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A origem da Feijoada e a releitura brasileira

Desvendando a origem da Feijoada

.Por Murilo Gagliardi.

Se você achava que a Feijoada era uma criação dos escravos, na senzala, lá nos tempos coloniais, e que era feita com os restos descartados do porco (pés, orelhas e rabo) pela casa-grande, está na hora de você mudar seus conceitos… Antigamente não havia esse paradigma de que essas partes do porco eram “restos”. Elas eram consideradas nobres, até mesmo a cabeça, focinho, língua, que hoje muitos desprezam. Os portugueses trouxeram ao Brasil, durante a colonização, receitas que tinham como matéria-prima justamente essas partes do porco.

A alimentação na época era muito pobre no geral, pois a agricultura e o transporte dos alimentos eram bem deficientes. Sem contar os altos preços dos alimentos que vinham de Portugal. Os séculos 16 a 18 foram marcados pela escassez de alimentos, dessa forma não podia ter desperdício. Com isso a dieta no geral era basicamente composta por feijão, carne seca, milho, coco e banana – sem contar o famoso “angu”, que era uma mistura de farinha de mandioca com água. Termo que usamos hoje pejorativamente quando nos referimos às misturas simples de ingredientes, sem tempero e consequentemente sem sabor.

Como a Feijoada não foi inventada pelos escravos, a ideia de que ela é uma invenção 100% brasileira deve ser descartada também. Os índios e negros não tinham o costume de misturar o feijão com a carne. Sua origem é europeia, vinda do Império Romano. Ela foi provavelmente uma releitura/adaptação de cozidos portugueses que misturavam carnes e grãos, como o Cassoulet Francês (ensopado de feijão branco com linguiça, carnes de boi, carneiro, ganso, pato ou galinha). O que faz com que ela seja considerada brasileira, seria o uso do feijão preto, que foi implantado à nossa cultura gastronômica pelos negros, vindos da África.

Com a Feijoada consolidada, seus acompanhamentos e guarnições foram surgindo no século 19: Arroz branco, Farofa, Couve refogada, Torresmo, Mandioca frita, Pastel, Caipirinha, Laranja entre outros. Estudos indicam que a Feijoada foi oferecida publicamente, pela primeira vez, no G. Lobo, que foi um restaurante no Rio de Janeiro, fundado no mesmo século. Não temos como negar que o feijão preto não seja uma preferência carioca. A receita teria migrado da cozinha do G. Lobo para outros restaurantes da cidade, bem como também: São Paulo, Minas Gerais e Bahia.

A Feijoada tornou-se uma preferência nacional e é considerada o primeiro prato brasileiro para a maioria da população. Inserida popularmente às quartas e sábados nos cardápios dos restaurantes, ela está espalhada por todo o Brasil, como a receita mais representativa da Cozinha Brasileira, considera hoje não apenas como um prato, e sim, refeição completa.

Murilo Gagliardi é Ceo do site Sabor à Vida Gastronomia

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