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Pobreza contribui para o desenvolvimento de distúrbio psicótico na população

A pobreza gerada pela desigualdade social e econômica do capitalismo, assim como outros fatores, contribuem para o desenvolvimento de transtornos mentais que incluem esquizofrenia, transtorno afetivo bipolar e depressão com sintomas psicóticos – como alucinações, ideias delirantes e desorganização do pensamento.

É o que indica uma pesquisa feita por um consórcio internacional que estimou a incidência do primeiro episódio psicótico na Inglaterra, França, Holanda, Espanha, Itália e também no Brasil.

Além da situação socioeconômica baixa, homens jovens, minorias étnicas (normalmente de inferior poder socioeconômico como os imigrantes) e usuários de maconha na adolescência têm maior propensão para apresentar um primeiro episódio psicótico.

Um dado importante da pesquisa foi revelar a proeminência de fatores ambientais (por exemplo, situação econômica). Isso contradiz a ideia de que os transtornos mentais têm origem exclusivamente genética.

“O estudo confirmou que a incidência do primeiro episódio psicótico varia muito entre grandes centros urbanos e regiões mais rurais e indicou que os fatores determinantes centrais para essa grande variação são, provavelmente, ambientais. Até o fim do século 20, acreditava-se que os principais fatores etiológicos [origem e causa] de transtornos psicóticos seriam genéticos, mas os dados do estudo apontam que os fatores ambientais desempenham um papel muito relevante”, afirmou Paulo Rossi Menezes, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP). Ele coordenou a pesquisa com Cristina Marta Del Ben, professora do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP.

A pesquisa corrobora um outro levantamento, feito em 2013 com dados do Censo do IBGE de 2010, que revelou que das mais de 2,4 milhões de pessoas com problemas mentais permanentes acima de 10 anos no Brasil, 82,32% são pobres.

Os pesquisadores identificaram 2.774 pacientes que apresentaram um primeiro episódio de transtornos psicóticos, dos quais 1.578 eram homens e 1.196 mulheres, com idade média de 30 anos. As análises dos dados indicaram uma variação de oito vezes na incidência dos transtornos psicóticos entre as áreas estudadas.

O estudo também apontou que há maior incidência de primeiro episódio psicótico em homens de 18 a 24 anos em comparação com mulheres na mesma faixa etária, o que confirma um dado relativamente consistente na literatura, disse Menezes.

Os pesquisadores também constataram alta incidência de primeiro episódio psicótico em minorias étnicas e em áreas com menor porcentagem de casas ocupadas por seus proprietários.

“Isso sugere que as condições socioeconômicas das pessoas e do ambiente onde vivem têm papel importante na etiologia dos transtornos psicóticos. É preciso compreender melhor os mecanismos envolvidos para explicar a variação da incidência desse problema entre populações”, avaliou Menezes.

Experiências traumáticas na infância e experimentar maconha na adolescência ou início da vida adulta, por exemplo, são fatores que aumentam o risco de transtornos mentais, segundo Menezes. “Se conseguirmos identificar os fatores de risco para o desenvolvimento desses transtornos mentais em populações mais vulneráveis, é possível intervir para diminuir a incidência”, disse Menezes. O artigo pode ser lido por assinantes do JAMA Psychyatry. (Carta Campinas com informações de divulgação)

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