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‘Vincent River’, drama de Philip Ridley, fala de perda, violência e sexualidade

Em São Paulo – O espetáculo Vincent River, drama do premiado autor britânico Philip Ridley, estreia no dia 17 de agosto (sexta, às 20h30) no palco do Auditório do Sesc Vila Mariana.

Com tradução e direção de Darson Ribeiro, a montagem tem no elenco Sandra Corveloni, atriz premiada em Cannes, e o jovem talentoso Thalles Cabral. A dor da perda é a forte característica desse drama curto e tenso, corajoso e pungente, de Ridley.

Vincent River é o nome do único filho de Anita que, na trama, é brutalmente assassinado por uma gang de jovens homofóbicos no banheiro de uma estação de trem abandonada. A mãe não só vai precisar elaborar a dor da perda, mas, principalmente, a sexualidade do rapaz, cuja morte expõe a homossexualidade. É a partir da chegada de Davey que tudo piora – pela crença dela de estar diante do assassino do filho. Mas, o crime do garoto de apenas dezessete anos, ainda está por vir. Ele viu algo que não consegue esquecer. Nesta noite os caminhos dos dois se cruzam com consequências devastadoras. Emocionante, desolador e com o humor negro característico de Ridley, a peça é o olhar antecipado da autodestruição.

Quarto drama de Ridley, Vincent River estreou no Hampstead Theatre, em Londres, em 6 de setembro de 2000. A peça foi remontada por Ros Povey para Old Vic Productions no Trafalgar Studios, em Londres, em 30/10/2007.

O universo de Philip Ridley é bastante familiar ao diretor Darson Ribeiro. Foi ele o responsável por apresentar o autor ao Brasil, com Disney Killer (The Pitchfork Disney), em 2011, além de outras traduções de obras já vistas e estudadas – uma delas, Tender Napalm, foi montada em Curitiba. “Ouso dizer que esta proximidade é também pelo fato do universo familiar que o habita ser bem próximo ao meu. Sua escrita profunda sobre o humano e suas idiossincrasias bate forte em mim. Em Vincent River tento ir ao encontro do seu universo, da sua estética apurada do cotidiano com personagens quase sempre em torno do bairro onde mora, no East End de Londres, mas que ganham universalidade pela crueza e realidade, implícitas”.

O diretor argumenta que Vincent River não poderia ser mais pertinente, diante da incidência de crimes homofóbicos que acontecem pelo mundo e ainda crescem no Brasil. “Frente a esse dado tão real e alarmante, minha vontade, ao invés de amenizar, é salientar, trazendo ainda mais para dentro o espectador. E é nos detalhes que busco essa sustentação: na dinâmica das falas alinhavo a encenação, absolutamente rígida na interpretação dos dois atores em cena, que foram presenteados com esse texto”, diz.

Sobre a encenação, Darson Ribeiro ainda ressalta: “se vou conseguir instalar uma estação de trem abandonada no proscênio do palco do Sesc Vila Mariana, isso é outra conversa (ri), porque diante da simplificação no cenário (Anita acabara de se mudar para uma quitinete), apropriei-me de símbolos sempre presentes na dramaturgia do Phil”, ele explica. Porque os cheiros, os ferros retorcidos, os tijolos à mostra e a atmosfera claustrofóbica do texto estarão no palco. “Como nem tudo é o que parece, é no imagético – milimétrica e delicadamente delineado pelo autor – que minhas mãos pretendem percorrer na interpretação dos atores. Mais do que uma luz feérica ou uma cenografia apoteótica, é na fala que a direção se curva. É nas pausas, às vezes curtas e outras longuíssimas, que busco conduzir, de forma delicada e sinuosa, cada olhar da plateia”. O diretor comenta que o espectador deve se sentir como se estivesse diante da mesma janela da mãe enlutada, que olha para o nada sem entender a razão de sua perda. “Afinal, esse olhar reverso, que busca o dentro para entender o que está fora, é o mais importante. Esse é o maior entendimento”.

Em um clima de luz desvanecida, que caminha lenta com os períodos do dia em uma cidade grande, a história vai tomando cor, em meio a comprimidos pipocando pelo chão e garrafas de gim que reluzem como fogos de artifício no pardo das caixas de papelão. E a solidão, inicialmente simbolizada por uma única poltrona velha de couro, vai ganhando outras formas para compor um mundo possível e agigantado, mesmo dentro da saleta de uma quitinete, como se quisesse correr sobre os trilhos de trem até desaparecer.

A direção se pautou, de forma cautelosa e carinhosa, no estudo dos detalhes de figurinos, adereços e acessórios, buscando um vazio espacial que, devagarzinho, vai sendo preenchido com “possibilidades-de-existência” que, segundo Darson, é o que mais falta a quem aqui fica depois de uma morte: “o quebra-cabeças de uma tragédia que marca, corrói os ossos e nos põe à prova do viver por estar no nosso dia-a-dia é, então, completado”.

O diálogo na peça é uma das armas mais convincentes e autênticas que já vi num texto de teatro, completa. Principalmente, porque o tema homofobia não é exatamente único. “Vincent River tem tratativa diferente, retrata as consequências, concentrando-se naqueles que precisam continuar a viver, desvendar e aceitar o que aconteceu”, comenta. Sem contar a minúcia da escrita que, de tão eficaz, nos põe literalmente em cima dos trilhos ou debaixo da neve que cai. Ou ainda, dolorosamente sentindo o quente do sangue escorrer pelo corpo ou o cheiro de água sanitária de um banheiro público. “É difícil ao espectador não desistir, não desejar estar em outro lugar; não tomar partido de Anita ou de Davey; o que se ouve pode não ser agradável, mas é um drama muito poderoso e muito bem escrito”, finaliza Darson Ribeiro.

O que dá à peça de Ridley um poder particular e considerável é como o autor usa uma estrutura clássica e, ao mesmo tempo, implicante, coloquial e birrenta, para lançar grandes e perturbadoras sombras que terminam te seguindo até em casa (…). As chances de que a imagem do morto se levante e saia da cabeça de Davey são irrealizáveis. E isso é tão verdadeiro para nós quanto para ele. (NY Times)

O enredo

Depois de Vince ser assassinado por jovens de uma gangue em um linchamento homofóbico, Anita deve aceitar não só a perda, mas também o fato da oculta homossexualidade do filho de quase 30 anos, que ela se recusou a suportar enquanto estava vivo. Meses se passaram. O complexo momento de tristeza se complica com a chegada de Davey, de 17 anos, ferido no rosto, que lhe confessa não conseguir se livrar do fantasma de Vincent River, pois foi ele quem encontrara o cadáver na estação de trem abandonada. Depois de tratar do ferimento do garoto e travarem um diálogo de frases curtas e recheado de suspense, ela passa a crer que está diante do assassino de seu filho, mas o crime dele ainda está por vir, e é muito mais profundo.

Anita e Davey têm muito em comum, embora isso não fique aparente quando ele adentra pela porta, propositadamente entreaberta, pois ela percebera que o rapaz a seguia no entorno do novo apê para onde foi forçada a se mudar, após a morte de Vince (como ela o chamava). À medida que a história se desenrola, se estabelece um jogo altamente sedutor e de suspense entre eles, onde o comportamento de Davey revela ser ele menos ingênuo que aparenta. Davey, cuja mãe morreu de câncer, não é menino nem homem, mas um adolescente lutando com emoções que ainda não pode controlar nem entender. Acostumado a encobrir sua sexualidade, ele literalmente tem que extirpar sua história para fora das entranhas e, quando finalmente emerge, derrama-a como uma torrente.

Anita é o tipo característico das mães do East End londrino. Sua aparência é dura, mas o interior é macio e contagiante. “É o tipo de mulher que pode ser incapaz de se autovalorizar, mas é também uma mulher com senso de humor afiado, o que a faz se equilibrar, sempre mantendo o sotaque autêntico de East End, ora não muito profundo ora nem muito alto, com uma qualidade quase melódica”, afirma o diretor.

A peça de Ridley, com um assassinato terrivelmente sádico em seu cerne, tem uma “simples simplicidade rígida” que desmente a complexidade das imagens e da linguagem (…) [A peça] transmite poderosamente a maneira como as ficções ferozmente mantidas dentro das famílias, enquanto permanecem incontestadas, sustentam a construção familiar à custa de definir e restringir perigosamente os indivíduos dentro dele e seus relacionamentos (…). Ridley dispersa fragmentos poéticos por toda parte, como um rastro de migalhas de pão que levam à suposta segurança de casa. (Times/Londres) (Carta Campinas com informações de divulgação)

Ficha técnica
Texto Philip Ridley |Tradução e direção geral Darson Ribeiro | Elenco: Sandra Corveloni (Anita, especialmente convidada) e Thalles Cabral (Davey).
Fotografia Eliana Souza | Designer Gráfico Iago Sartini | Hair Style Walter Leal – Studio W | Visagismo Claudio Germano | Cenografia, Trilha e figurino Darson Ribeiro | Design de luz Fran Barros | Edição de som Lalá Moreira | Assistente de direção Roberto Novelli| Estagiário de direção e operação de som e luz João Marcos Costa | Assessoria de imprensa Eliane Verbena | Administração Geondes Antônio | Armazenamento e logística Personnalite Transportes & Mudanças | Idealização Dr Produções | Realização Sesc-SP

Espetáculo: Vincent River, de Philip Ridley
Estreia: 17 de agosto. Sexta, às 20h30
Temporada: 17/8 a 29/9 – Sextas, às 20h30, e sábados, às 18h
Duração: 90 minutos. Gênero: Drama. Classificação: 12 anos.
Ingressos: R$ 20,00 (inteira). R$ 10,00 (meia). R$ 6,00 (credencial plena do Sesc)
Bilheteria: Terça a sexta (9h – 21h30); sábado (10h – 21h); domingo e feriado (10h – 18h30) – ingressos nas unidades do Sesc e portal.
Local: Auditório (128 lugares).

Sesc Vila Mariana
Rua Pelotas, 141, São Paulo – SP
Telefone: 5080-3000
Estacionamento: R$ 5,50 + R$ 2,00 a hora adicional (credencial plena) e R$ 12,00 + R$ 3,00 a hora adicional (outros). 130 vagas.

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