que cada vez tem crescimento na audiência, acabam trazendo um novo formato de propaganda “camuflada”. Apesar de não ser tão perceptível, o nosso cérebro já vai se familiarizando e armazenando essas informações no subconsciente.
O tema acaba sendo polêmico pelo fato de ser a infância o período em que a personalidade das pessoas é formada, através da formação do padrão cognitivo, emocional, comportamental, atitudes e hábitos. Não se trata de um processo pontual, pois há transformação e evolução desses padrões ao longo da vida, porém são nos primeiros anos da vida que a base é construída. E, talvez, a melhor saída não seja privar os pequenos das informações, mas sim de existir, em paralelo, medidas educativas.
Os fatores que influenciam no desenvolvimento da personalidade acabam vindo uma parte de Herança e uma outra parte do ambiente em que a pessoa está inserida. Portanto, repetições de propagandas e informações podem influenciar no comportamento que esta pessoa desenvolverá. Como as crianças ainda não têm todas as ferramentas necessárias para avaliar o real, elas estão vulneráveis e induzidas a possíveis “erros”.
O primeiro ponto que podemos ver que está sendo explorado de maneira geral, é o consumo como algo ideal de vida. A necessidade pela posse. Agora, mais do que isso, pensando do ponto de vista das finanças, também já são passados padrões de preços e de formas de pagamentos, que facilitam ainda mais o consumo exagerado e o consumir sem ter o dinheiro para isso. É o que acontece quando fala-se que é possível pagar no cartão, parcelar e até na forma como os preços são divulgados.
Somando a isso tudo, também temos um cenário em que a Educação Financeira ainda não é uma realidade em todas as escolas. Isso faz com que, além de ser induzida a consumir, não existir o ensinamento de como planejar as finanças, a importância de economizar, poupar e investir e as consequências de gastar mais do que se tem.
Para quem tem filhos, é importante começar a falar de dinheiro desde cedo, explicando os conceitos, como funciona, mostrar que não dá para ter tudo o que quer a todo momento, e que, o dinheiro, se mal administrado, pode só trazer dores de cabeça no futuro. Utilizar uma mesada ou semanada educativa, incentivar a leitura de livros e assistir vídeos educativos relacionados ao assunto são medidas que contribuem tanto para os pais manterem uma melhor situação financeira, como também, e principalmente, para que os filhos possam ter uma vida próspera quando começarem a cuidar de suas próprias finanças. (Do Gestão Financeira Criativa)