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O feminino, deuses e rituais da Índia se encontram em ‘Cabeças Trocadas’, da obra de Thomas Mann

Em São Paulo – O espetáculo Cabeças Trocadas – do grupo Caixa de Fuxico da Cooperativa Paulista de Teatro – estreia no dia 6 de julho (sexta, às 21h) na SP Escola de Teatro, onde cumpre temporada até o dia 6 de agosto.

Adaptada do romance do alemão Thomas Mann pela atriz Andrea Cavinato, a história aborda sentimentos humanos intensos e a forma como as atitudes podem expressar nossos desejos mais secretos. A direção é assinada por Rosana Pimenta.

Esta é a primeira montagem do Caixa de Fuxico, atuante desde 1999, destinada ao público adulto. Fruto de um longo processo de experimentação, a partir da densa e complexa narrativa de Mann, a peça expõe questões ligadas ao patriarcado e ao feminino em uma trama carregada de metáforas e ironia.

O enredo se passa em uma aldeia na Índia. Dois amigos – bem diferentes tanto fisicamente como na condição social e na forma de pensar a vida – vivem uma estranha aventura com uma mulher, a bela Sita. Em um momento de desespero, Sita toma a decisão impensada, ajudada pela deusa Kali, de trocar a cabeça do marido com a do amigo. As consequências de suas escolhas são surpreendentes e acabam por custar a vida desse trio amoroso.

Andrea conta que leu o romance, 18 anos atrás, e sempre carregou consigo o desejo de encená-lo. “As Cabeças Trocadas me impressionou pela complexidade como Mann aborda a representação do feminino, a espiritualidade e o poder do inconsciente usando a metáfora; ele é extremamente irônico e mordaz, mas o faz de maneira ambígua”. Ela ainda afirma que, embora adaptado para a sala de teatro, seu texto mantém as características da história original.

Rosana Pimenta, que tem reconhecido trabalho de pesquisa sobre danças indianas, foi convidada, em um primeiro momento, para fazer a preparação corporal de Andrea, mas acabou assumindo a direção da atriz. Segundo ela, “a peça não aprofunda no conhecimento da cultura oriental, mas propõe questionar e refletir sobre a nossa própria cultura, flertando com os códigos do oriente, a partir da nossa perspectiva ocidental com suas amplitudes e amarras”. E Andrea Cavinato destaca como importante aspecto reflexivo da obra o fato da deusa Kali conduzir a realização dos desejos de Sita, subvertendo as regras patriarcais, onde a mulher é propriedade do pai ou do marido não tendo direito a escolhas ou desejos.

O espetáculo Cabeças Trocadas tem sua estética no teatro épico. A encenação usa o recurso da narrativa, do ritual – somado ao teatro de sombras e à música ao vivo – para compor esse enredo filosófico e discutir as relações entre físico e espiritual, desejo e tabu, sagrado e profano. Andrea Cavinato, que está em cena junto com a musicista Estela Carvalho, conduz a história e interpreta todos os personagens.

A música executada ao vivo é propícia aos climas da narrativa, tanto no âmbito mítico dos mantras como no universo pop que já se instala Índia. Estela toca violão, flauta, escaleta, acordeon e percussão, criando uma paisagem sonora paralela, mas que também compõe a cena junto com gestos, imagens e palavras. E o teatro de sombras propõe um jogo metafórico sobre a vida, fazendo a ponte com o universo dos sonhos e da imaginação.

A atriz explica que o processo foi desenvolvido na sala de ensaio, da adaptação à encenação. “Cabeças Trocadas é um teatro de pesquisa do gesto e do movimento corporal para comunicar imagens por meio do experimento nomeado ‘a carne aberta’, no qual o ator cria um corpo que ‘vibra’ para alcançar a integração com o espírito e dar intenção às palavras”. A dança indiana Barathanatyan foi objeto de treinamentos da diretora com a atriz, explorando o viés narrativo desse estilo, caracterizado pela codificação de gestos. Inserido no jogo da encenação, o expectador se posiciona em círculo e desfruta metaforicamente do “sorteio” dos lances da vida. Como um ritual, a encenação leva o público a conhecer segredos sobre a existência humana.

Thomas Mann (1875 – 1955) foi escritor, romancista, ensaísta, contista e crítico social do Império Alemão. O conto original, no qual se inspirou faz parte dos antigos Vedas, a mais antiga literatura indo-europeia, que são textos escritos em sânscrito, contendo mantras, ensinamentos da antiga Índia e louvor a vários deuses. Ele aparece em Contos do Vampiro: histórias de tradição oral traduzidas do original de Somadeva – estudioso das religiões que viveu no século XI. O conto foi adaptado e romanceado por Mann e publicado como As Cabeças Trocadas, sendo apresentado como uma narrativa erótica, em que o autor constrói um tratado sobre o espiritual e a matéria na busca pela verdade da existência humana. A história, do ponto de vista do narrador europeu, relata como vivia uma mulher na antiga Índia, os costumes, os deuses e rituais. Uma cultura tradicional que preserva segredos, cuja divisão de castas e religião ainda choca e incomoda o Ocidente.

A história parte de Shridaman (brâmane culto e espiritualizado) e Nanda (belo e rude trabalhador da terra), dois jovens amigos inseparáveis. Ambos se apaixonam por Sita, após vê-la tomando o banho de purificação. Nanda, vendo o sofrimento do amigo, ajuda-o a desposar Sita mesmo amando-a. Ela engravida e os três viajam em uma carroça para levá-la até seus pais. Shridamam percebe um olhar de desejo de sua esposa para o amigo e resolve parar no santuário da tenebrosa mãe Kali, onde decepa a própria cabeça para libertar a mulher e o amigo. Nanda vai procurá-lo e percebe que ele está morto; sente-se culpado e resolve seguir seu amigo no suicídio. Sita entra no templo, encontra os dois mortos e decide se enforcar ao perceber sua culpa. A deusa Kali aparece e a impede de cometer o ato, além de lhe dar a chance de tê-los de volta. É quando Sita decide trocar-lhes as cabeças e, a partir daí, terá que viver com as consequências de sua escolha.

Ficha técnica
Texto e concepção: Andrea Cavinato – adaptação de As Cabeças Trocadas, de Thomas Mann. Direção: Rosana Pimenta. Interpretação: Andrea Cavinato. Música ao vivo: Estela Carvalho. Direção de arte: Juliana Bertolini. Pesquisa musical: Helena Rosenthal, Juliana Bertolini e Estela Carvalho. Orientação sobre teatro de sombras: Andi Rubinstein. Iluminação: Zhé Gomes. Apoio em produção: Dani Caielli. Fotos: Priscila Reis e Lineu Ko. Costureira: Benê Calistro. Assessoria de imprensa: Verbena Comunicação. Produção: Carlito Tostes.

Sinopse – Numa aldeia na Índia, dois amigos fisicamente diferentes com formas diversas de pensar a vida, vivem uma estranha aventura com a bela Sita que, num momento de desespero e com a ajuda da deusa Kali, toma a decisão de trocar a cabeça do marido com a do amigo. O espetáculo utiliza dos recursos da narrativa, do ritual, do teatro de sombras e da música ao vivo. (Carta Campinas com informações de divulgação)

Espetáculo: Cabeças Trocadas
Estreia: 6 de julho. Sexta, às 21h
Temporada: 6 de julho a 6 de agosto
Dias e horários: sexta, sábado e segunda (às 21h) e domingo (às 19h)
Ingressos: R$ 30,00 (meia entrada: R$ 15,00)
Bilheteria: 1h antes das sessões. Aceita cartão de débito e dinheiro.
Duração: 75 min. Classificação: 16 anos. Gênero: Drama.

Bate-papo após sessão
15/7 – Samir Signeu Porto Oliveira: Teatro Épico
5/8 – Rosana Pimenta e Andrea Cavinato: Processo criativo

Local: SP Escola de Teatro (Sala R1)
Praça Franklin Roosevelt, 210 – Consolação. São Paulo/SP
Tel: (11) 3775-8600 – http://www.spescoladeteatro.org.br/
Acesso universal. Ar condicionado. Capacidade: 60 lugares.

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