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33ª Bienal Afinidades afetivas privilegia questões sobre atenção, experiência do público e dos artistas

Mamma Andersson

Em São Paulo – Até o dia 9 de dezembro de 2018, o Pavilhão da Bienal será ocupado por cerca de 600 obras de arte vindas de diversas partes do mundo na 33ª Bienal de São Paulo.

A 33ª Bienal de São Paulo – Afinidades afetivas busca um modelo alternativo ao uso de temáticas, privilegiando o olhar dos artistas sobre seus próprios contextos criativos. A mostra reúne doze projetos individuais e sete mostras coletivas organizadas por artistas-curadores.

A edição deste ano vai privilegiar a experiência individual do espectador. O título escolhido pelo curador-geral Gabriel Pérez-Barreiro – apontado pela Fundação Bienal de São Paulo para conceber a mostra – remete ao romance de Johann Wolfgang von Goethe Afinidades eletivas (1809) e à tese “Da natureza afetiva da forma na obra de arte” (1949), de Mário Pedrosa.

O título não pretende direcionar a exposição tematicamente, mas caracteriza sua organização a partir de afinidades artísticas e culturais entre os envolvidos. Presença e atenção são as premissas dessa edição, numa reação a um mundo de verdades prontas, no qual a fragmentação da informação e a dificuldade de concentração levam à alienação e à passividade.

Para esta edição, ao lado dos doze projetos individuais eleitos por Pérez-Barreiro, o curador-geral convidou sete artistas-curadores para conceber mostras coletivas com total liberdade na escolha dos artistas e seleção das obras – a única estipulação foi que incluíssem trabalhos de sua própria autoria.

Veja abaixo mais detalhes da programação:

Proposições curatoriais concebidas pelos artistas-curadores

Alejandro Cesarco | ​Aos nossos pais
Artistas participantes​: Alejandro Cesarco / Andrea Büttner / Cameron Rowland / Sturtevant / Henrik Olesen / Jennifer Packer / John Miller (incluindo obra em colaboração com Richard Hoeck) / Louise Lawler / Matt Mullican / Oliver Laric / Peter Dreher / Sara Cwynar

A partir de seu interesse em questões como repetição, narrativa e tradução, Alejandro Cesarco (Uruguai/EUA, 1975) realiza Aos nossos pais, que “propõe questionamentos acerca de como o passado (a história) ao mesmo tempo possibilita e frustra potencialidades e de como ele pode ser reescrito pelo trabalho do artista, gerador de diferenças a partir de repetições”, explica. Além de Cesarco, participam da mostra artistas de três diferentes gerações, entre os quais Sturtevant (EUA, 1924 – França, 2014), Louise Lawler (EUA, 1947) e Cameron Rowland (EUA, 1988).

Antonio Ballester Moreno | ​sentido/comum
Artistas participantes:​ Andrea Büttner / Antonio Ballester Moreno / Escola de Vallecas (Alberto Sánchez, Benjamín Palencia) / Friedrich Fröbel / José Moreno Cascales / Mark Dion / Matríztica (Humberto Maturana e Ximena Dávila) / Rafael Sánchez-Mateos Paniagua

Sofia Borges. Pintura, Cérebro e Rosto , 2017

Antonio Ballester Moreno (Espanha, 1977) aborda sua curadoria na 33ª Bienal como forma de contextualizar um universo baseado na relação íntima entre biologia e cultura, com referências à história da abstração e sua interação com natureza, pedagogia e espiritualidade. Dentre os participantes, encontram-se o filósofo e pedagogo Friedrich Fröbel (Alemanha, 1782-1852) e Rafael Sánchez-Mateos Paniagua (Espanha, 1979), que contribuiu também com a publicação educativa Convite à atenção.

Claudia Fontes | ​O pássaro lento
Artistas participantes: ​Ben Rivers / Claudia Fontes / Daniel Bozhkov / Elba Bairon / Katrín Sigurdardóttir / Pablo Martín Ruiz / Paola Sferco / Roderick Hietbrink / Sebastián Castagna / Žilvinas Landzbergas

Para sua exposição intitulada O pássaro lento, ​Claudia Fontes (Argentina, 1964) parte de um livro fictício homônimo cujo conteúdo é desconhecido. Fontes e os artistas convidados apresentam trabalhos que ativam as aproximações entre artes visuais, literatura e tradução através de experiências que propõem uma temporalidade expandida. Todos os participantes, à exceção de Roderick Hietbrink, desenvolvem obras comissionadas.

Mamma Andersson | ​Stargazer II
Artistas participantes: ​Åke Hodell / Bruno Knutman / Carl Fredrik Hill / Dick Bengtsson / Ernst Josephson / Gunvor Nelson / Henry Darger / Ícones russos / Ladislas Starewitch / Lim-Johan / Mamma Andersson / Miroslav Tichý

Wura-Natasha Ogunji

Para sua exposição, Stargazer II, Mamma Andersson (Suécia, 1962) reúne um grupo de artistas que inspiram sua produção como pintora. “Estou interessada em artistas que trabalham com a melancolia e a introspecção como um modo de vida e uma forma de sobrevivência”, afirma Andersson. A seleção inclui Henry Darger (EUA, 1892-1973) e Dick Bengtsson (Suécia, 19361989); e artistas contemporâneos como a cineasta Gunvor Nelson (Suécia, 1931) e Åke
Hodell (Suécia, 1919-2000), entre outros.

Sofia Borges | ​A infinita história das coisas ou o fim da tragédia do um
Artistas participantes*:​ Adelina Gomes / Ana Prata / Antonio Malta Campos / Arthur Amora / Bruno Dunley / Carlos Ibraim / Carlos Pertuis / Coletivo Summit (Alessandra Meili, Rebecca Sharp e Sofia Borges) / Isaac Liberato / Jennifer Tee / José Alberto de Almeida / Lea M. Afonso Resende/ Leda Catunda / Martin Gusinde / Rafael Carneiro / Sara Ramo / Sarah Lucas / Serafim Alvares / Sofia Borges / Sônia Catarina Agostinho Nascimento / Tal Isaac Hadad / Thomas Dupal / Tunga /Vicente

* Um núcleo de pesquisa criada por Sofia Borges realizará projetos de ativação durante a exposição. Dele participarão alguns dos artistas acima mencionados e outros convidados durante o período expositivo.

A curadoria de Sofia Borges (Brasil, 1984), A infinita história das coisas ou o fim da tragédia do um, parte de uma leitura sobre a tragédia para investigar os limites da representação e da impossibilidade da linguagem enquanto instrumento de mediação do real. Em seu projeto expositivo, a seleção de obras específicas é acompanhada por trabalhos comissionados. Uma das particularidades da proposta é sua ativação por um programa de experimentações ao longo da Bienal, realizados por artistas convidados que podem ou não ter obras permanentemente instaladas na exposição.

Waltercio Caldas | ​Os aparecimentos
Artistas participantes:​ Anthony Caro / Antonio Calderara / Antonio Dias / Armando Reverón / Blaise Cendrars / Bruce Nauman / Cabelo / Friedrich Vordemberge-Gildewart / Gego / Jorge Oteiza / José Resende / Miguel Rio Branco / Milton Dacosta / Oswaldo Goeldi / Richard Hamilton / Sergio Camargo / Tunga / Vicente do Rego Monteiro / Victor Hugo / Waltercio Caldas

Waltercio Caldas

Waltercio Caldas ​(Brasil, 1946) projeta um espaço em que obras de artistas de períodos variados são confrontadas com trabalhos de sua autoria. “Visto que a produção de um artista trata de inúmeras questões que variam ao longo do tempo, escolhi obras que desviam do que mais se conhece de cada um deles e se destacam por seu valor e especificidade.” A partir de uma visão desafiadora do artista sobre sua própria obra e de enfrentamentos muitas vezes inusitados — como entre trabalhos de Victor Hugo (França, 1802-1885), Jorge Oteiza (Espanha, 1908-2003) e
Vicente do Rego Monteiro (Brasil, 1899-1970) — abrem-se novas possibilidades de leitura.

Wura-Natasha Ogunji | ​sempre, nunca
Artistas participantes: Lhola Amira / Mame-Diarra Niang / Nicole Vlado / ruby onyinyechi amanze / Wura Natasha-Ogunji / Youmna Chlala

Para seu projeto expositivo, composto exclusivamente por obras comissionadas, Wura-Natasha Ogunji ​(EUA/Nigéria, 1970) convidou cinco artistas de diferentes origens e nacionalidades para criar, assim como ela, novos trabalhos em um processo curatorial colaborativo e horizontal. “Suas investigações criativas abrangem do íntimo (corpo, memória, gesto) ao épico (história, país, cosmos)”, explica Ogunji. Em sempre/nunca, as seis artistas apresentam novos trabalhos que exploram o espaço e o lugar em relação ao corpo, à história e à arquitetura. “Desenvolvidos em um diálogo aberto entre artistas, seus projetos individuais e práticas entrecruzam ideias e questões sobre coragem, liberdade e experimentação, aspectos centrais do processo artístico”, complementa.

Doze projetos individuais selecionados por Gabriel Pérez-Barreiro

Entre os doze projetos individuais escolhidos pelo curador-geral, três deles são homenagens póstumas ​a Aníbal López ​(1964-2014, Guatemala), Feliciano Centurión​ (Paraguai, 1962 – Argentina, 1996) e Lucia Nogueira ​(Brasil, 1950 – Reino Unido, 1998). “Eu queria artistas que fossem históricos, mas ao mesmo tempo não consagrados. Trazê-los à Bienal é uma forma de resgatá-los do desaparecimento da história da arte e mostrá-los para as novas gerações”, diz Pérez-Barreiro. Para o curador, a realização dessas exposições também significa uma contribuição expressiva da Fundação Bienal na pesquisa, catalogação e recuperação desses acervos.

Aníbal López​, também conhecido por A-1 53167, o número de sua cédula de identidade, foi um dos precursores da performance em seu país. Sua obra, que inclui vídeo, performance, live act e intervenções urbanas, entre outras formas de expressão, tem forte caráter político e se volta para questões de disputas entre fronteiras nacionais, culturas indígenas, abusos militares e até do mercado de arte. Compõem a mostra registros em vídeo e fotografias de ações efêmeras, realizadas como forma de protesto à objetificação e fetichização da arte.

O universo queer é abordado com delicadeza por Feliciano Centurión​, que deixou seu país natal, o Paraguai, para radicar-se na Argentina, onde se tornou expoente da chamada geração “Rojas” (primeiros artistas a expor na galeria do Centro Cultural Rector Ricardo Rojas, da Universidad de Buenos Aires) até ser vitimado por complicações decorrentes da AIDS, aos 34 anos. Descendente de uma família de bordadeiras, o artista se apropria de práticas artesanais como linguagem para expressar elementos de sua história pessoal.

Ainda pouco conhecida no Brasil, a goiana Lucia Nogueira​ é uma figura essencial para compreender a arte britânica de seu tempo e desenvolveu uma carreira internacionalmente reconhecida. Suas esculturas e instalações, foco da individual incluída na 33ª Bienal, subvertem o utilitarismo de objetos com um humor sutil, tanto pela associação inusitada entre elementos quanto pelo jogo semântico constantemente presente em seus títulos, criando uma atmosfera de estranheza e poesia.

Claudia Fontes

Projetos individuais de outros nove artistas, dos quais oito foram especialmente comissionados, completam a seleção de Pérez-Barreiro. Do grupo, o único a exibir um corpo de trabalho histórico​ é Siron Franco ​(Goiás Velho, Brasil, 1950), com a série de pinturas Césio/Rua 57. Nela, Franco eterniza a impressão de horror e isolamento causada pelo acidente radioativo acontecido em 1987 no Bairro Popular, em Goiânia, com o elemento Césio 137.

Os oito artistas com projetos comissionados​ têm em comum o desenvolvimento de trabalhos que não se encaixam numa estrutura temática. “São pesquisas complexas que funcionam individualmente e não precisam de um contexto adicional para que o espectador se relacione com os trabalhos”, explica Pérez-Barreiro.

O portenho Alejandro Corujeira​ (Argentina, 1961) possui uma concepção formal leve e fluida, que parece querer captar o movimento da natureza. Ele terá esculturas e pinturas apresentadas na mostra. Denise Milan ​(Brasil, 1954) cria esculturas e instalações com grandes pedras e cristais. Na 33ª Bienal, a artista exibirá uma grande instalação inédita a partir desses elementos.

O cotidiano serve de inspiração às obras de Maria Laet​ (Brasil, 1982), que exibirá um novo vídeo na 33 a Bienal, e de Vânia Mignone​ (Brasil, 1967), que trará pinturas inéditas que ressoam o aspecto lírico da música popular brasileira. Nelson Felix ​(Brasil, 1954) mostrará uma nova obra composta de três momentos. Os dois primeiros (ausentes no espaço expositivo da Bienal) são uma ação física no continente americano que catalisa o projeto e uma peça subsequente que sintetiza o trabalho como um todo, situada em um espaço público na cidade de São Paulo. O
terceiro momento, exibido no Pavilhão da Bienal, compreende uma série de esculturas concebidas pelo artista como uma canção para o projeto.

As pesquisas de Bruno Moreschi​ (Brasil, 1982) e Luiza Crosman​ (Brasil, 1987) se relacionam com a corrente da crítica institucional e fogem de suportes artísticos tradicionais. “Com esses artistas teremos, dentro da exposição, um olhar crítico sobre como a arte funciona, é exibida e justificada”, afirma Pérez-Barreiro. Moreschi​ propõe, com seu projeto, um convite para pensar sobre a Bienal de uma maneira não tradicional através de um arquivo de experiências não oficiais, composto por uma série de documentos resultantes de ações desencadeadas por ele. Crosman​, por sua vez, atua sobre práticas que são constitutivas da Bienal, mas que, a seu ver, não requerem ser imutáveis. Colaborações com Zazie Edições, Pedro Moraes e Negalê Jones aparecem não apenas como forma de conectar diversas pessoas em um projeto, mas como forma de maximizar seus efeitos, abordando, portanto, o conceito de escala.

Partindo de uma abordagem pessoal e poética, Tamar Guimarães ​(Brasil, 1967), que une uma abordagem crítica sobre as instituições a preocupações poéticas e narrativas, apresentará um novo vídeo produzido a partir de uma leitura de Memórias póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis, realizada em colaboração com atores profissionais e não profissionais e adaptada ao contexto institucional e à história da Fundação Bienal.

Programação pública
Um programa de encontros, palestras, performances e ativações de obra acontecem nos espaços da 33ª Bienal com periodicidade semanal. Para saber mais, acesse 33.bienal.org.br/agenda

● Às quintas-feiras, o programa Des/re/organizações afetivas, organizado pela consultora Marília Loureiro, parte das investigações curatoriais para trazer encontros com instituições, grupos e iniciativas que efetuaram mudanças significativas em seus sistemas originais.

● Em novembro, o simpósio Práticas de atenção, concebido por Stephanie Hessler e D. Graham Burnett, reúne conversas, oficinas e performances em torno de um dos temas centrais da 33ª Bienal.

● Adicionalmente, os artistas Wura-Natasha Ogunji, Nicole Vlado, Lhola Amira, Tal Isaac Hadad e Luiza Crosman terão performances e ativações de suas obras distribuídas em eventos no espaço, e os artistas Bruno Moreschi e Rafael Sánchez-Mateos Paniágua têm ativações em plataformas online

Mais informações no SITE oficial da Bienal. (Carta Campinas com informações de divulgação)

33ª Bienal de São Paulo – ​Afinidades afetivas
7 de setembro a 9 de dezembro de 2018 / entrada gratuita
Curadoria: Gabriel Pérez-Barreiro e sete artistas-curadores convidados por ele:
Alejandro Cesarco, Antonio Ballester Moreno, Claudia Fontes, Mamma Andersson, Sofia
Borges, Waltercio Caldas, Wura-Natasha Ogunji
Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera, São Paulo, Brasil
bienal.org.br

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