No bom português, o brasileiro paga imposto para poder respirar um ar bem poluído.
Isso é o que se conclui de uma pesquisa realizada em São Paulo por pesquisadores da USP.
A pesquisa calculou que veículos movidos a diesel, como grandes caminhonetes, SUV, caminhões e ônibus, são responsáveis por cerca da metade da poluição do ar de São Paulo. Essa poluição é medida pela concentração de compostos tóxicos na atmosfera, tais como benzeno, tolueno e material particulado.
E esse subsídio aumentou após a greve dos caminhoneiros realizada no primeiro semestre deste ano. Além disso, o dinheiro público também subsidia as empresas de transporte público urbano (que em grande maioria são de ônibus a diesel). Só no estado de São Paulo, a estimativa do Instituto Saúde e Sustentabilidade é de 11 mil pessoas morram por ano em decorrência da poluição do ar, provocada principalmente por veículos.
Para os pesquisadores, o valor da poluição dos veículos a diesel é muito alto, uma vez que ônibus e caminhões representam somente 5% da frota veicular. Os veículos a diesel, incluindo SUV e caminhonetes, segundo dados da pesquisa Sindipeças, representam 10% da frota de veículos. A Região Metropolitana de São Paulo tem mais de 7 milhões de veículos.
“A estimativa da emissão de poluentes de cada tipo de veículo é feita geralmente baseada em valores medidos em laboratório e multiplicados pelo número de veículos nas ruas”, disse Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP e um dos autores do estudo.
“Um dos aspectos inovadores desse estudo foi utilizar o etanol na atmosfera, que é emitido somente por carros e motos. Com isso, pudemos separar a contribuição real de veículos leves, que emitem etanol, dos pesados, movidos a diesel e que não emitem etanol”, disse Artaxo.
Luciana Rizzo, professora da Universidade Federal de São Paulo, que também integrou a equipe da pesquisa, ressalta que uma das forças do estudo foi conseguir incluir um grande conjunto de poluentes, inclusive de reconhecido impacto na saúde humana e no clima, atualmente não regulamentados. É o caso, segundo Rizzo, de partículas de escalas nanométricas, ozônio, acetaldeído, benzeno, tolueno e o carbono negro, composto emitido por combustão e responsável pela fumaça preta observada em escapamentos.
“Pelos resultados obtidos, certamente uma redução de uso de veículos na cidade de São Paulo, aliada à expansão da linha de metrô, por exemplo, é o primeiro e mais eficaz modo de minimizar a poluição na cidade. Um ótimo custo-benefício pode também ser obtido diminuindo as emissões de poluentes pelos ônibus”, disse o responsável pelo estudo Joel Ferreira de Brito,.
O pesquisador ressalta que existem filtros que eliminam 95% das emissões de ônibus, “e é muito importante que essas novas tecnologias, disponíveis e baratas, sejam efetivamente implementadas em São Paulo e nas grandes cidades brasileiras”.
Esses resultados foram obtidos durante três meses de medida no centro de São Paulo, na primavera, um período relativamente chuvoso e de pouca poluição.
O artigo Disentangling vehicular emission impact in urban air pollution using etanol as a tracer (doi: 10.1038/s41598-018-29138-7), de Joel Brito, Samara Carbone, Djacinto A. Monteiro dos Santos, Pamela Dominutti, Nilmara de Oliveira Alves, Luciana V. Rizzo e Paulo Artaxo, está publicado em: www.nature.com/articles/s41598-018-29138-7. (Carta Campinas com informações de divulgação)