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‘Os Lavadores de Histórias’, com a Cia de Achadouros, trata de memórias esquecidas da infância

Em São Paulo – O espetáculo infantil Os Lavadores de Histórias, da Cia. de Achadouros, estreia no Sesc Pinheiros no dia 15 de julho (domingo), em duas sessões: às 15h e às 17h e permanece em cartaz até o dia 19 de agosto.

A montagem, dirigida por Tereza Gontijo, tem dramaturgia assinada por Silvia Camossa, concebida em processo colaborativo, a partir das cenas improvisadas pelo grupo em sala de ensaio.

Os Lavadores de Histórias são três personagens – Urucum, Tom Tom e Jatobá – interpretados pelos atores palhaços Emiliano Favacho, Mariá Guedes e Felipe Michelini, respectivamente. À noite, eles visitam quintais abandonados para lavar objetos esquecidos como brinquedos e roupas, e reviver momentos especiais da infância. Eles carregam consigo o “rio da memória”, no qual vão lavando as coisas que encontram e revelando histórias, fantasias, personagens e brincadeiras. Por meio de cenas cômicas, circenses, teatro de sombras e objetos, o espetáculo faz uma sensível reflexão sobre a relação da criança com o mundo real e da imaginação, e lança sobre a infância o olhar lúdico e poético.

Tendo como ponto de partida a potente e delicada poesia de Manoel de Barros, a concepção valoriza a intimidade com as pequenas coisas, a beleza contida em sutilezas, a graça da imaginação, as brincadeiras espontâneas e colaborativas e o contato com a natureza. A partir de uma imersão na obra do poeta, os atores foram para as ruas do bairro São Mateus em busca de histórias reais da memória afetiva de pessoas comuns (moradores antigos e crianças) que foram usadas em cenas da peça. “Um dos poemas de Manoel de Barros que mais nos inspirou foi Desobjeto, que fala sobre como a imaginação pode dar novos sentidos e funções a um objeto e transformá-lo em outras coisas na hora de brincar”, comenta Felipe Michelini. Os protagonistas contam que lembranças de suas próprias infâncias e de outras pessoas envolvidas na produção também estão no enredo.

A diretora Tereza Gontijo – mineira de Belo Horizonte, que também é palhaça, integrante dos Doutores da Alegria e da Cia. Vagalum Tum Tum – enfatiza que Os Lavadores de História foi concebido como um espetáculo para a família. “Enquanto a palhaçaria é diversão garantida para as crianças, o tom lírico e poético da peça toca os adultos ao acionar o dispositivo de suas lembranças da infância”. Ela ainda comenta que o processo junto à Cia. de Achadouros teve como estímulo o prazer do jogo de palhaços no trabalho de criar para o público infantil.

Urucum, Tom Tom e Jatobá sabem que nas coisas esquecidas nos quintas das casas estão guardadas muitas histórias de meninos e meninas que cresceram e já não se lembram de seus sonhos e brincadeiras. As histórias vão surgindo à medida que os objetos e brinquedos vão sendo lavados e revelados.

Ente as cenas está O menino que queria voar: um lençol manchado revela o garoto que queria viajar pelo mundo. Às vezes, fazia xixi enquanto dormia e depois se escondia embaixo da cama, sonhando em voar e unir os quatro continentes. Tem também A menina triste que descobre o que a faz feliz: um lenço colorido traz a história da menina que vivia triste até conhecer um menino mágico. Na história, inspirada nas conversas com a sambista Tia Cida, moradora da região de São Mateus, a menina conhece um amigo quando vai buscar lenha para o fogão e o acompanha até o acampamento cigano, descobrindo ali o seu amor pela música. Outro momento é O menino que vai para a lua com o amigo imaginário: um sapato velho se transforma em um interfone secreto para anunciar a missão da primeira criança a pisar na lua (história do ator Felipe). E ainda A menina que encantava os passarinhos: uma velha escova de cabelos faz as personagens reviverem a história de uma rádio de passarinhos (lembrança da atriz Mariá). Na programação desta rádio muitas aves participam: a andorinha dá receita de bolinho de chuva (chuva mesmo!); o tico-tico, que voa muito alto, faz a previsão do tempo; na transmissão do futebol, os jogadores são pássaros; e a radionovela dramatiza a história do menino que ficou chateado porque ia ganhar uma irmãzinha – não um “irmãozinho para brincar” -, mas ele descobre a alegria dessa nova relação (história do ator Emiliano).

Para o grupo, Os Lavadores de Histórias quer fazer o público lembrar coisas que não deveriam ser esquecidas, lembrar que brincar junto é fundamental em tempos de isolamento, e quebrar as amarras dos adultos pela memória afetiva da infância para que pais e filhos revivam a magia do brincar.

A Companhia de Achadouros formou-se em 2012, ainda com o nome de A Melhor da Cidade Cia. Teatral, a partir do encontro de artistas em um curso de máscaras, ministrado por Cida Almeida e Sofia Papo, na SP Escola de Teatro, quando estudaram técnicas do universo das máscaras, passando pela commedia dell’arte e pelo bufão até a menor máscara do mundo: o nariz vermelho do palhaço. Em 2014, o coletivo passou a pesquisar palhaçaria na região de São Mateus, na zona leste de São Paulo. Contemplado com o Programa VAI-2014, o grupo realizou o projeto O Espetáculo Mais Prestigioso do Século Vai a São Mateus que, além da realização da peça, compreendeu uma série de incursões pelo bairro (cortejos cênicos e musicais, saídas livre de palhaço), pesquisando a linguagem do palhaço e sua relação com o público. O Espetáculo Mais Prestigioso do Século – com direção de Sofia Papo e dramaturgia de Cida Almeida – foi concebido como teatro de rua, explorando a linguagem do palhaço e números circenses, trabalho esse que direcionou a pesquisa do grupo para a ação do palhaço na rua como interventor e facilitador de relações. Um palhaço que não necessariamente apresenta números ou cenas, mas que promove uma quebra no tempo-espaço cotidiano, buscando uma relação direta com o interlocutor em momentos de partilha de afeto.

Em 2017, o grupo debruçou-se sobre as questões da infância na região com o projeto Elogio à Infância: Escavando os Meninos que Fomos – trabalho que reúne histórias vividas com pessoas em São Mateus, memórias da infância dos integrantes do grupo e a poesia de Manoel de Barros. O processo resultou no espetáculo Os Lavadores de Histórias, em parceria com a diretora Tereza Gontijo e a dramaturga Silvia Camossa. Em 2018, o grupo passa a se chamar Cia de Achadouros, nome encontrado na poesia de Manoel de Barros que melhor define a essência do coletivo: “Mas eu estava a pensar em achadouros de infâncias. Se a gente cavar um buraco ao pé da goiabeira do quintal, lá estará um guri ensaiando subir na goiabeira. Se a gente cavar um buraco ao pé do galinheiro, lá estará um guri tentando agarrar no rabo de uma lagartixa. Sou hoje um caçador de achadouros da infância. Vou meio dementado e enxada às costas cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos”. Além da pesquisa teatral, os integrantes da companhia também desenvolvem trabalho pedagógico, ministrando aulas de teatro, palhaçaria e intervenção urbana na Casa de Cultura São Mateus, Casa de Cultura Parque São Rafael e Casa de Cultura Chico Science. (Carta Campinas com informações de divulgação)

Ficha técnica
Espetáculo infantil: Os Lavadores de Histórias
Com Cia. de Achadouros
Dramaturgia: Silvia Camossa
Direção: Tereza Gontijo
Atuação: Emiliano B. Favacho (Urucum, Gururu e Cipriano), Felipe Michelini (Jatobá, Burguinha e Menino Cigano) e Mariá Guedes (Tom Tom, Menina Triste e Menina Sarinha)
Cenografia: Alício Silva
Figurinos: Cleuber Gonçalves
Iluminação e fotografia: Giuliana Cerchiari
Adereços: Clau Carmo e Cia. De Achadouros
Música: Kevin Macleod
Preparação corporal: Erickson Almeida e Ana Maíra Favacho
Edição de som: Rodrigo Regis
Grafite do painel: Celso Albino
Produção associada: Escultural Produções de Arte
Assessoria de imprensa: Verbena Comunicação
Realização: Sesc

Sinopse – Urucum, Tom Tom e Jatobá são lavadores de histórias que, todas as noites, visitam quintais da infância para lavar o que ali fora esquecido e revelar memórias. Eles ficam tocados, mas também se divertem muito com as personagens e segredos de cada história revelada. O espetáculo convida o público a reviver as próprias memórias e relembrar a infância com o intuito de que não se perca o que foi vivido em cada lugar.

Estreia: 15 de julho. Domingo, às 15h e às 17h
Temporada: 15 de julho a 19 de agosto. Domingos, às 15h e às 17h
Ingressos: R$ 17,00 (inteira). R$ 8,50 ((meia: estudante, servidor de escola pública, + 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência). R$ 5,00 (credencial plena do Sesc: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes)
Grátis para crianças até 12 anos, com retirada de ingresso
Duração: 60 min. Livre para todos os públicos (recomendação etária: a partir de 4 anos)
Local: Auditório (3º andar) – 98 lugares

Sesc Pinheiros
Rua Paes Leme, 195
Tel.: (11) 3095-9400
Bilheteria: Terça a sábado (10h às 21h), domingos e feriados (10h às 18)
Estacionamento com manobrista: terça a sexta (7h às 21h30), sábado (10h às 21h30) e domingo e feriado (10h às 18h30). Taxas | veículos e motos: credenciados plenos no Sesc – R$ 12,00 (três primeiras horas) e R$ 2,00 (a hora adicional); não credenciados no Sesc – R$ 18,00 (três primeiras horas) e R$ 3,00 (a hora adicional).
Transporte público: Metrô Faria Lima – 500m | Estação Pinheiros – 800m

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