Cooperativa de mulheres, organizada pelo MST, produz ervas medicinais orgânicas

.Por Camila Maciel.

Trinta agricultoras e dois agricultores do Assentamento da Fazenda Pirituba, na cidade de Itapeva, interior paulista, vem demonstrando nos últimos 27 anos a possibilidade de fazer saúde, a partir da elaboração de medicamentos à base de plantas.

O cuidado milenar dos povos tradicionais por meio das plantas, à medida que foi crescendo, fez nascer a Cooperativa de Produção de Plantas Medicinais, Cooplantas.

Parte da produção da cooperativa, que é toda orgânica e agroecológica, vai para o Sistema Único de Saúde (SUS) em forma de medicamentos fitoterápicos.

Com o trabalho na lavoura, elas produzem dezenas de variedades. Cavalinha, melissa, erva cidreira, capim limão, goiaba, amora são apenas algumas delas.

“A capuchinha a gente usa mais para pomada milagrosa, cicatrizante. Camomila é digestiva, para cólicas menstruais, dor de estômago, intestino. A calêndula é anti-inflamatória. Vivendo e aprendendo, né? Todo dia a gente aprende um pouco”, diz Vanilda Santos, de 42 anos, moradora do assentamento da Fazenda Pirituba, na cidade de Itapeva.

Vanilda Santos: “A capuchinha a gente usa mais para pomada milagrosa, cicatrizante. Camomila é digestiva, para cólicas menstruais, intestino. A calêndula é anti-inflamatória”.

Vanilda é um das cooperadas da Cooplantas, organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST.

Remédios da terra

A cooperativa foi formalizada em 2009, mas o trabalho com plantas medicinais já tem mais de 20 anos, como explica Nazaré Carvalho, de 62 anos, uma das fundadoras da iniciativa. “Quando nós entramos no acampamento, veio uma pessoa de São Paulo e ela fez uma pomada milagrosa aqui. As crianças eram cheias de feridas. Aí começamos a fazer a pomada milagrosa para consumo próprio e a gente começou a trabalhar com plantas medicinais e até hoje. Faz 27 anos já”.


Nazaré Carvalho: “Quando entramos no acampamento, veio uma pessoa de São Paulo e fez uma pomada milagrosa aqui. As crianças eram cheias de feridas. Aí começamos a fazer a pomada….a gente começou a trabalhar com plantas medicinais e até hoje”.

Para Nazaré, esse trabalho é também uma resistência ao poder da indústria farmacêutica. “Na época, os índios, a nossa cultura era com plantas medicinais, e hoje o latifúndio, que são as farmácias, que eu chamo de latifúndio, que gasta muito dinheiro e pobre não tem muito dinheiro para comprar antibiótico, se o antibiótico está aqui no campo”.

Nessas mais de duas décadas, muitas conquistas a partir da organização de mulheres no assentamento. Entre elas, um projeto do Ministério da Saúde que viabilizou uma parceria com a Fundação Oswaldo Cruz, a Fiocruz, a prefeitura de Itapeva e a Faculdade de Ciências Sociais e Agrárias de Itapeva, a Fait, para disponibilizar medicamentos fitoterápicos pelo SUS.

Vívian Ferrari, professora e coordenadora do curso de farmácia da Fait, explica que a iniciativa existe desde 2012 e já trouxe muitos benefícios para a comunidade. “Os medicamentos estão sendo produzidos aqui pelos alunos com esse contato que eles têm com os profissionais de saúde do SUS; e o mais gostoso de tudo isso é participar desse projeto e ver que, na prática, o medicamento está chegando na casa da comunidade, atendendo os padrões de qualidade, identidade, de segurança”.

Vívian Ferrari: “…o mais gostoso de tudo isso é participar desse projeto e ver que o medicamento está chegando na casa da comunidade, atendendo os padrões de qualidade, identidade, de segurança”.

 

As trabalhadoras também iniciaram a construção de uma fábrica de chá para produção e venda em sachê. O local está sendo erguido ao lado de onde hoje é feita a secagem das plantas.

Organização das mulheres

Além dos avanços na estrutura da produção e dos ganhos financeiros para as mulheres, Nazaré destaca a organização das agricultoras como uma das vitórias da cooperativa. “As meninas não são mais exploradas. Ninguém explora. Elas têm a visão de saber o que elas querem. A visão também na casa, o marido ajuda a fazer o serviço na casa, quando ela chega do serviço, então elas têm outra visão. Tem machismo, claro, mas tem mais esclarecimento”.

“As meninas não são mais exploradas. Elas têm a visão de saber o que elas querem”.

O trabalho na cooperativa é dividido em setores: produção, secagem, manipulação, comercialização e direção. Os ganhos com a produção consideram as horas trabalhadas pelas mulheres. Em média, o valor é de R$ 500, mas a meta é alcançar um salário mínimo. (Do Saúde Popular)

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