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A avalanche de mensagens falsas no Whatsapp e o cenário da desgraça nas eleições

Eleição fraudada pelas fake news?

.Por Bruno Lima Rocha.

(Photo by Evgeny Belikov cc)

Vamos tentar produzir um pouco de teoria no meio de tanta insanidade e loucura acumulada. Entendo que estamos vivendo um momento ímpar. Por um lado, os efeitos da Operação Lava-Jato, onde houve punição com alguma efetividade, mas evidentemente, seletiva. Se compararmos os índices de corrupção nos governos anteriores, proporcionalmente, o PT “roubou menos”, e tem menos correligionários acusados.

Mas, como a legenda do ex-presidente vinha de uma trajetória dos anos ’80, sendo nutrida por bases sociais concretas, fruto do gigantesco esforço no trabalho dos núcleos de base e do conjunto de pastorais, isso pegou muito, mas muito mal.

Outra fonte de incômodo era a relação orgânica – e por vezes de dirigismo – dos mais potentes movimentos sociais no Brasil com o PT. Por treze anos e meio, uma parcela importante da elite brasileira e frações de classe dominante foi engolindo seco, em função do governo de coalizão e do crescimento econômico do típico jogo do ganha ganha do lulismo. Cresce a economia, fortalecem o capitalismo brasileiro e melhoram as condições materiais de vida da maioria dos brasileiros. Foi o mote perfeito.

A culpa política viria junto com a decepção de uma ex-esquerda que deveria se portar de modo diferente das oligarquias contra as quais essa legenda foi criada. A Lava-Jato caiu em peso, e criminaliza o sistema político, e a conta cai em cima do PT e não necessariamente sobre todas as oligarquias.

Além do peso de corrupção sobre a legenda – e paga o preço quase sozinha – vem a crise econômica, isso agindo sobre uma população que estava acostumada a algum benefício e agora sente a frustração do consumo que retrocedeu. A economia rasteja e a paciência da população é quase nenhuma.

Foram quatro anos de pregação ultraliberal e ultraconservadora. Os Estados Unidos e sua doença vinda do Partido Republicano pós-Obama chegou ao país. A gente que vive dando a cara na mídia se surpreendeu como de um momento para outro, institutos defensores do ultraliberalismo e das políticas ultraconservadoras começaram a aparecer nos mesmos programas de rádio e TV das mídias regionais.

Se exigia um ponto e contraponto e pouco importava se o debatedor mais à direita tinha nível intelectual ou reputação acadêmica a zelar. Ao contrário, quanto mais absurda a fala, mais prestígio o energúmeno teria com seus pares e, o mais importante, seus financiadores.

Bem, imbecil por imbecil, o político que há mais tempo imbeciliza suas audiências e se associa aos “adoradores do bezerro de ouro”, é quem? Qual o homem que se diz “cristão” e não tem vergonha alguma em defender o nome de um torturador diversas vezes, incluindo na votação do golpe parlamentar com apelido de impeachment da presidente Dilma, em abril de 2016? Pois é….

E as Fake News?

Há uma correlação entre Brasil 2018 e EUA 2016. Lá como cá já ocorreu de tudo. Houve invasão de perfis do Facebook e compra de espaço em redes sociais. Lá, com recursos da Rússia, dentre outras potências, e aqui, com a suspeita de financiamento empresarial ilegal, disparando uma quantidade absurda de emails. Como o Brasil diminuiu o horário eleitoral, o peso das redes sociais é gigantesco. Infelizmente, o debate público sai muito prejudicado favorecendo sistemas de crenças controlados.

Esta rejeição é uma soma de desencanto e apatia social estimulada. Entendo que é a soma da rejeição ao sistema político, ainda que de forma equivocada; o reforço dos sistemas de crenças manipulados pelas empresas de exploração da fé alheia caracterizadas nas “igrejas” neopentecostais e também um trabalho de reforço do conservadorismo brasileiro. As relações sociais violentas reforçam a noção de pouco valor a vida das pessoas mais comuns do país. Parece com a soma de todos os medos? Sim, é isso mesmo. E mais.

As redes sociais formaram a base eleitoral nacional do favorito Jair Bolsonaro. Desde a convenção do Partido Progressista (PP) de 2014, quando o então deputado federal pelo partido herdeiro da ARENA tentou se lançar como candidato próprio da legenda, foi negada a vaga para fazer acordo com a reeleição de Dilma e Bolsonaro.

Desde então, o clã Bolsonaro trabalha sua própria rede de redes sociais e vêm ampliando sua base social do interior próspero – seguindo a rota da soja e os migrantes sulistas – para as Regiões Metropolitanas. A escolha de Fernando Haddad se deu como herdeiro do ex-presidente Lula, mas o favoritismo como alguém sem estrutura partidária, Bolsonaro, se deu pela sedimentação de sua imagem, seu proselitismo de extrema direita e conservantismo social e as alianças com as bancadas temáticas e as igrejas neopentecostais.

As redes sociais mudaram a forma de perceber a política e porque não, de fazer a política? Sim mudaram. Hoje a maior parte das pessoas, a maior parte do eleitorado se “informa” através de redes sociais e em especial pelo aplicativo do Whatsapp. Assim, em suposto círculo de autoconfiança, ou ainda na manipulação do algoritmo de plataformas de interação (como o Facebook), milhões de brasileiras e brasileiros são atingidas por uma comunicação direcional, em espiral e em rede. Logo, a manipulação e o envio em escala empresarial do que seria uma comunicação ponto-ponto e não ponto-massa, atingem a eleição e afeta os resultados eleitorais.

Mas isso começou agora ou já havia manipulação no período anterior? Já acontecia sim, mas o controle era por algumas empresas e lobbies. O que ocorre hoje é que as instituições sociais – como “igrejas empresariais” – e a coletânea de celebridades e subcelebridades cibernéticas operam como “filtro” nos emissores, trazendo uma situação absurda onde a falsificação da verdade se torna a nova verdade. A diferença é o formato de manipulação e a dificuldade de responsabilizar. No período anterior, como no debate do segundo turno entre Collor e Lula, houve evidente manipulação de cenário e de edição final. Agora, trata-se de envio de milhões de mensagens unidirecionais explorando fraquezas ideológicas ou percepções de valores negativos, como por exemplo, no direito à liberdade de gênero.

Para piorar, vale ressaltar que os índices de leitura e a carga de compreensão conceitual são cada vez menores, inversamente proporcionais à carga simbólica circulante no país.

O cenário da desgraça?

O cenário estava pronto: quatro anos de Lava-Jato direcionada; discursos de ódio e relativismo; mentiras históricas e negação dos horrores da ditadura, do holocausto e da escravidão; imitação barata do pior dos Estados Unidos e, o apoio de empresários predadores e Fariseus difusores da Teologia da Prosperidade.
A soma de gente sem vergonha e blasfemadores profissionais tinha de resultar em uma desgraça nacionalizada. E a fraude?

Eis que chegamos ao processo eleitoral, com uma campanha mínima, horário eleitoral reduzido e o atentado contra o candidato que de azarão se transformou em favorito, justamente retirando-o dos debates e embates de falar em público. Nos primeiros dias de hospitalização, a cada momento em que o vice abria a boca, mais uma polêmica e crise. A campanha, aparentemente sem comando, estava acuada diante das mulheres brasileiras e a campanha do Ele Não.

É no fim de semana de 29 de setembro de 2018, quando as marchas das mulheres superaram em convocatória – e muito – as de apoiadores ao Coiso que a máquina do Whatsapp foi disparada.
Somando aos constrangimentos das empresas a seus funcionários, ao menos 150 foram flagradas e sofreram alguma observação do Ministério Público Eleitoral, o enxame de gafanhotos ideológicos corroeu a base de legitimidade da campanha.

Não dá para ter noção do alcance destas mensagens, pois os números não são precisos. Seriam ao menos 1500 grupos de Whatsapp, a maior parte deles hospedados fora do país. Segundo matéria da Folha de São Paulo, de autoria de Patrícia Campos Mello, houve compra de serviços de envio de mensagens e pacotes de dados. Estes seriam pagos por empresas e não declarados como apoio de campanha. Logo, estaria caracterizado um crime eleitoral.

O emprego de mensagens sem debate público, e objetivando redes previamente organizadas e com influência direta de conglomerados econômicos de exploração da fé alheia, operam como fraude da campanha eleitoral. Logo, sem debate público e abuso de poder econômico, além de financiamento não declarado, estamos diante do que?

Bruno Lima Rocha é pós-doutorando em economia política, doutor e mestre em ciência política; professor de relações internacionais e de jornalismo. (www.estrategiaeanaliseblog.com / grupo no Telegram: t.me/estrategiaeanalise)

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