As famílias conseguiram reverter a decisão da juíza local e a liminar de despejo foi suspensa. Na última semana os e as sem terras sofreram ataques da mídia empresarial hegemônica na região. A capa do jornal impresso Correio Popular, no dia 19/07, e o programa Band Cidade, do Grupo Bandeirantes de Comunicação, no dia 23/07, transmitiram informação evidentemente parcial buscando construir na opinião pública a ideia de que não existem famílias morando no acampamento Marielle Vive!, tratando-se de um “acampamento fantasma”.
Esse argumento inverídico e tendensioso é o mesmo utilizado pelos advogados da fazenda no processo jurídico, o que demonstra o vínculo das matérias com os interesses desta.
O Movimento Sem Terra questiona os dados e a veracidade das imagens captadas pelo citado cinegrafista, apresentado como “anônimo” pelo jornal, e desmente a informação publicada pela mídia empresarial.
Somente a partir das imagens de drone não é possível comprovar que não existem famílias no local, o que afronta aqueles comprometidos com a ética profissional na categoria.
Se em semelhante horário comercial o drone passasse sobre o bairro onde mora o anônimo cinegrafista, este não seria “encontrado” pelas imagens, pois estaria em horário de trabalho. Nos parece óbvio que o mesmo ocorra com as famílias sem terra da Ocupação Marielle Vive!, pois elas trabalham e buscam sobreviver.
Ao contrário do que apresentado nas matérias, e como evidenciam os dados da realidade, em um contexto de crise social como o que estamos vivendo, a luta pela terra se coloca como uma saída para as famílias, por isso o acampamento não pára de crescer. Utilizar imagens descontextualizadas, sem fazer ressalvas sobre as famílias estarem trabalhando, em atividades externas e/ou dentro dos barracos, é uma demonstração de irresponsabilidade jornalística. A imagem não fala por si.
“A ação dos meios de comunicação demonstra a tentativa de deslegitimar a ocupação realizada em uma área na qual a empresa não consegue comprovar posse. Esses empresários estão desesperados com o fortalecimento do Acampamento e percebem que estão perdendo judicialmente. Desse modo, utilizam de meios inescrupulosos para atingir e enfraquecer nossa luta legítima” afirma Sônia Costa, representante das famílias.
As matérias mostram ainda que houve manipulação inadequada dos dados da empresa de ônibus Sou Valinhos que faz a linha para o bairro São Bento (ônibus 502). Os dados da empresa comprovam o evidente aumento no fluxo de passageiros nesta linha por conta da existência do Acampamento.
Esse fato é natural, posto que as famílias todos os dias saem pra trabalhar, procurar emprego e ir atender demandas de toda ordem, como dita a vida em nossa sociedade. Falta rigor investigativo citar o dado da diminuição dos passageiros no transporte coletivo como evidência do suposto esvaziamento do acampamento, pois é impossível determinar o que ocorre na vida privada dos acampados, ou seja, se passaram a se deslocar por veículos pessoais, se organizaram caronas, se vão a pé etc. Portanto, isso é jornalismo sem nenhum compromisso com a verdade dos fatos.
Além dos ataques midiáticos, possivelmente financiado pela própria empresa, as famílias vivem num clima de ameaças sob constantes disparos de armas de fogo por parte da segurança privada da Fazenda Eldorado e não recebem abastecimento de água potável por parte da Prefeitura, um direito humano fundamental.
Em tempo, os e as sem terras denunciam que a agência responsável pela matéria do Correio Popular, a REDE ANHANGUERA DE COMUNICAÇÃO (RAC), não paga seus profissionais do jornalismo desde janeiro e atrasou o pagamento por várias vezes ao longo dos últimos 2 anos. Isso demonstra a imoralidade, a falta de compromisso e o desrespeito da agência com a legislação trabalhista, o que a desqualifica em termos de seriedade dentro do ramo jornalistico. Os jornalistas dessa empresa, organizados pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de SP (SJSP), estão em greve desde o dia 14 de fevereiro e ainda não receberam o devido, mesmo com ordem judicial para o pagamento. Isso demonstra o descaso da empresa em relação aos trabalhadores e trabalhadoras. O Movimento Sem Terra apoia a greve e denúncia essa empresa irresponsável e sensacionalista.
O MST entrou em contato com a produção do programa Band Cidade, do Grupo Bandeirantes de Comunicação, solicitando direito de resposta. No entanto, esse direito ainda não foi garantido.
Há mais de 3 meses famílias sem terras ocuparam a Fazenda Eldorado Empreendimentos Imobiliários, denunciando a especulação imobiliária, a improdutividade da área e exigindo a reforma agrária. (Do MST)